Ficar ou correr? romance Capítulo 104

Após tratar de todos os papéis que necessitavam da minha assinatura, entreguei os documentos para o Armando. João havia entrado na sala de cirurgia. Armando não pareceu satisfeito quando lhe entreguei a papelada.

"Scarlett, qual é o significado disso?”

"Não está claro?” Olhei para ele, as sobrancelhas enrugadas. "Fiz tudo o que é exigido de mim, por isso não acredito que minha presença seja necessária.”

"É assim que você desempenha seu papel como esposa?”, ele vociferou. "Seu marido está sendo operado e você está aqui pensando em ir embora. É assim que uma esposa deve se comportar?”

Toda a situação era ridícula. Olhei para Rebeca, que soluçava no canto, e me virei para Armando. Eu ri. "Devo dizer que não sei qual seria a reação de outras esposas se descobrissem que seu marido e sua amante se envolveram em um acidente de carro. Mas, no meu caso, o fato de me recusar a adiar a cirurgia dele é o maior ato de bondade que lhe posso dar. Para ser honesta, se não fosse pelo meu filho ainda não nascido, não teria assinado nada.”

"Scarlett, você é uma mulher vil!” Rebeca entrou na minha frente antes que eu pudesse responder.

Eu acenei com a cabeça, olhando para seu rosto retorcido. "Sim, acho que sou bastante cruel, mas isso não é suficiente. Devia ter rezado para que morressem juntos naquele acidente de carro, como o casal de amantes que são.”

"Scarlett, você não tem coração?” Armando me repreendeu. Ele não suportava me ver falar assim com Rebeca.

"Aparentemente não!” Qualquer outra coisa que eu dissesse seria considerado irônico. Olhei para a sala de cirurgia, com as luzes acesas, depois me virei para sair do hospital.

Eram três da tarde quando regressei à empresa. Sarah trouxe os documentos da AC e disse:

"Sra. Machado, a auditoria da AC foi revisada, mas o Sr. de Carvalho não está no escritório. Pode assiná-la?”

Olhei para ela e, durante algum tempo, não disse nada. Ela ficou um pouco aflita pela minha falta de reação, e continuou: "Sra. Machado, estes documentos precisam ser assinados com urgência. Não quero perder o prazo..."

"Felix é seu namorado?”, falei num tom frio.

Ela imediatamente empalideceu. "Sra. Machado..."

"Ele trabalha na AC?”, acrescentei, olhando-a intensamente.

Por um momento, suas mãos começaram a tremer, mas ela permaneceu em silêncio, e mordeu o lábio. Eventualmente, baixei a cabeça e suspirei:

"Sarah, gosto de pensar que te tratei de forma justa. Desde o dia em que entrou para a empresa até agora, não importava o que acontecesse, a primeira coisa em minha mente sempre foi conseguir a melhor oportunidade possível para você.” Fiquei em silêncio depois disso. Quando ela não respondeu, continuei, olhando para ela: "A auditoria da Corporação Carvalho é um grande negócio para ambas as nossas empresas. Durante este período, se alguma coisa acontecer à AC ou à Corporação Carvalho, a culpa será da AC.”

"Sra. Machado..."

Continuei falando: "Pegue os dados da auditoria e revise-os mais uma vez. Certifique-se de que não há erros antes de enviá-lo ao gabinete do presidente para ser finalizado. Informar a AC de que a colaboração é um acordo de longo prazo, não algo que dura apenas vários dias. É claro que, se a questão for apenas entre você e a AC, então temos uma solução, e deixarei em suas mãos. Não permita que o problema se agrave ao ponto de os presidentes das duas empresas terem de se sentar e discutir o assunto.”

Quando terminei, pedi que ela saísse. Eu não era burra. Não entendia nada sobre como fazer uma auditoria. Pedro detectou um problema. Ele não me culpou diretamente, mas abordou Armando, indicando que a situação estava relacionada a ele. Armação e incriminação no local de trabalho eram ocorrências comuns. Além disso, Armando nunca concordou comigo. Se ele quisesse perturbar o funcionamento da empresa, causar problemas e me tirar dali, não seria difícil.

Sarah era a minha funcionária. 'Deixava a maioria das tarefas sob a sua responsabilidade.' Se ela decidisse ser um pouco egoísta e ficasse do lado dele, teria de deixar a empresa mais cedo ou mais tarde. Conhecia o caráter dela. Ela só poderia ser motivada por questões do coração. Outros meios se provariam difíceis. Foi tanto uma surpresa, quanto uma coincidência esbarrar com Félix aquele dia. Liguei os pontos, incluí a personalidade de Sarah na equação, e basicamente descobri tudo.

De qualquer forma, não tinha muito o que fazer, e estava me sentindo deprimida, então não havia motivos para eu ficar na empresa. Juntei as minhas coisas e me preparei para partir. Antes que pudesse sair, Heitor, que trajava um terno, apareceu na porta. De braços cruzados, ele olhou para mim e anunciou: "Vamos sair para jantar!"

Franzi a testa. "Eu não quero!”

“Podemos optar por algo grandioso. Que tal um churrasco?” Ele disse enquanto entrava e pegava as chaves do carro na minha mesa. Ir no meu carro vai chamar muita atenção. Precisamos ser discretos, então vamos com o seu."

Revirei os olhos para ele. "Onde?”

Com um sorriso alegre, ele disse: "Venha comigo.”

Eu realmente não queria ir, mas sentia um aperto no peito só de pensar em Pedro e Rebeca, então eu poderia muito bem comer alguma coisa. Não esperava que ele me levasse a uma parte tão humilde da cidade. Ele entrou em uma rua pequena e escura, que parecia ter se desgastado com o tempo. Os muros, sombreados por ipês, eram absolutamente deslumbrantes contra o sol poente.

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