Ficar ou correr? romance Capítulo 427

Ele abriu os olhos turvos devagar e os fixou em mim. Perguntou-me: “Está brava?”

Neguei sem muita emoção. “Na verdade, não. Beba um pouco de água e descanse.”

Não consigo fingir indiferença, embora não sinta mais nada por ele. Afinal, nos amávamos.

Fui para meu quarto.

À medida que o suave sol da manhã despontava, seus raios suaves envolviam e inundavam entre a densa névoa que envolvia a cidade.

Se alguém subisse a montanha ao amanhecer, poderia vislumbrar uma vista hipnotizante diretamente da terra dos sonhos.

Acordei cedo. Suelen tinha que ir à escola. De pé diante do espelho do banheiro, observei o reflexo do meu rosto. Quando foi que minha queixas desapareceram?

Talvez tenha sido quando deixei tudo para trás e vim para cá. Na verdade, foi onde me curei.

Pedro já havia acordado. Parecia perdido em pensamentos parado sob a amendoeira.

Dei uma olhada, mas não o incomodei.

Ele se virou e me chamou: “Você acordou.”

Assenti. “O que quer comer?”

“Qualquer coisa.”

Sem dizer muito, senti que estava ficando cada vez mais equilibrada com o passar dos dias.

Suelen ficou surpresa ao vê-lo e perguntou com inocência: “Há quanto tempo. Por que está aqui na minha casa?”

Crianças sempre diziam coisas caricatas.

Pedro abriu um sorriso. “Não tenho uma casa para ir.”

Sua resposta não intencional foi bastante sugestiva, como se quisesse que eu lesse nas entrelinhas. Não levei a sério. Com o passar dos anos, meu coração se tornou uma poça de água onde nenhuma brisa conseguia criar uma onda.

Suelen era muito tagarela e continuou com as perguntas estranhas.

Ele respondeu a todas com paciência.

Então voltou-se para mim e disse: “Os assuntos no hotel estão quase acabando e vou voltar para Nova Itália em alguns dias.”

Assenti e não continuei a conversa.

Ele me encarou e disse: “Cuide-se.”

Júlio veio buscá-lo. Quando partiu, não disse nada além de reiterar o pedido para que eu me cuidasse.

Me despedi com o coração calmo. Assim, ele veio e se foi.

A presença de meu tio foi como uma lufada de ar fresco para a cidade. Sérgio perdeu o cargo, enfim.

“Deve ser uma sugar baby!”

Contanto que seja inofensivo, não se importe. Quem, ao longo da vida, não foi alvo de fofocas ou boatos sem fundamento?

Quando voltei ao meu escritório, meu tio ligou para informar que queria visitar a cidade. Tudo estava quase resolvido.

O vice-prefeito vinha segurando as rédeas há alguns dias. Tudo voltaria à normalidade quando o novo prefeito assumisse o cargo.

Me despedi do meu tio, que iria embora, já que seu trabalho ali tinha acabado. E como não havia aeroporto em Passo Largo, teve que ir de carro até a cidade.

Trocamos algumas palavras antes de nos despedirmos.

Tudo aconteceu rápido e, assim, voltamos à rotina. Eu me senti tão irreal como se ninguém tivesse aparecido.

Era o festival de verão.

E embora Passo Largo fosse pequena, era um lugar vibrante. Estávamos de folga, então Colin sugeriu visitar um templo famoso nos arredores da cidade. Havia uma boa trilha onde as crianças podiam se divertir e aproveitar o que a natureza oferecia.

O Templo de Lótus estava situado no topo da montanha da cidade. O centro estava cheio de pessoas em busca de alegrias e festividades, o que significava que havia poucas pessoas no templo.

Foi bom começar a jornada no início da manhã, quando as crianças estavam enérgicas e não precisavam de nenhuma ajuda. Rimos e conversamos até chegarmos ao nosso destino.

A estátua da divindade era enorme. Colin ajudou Suelen a acender as velas que havia pegado no balcão. Então a pequena figura de minha filha rezou.

“Veja como ela mostra solenidade. Nem parece uma criança!”, sussurrou o homem e suspirou. “É madura demais para a idade.”

Pressionei meus lábios e olhei para a estátua de bronze. Trinta anos da minha vida se passaram e experimentei parte do ciclo que se estende do nascimento até a morte. Perdi alguns ao longo da jornada.