Ficar ou correr? romance Capítulo 105

Não muito depois, ele estacionou o carro e virou-se para mim:

"A próxima rua é estreita o suficiente para duas pessoas atravessarem ao mesmo tempo. Então vamos sair aqui e caminhar.”

Saímos do carro. Como ele havia dito, a rua era realmente estreita, do tamanho certo para duas pessoas. Em contraste com o sol poente, os ipês brancos, nos muros cinzentos, iluminaram-se intensamente.

"Que lugar maravilhoso. Como o encontrou?" Passara tantos anos em Augusta, mas nunca estivera ali.

A rua parecia ser bastante antiga. Ele vagarosamente enfiou as mãos nos bolsos laterais:

"Encontrei, por acaso, há alguns anos. Este lugar foi construído no meio do século vinte. Augusta foi, originalmente, construída sobre a água, onde a maioria dos prédios eram feito com paredes brancas e azulejos pretos. É quase impossível de se encontrar uma rua tão profunda como esta no sul."

Assenti, concordando. O lugar realmente tinha uma arquitetura mais parecida com o norte da cidade. Ele olhou para mim com seus olhos brilhantes.

"Esta rua foi construída pelo Marechal local, para sua esposa. Tem mais de mil metros de comprimento e mais de quinhentos centímetros de largura. Muitos casais gostam de vir aqui."

"Parece romântico."

Os ramos, em ambos os lados das paredes, mudaram gradualmente de ipês para rosas. As rosas estavam belamente aparadas, e esbanjavam sua beleza em plena floração, criando um cenário maravilhoso. Se alguém de mau humor entrasse naquela rua, sairia dali feliz.

"É.” Ele falou, dando de ombros

Nos tempos de faculdade, Márcia e eu, concordamos que ganharíamos muito dinheiro e viajaríamos pelo mundo juntas. Queria explorar o mundo, viver outras culturas, e testemunhar os vestígios deixados pelos nossos antepassados. Não tenho certeza do que aconteceu, mas, depois de me formar, esse sonho foi enterrado. Cedemos à dura realidade, e à sociedade, esquecendo dos nossos sonhos...

"Scarlett!" Heitor me chamou abruptamente. Voltei a realidade e olhei para ele.

Ele estava um pouco longe de mim, segurando seu telefone. Ao encará-lo, pude vê-lo sorrir enquanto tirava fotos de mim.

"É uma pena que você não tenha seguido a carreira de modelo. Você é muito fotogênica."

Sabia que ele estava tirando fotos minhas, mas não me dei ao trabalho de mostrar que estava ciente. Perguntei sobre as rosas:

"Elas crescem durante o ano todo?"

"Isso mesmo.” Ele assentiu. “Elas não têm estações, e estamos no sul, onde o clima é ideal para esse tipo de flor crescer, por isso elas florescem o ano todo."

É esplêndido!

Caminhamos sob o pôr-do-sol, desfrutando da calma e do conforto que aquele lugar proporcionava.

Ele guardou seu telefone no bolso, me olhou de relance e perguntou forma ríspida:

"Por que o Pedro?"

Parei de súbito e respondi:

"Não tinha de ser ele."

Coincidentemente, eu o conheci quando era mais jovem, e me apaixonei. Por isso, ele se tornou indispensável para mim.

Ele parou de súbito, se colocando na minha frente, seu rosto sério.

"Você vai deixá-lo eventualmente, certo?”

Não pude conter uma risada enquanto o empurrava para o lado.

"Quem sabe o que o futuro reserva", disse.

E daí se eu o deixasse? Seria melhor se não conhecêssemos nosso grande amor tão cedo. Caso contrário, seria impossível superá-los pelo resto de nossas vidas, e acabaríamos por decepcionar aqueles que poderiam nos amar melhor.

Sem perceber, chegamos ao fim do caminho. Abria-se para uma rua movimentada com várias barraquinhas de comida lotadas. Muitas pessoas usavam roupas simples, caminhando pelas ruas alegremente. Finalmente chegamos ao nosso destino depois de andarmos um pouco mais. Já estava ficando escuro.

"Você não se incomoda em passar um tempo comigo, num quiosque de beira de estrada, se incomoda?" Heitor encontrou um lugar para nos sentarmos.

"Se eu disser que sim, vamos para outro quiosque?"

"Muito bem, vamos então." Disse ele, se levantando.

Puxei-o de volta para o seu lugar e passei-lhe o cardápio.

"Não gosto de comida picante, mas estou bem com todo o resto.”

Ao perceber que eu tinha escolhido alguns pratos, ele puxou uma cadeira ao lado da minha e riu:

"Sabia que você era diferente das outras meninas.”

"Como assim?” Ri, olhando para ele.

Ele fez seu pedido e explicou:

"A maioria das garotas acredita que comer em um quiosque na beira da estrada é degradante. Elas não estão dispostas a tentar porque associam esses lugares à falta de higiene."

Olhei para ele por algum tempo antes de responder com sinceridade:

"E o que te faz pensar que eu não acho que comer aqui é degradante? Ou que eu não me importo com a sujeira?”

"Você realmente acha isso?” Indagou, boquiaberto.

"Isso importa?” Tomei um gole de água e dei um leve sorriso. "Sem nenhuma explicação, você trouxe uma amiga para este lugar. Ou você a está testando, ou você gosta tanto da comida que simplesmente sentiu vontade de compartilhar este momento. São duas coisas diferentes. Se for o primeiro caso, independentemente da reação da mulher, vocês não têm muito em comum. Se for o segundo caso, bem, então aproveite, pois não existem muitas pessoas que podem compartilhar belos momentos assim."

Ele se virou para mim.

"E você? E se o Pedro perder tudo, você ainda irá amá-lo? Se ele não for mais o presidente da Corporação Carvalho."

"Não há 'e se' na vida." Cortei-o. O garçom se aproximou trazendo nossos pedidos.

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