Ficar ou correr? romance Capítulo 82

Não importa o quão encantadoras suas palavras eram, qualquer coisa que saísse de sua boca era mal intencionada. Contendo meu medo, fingi estar tudo bem e perguntei: "O que você fez com a Márcia?”

Levantando a mão, ele se aproximou e olhou para mim antes de dizer casualmente: "Ela está bem.” Erguendo meu queixo, ele comentou impotente: "Letti, você emagreceu, mas ainda está deslumbrante!”

Abaixei o olhar, recusando-me a falar com ele.

"A família Fernandes é uma das famílias mais antigas desta cidade. Eles produziram muitos líderes militares e políticos importantes ao longo dos anos. No mundo dos negócios então, não há comparação. É melhor ficar perto de mim mais tarde." ele disse num tom ríspido.

Ouvir aquilo fez com que eu franzir minha testa. Cinco anos se passaram desde a última vez em que nos vimos, e me perguntei o que ele havia feito durante todos aqueles anos. Como ele saiu de um hacker para ser alguém que poderia alcançar o topo no mundo dos negócios e na política?

Ainda estava perdida em pensamentos, quando chegamos a uma mansão em estilo europeu. Marcelo desceu primeiro antes de abrir a porta para mim, e conduziu de maneira cavalheiresca. Então, ele sussurrou em meu ouvido: "Certifique-se de segurar meu braço o tempo todo.”

Odiava e temia a sua hipocrisia. Seu sorriso falso era revoltante. Ele sempre foi o tipo de pessoa que apunhalava alguém pelas costas sem nem piscar. Tudo o que ele fazia sempre tinha segunda intenções. No entanto, não tive outra escolha a não ser ouvi-lo. Pegando seu braço, desci do carro.

A mansão era arquitetonicamente elegante do lado de fora, enquanto era decorada por um design mais moderno por dentro. A entrada não levava a um salão, como em qualquer outra mansão, mas sim a um caminho de paralelepípedos que serpenteava por um pequeno jardim antes de chegar ao salão oficial.

Andando de braços dados com Marcelo, andava sem problemas nos meus saltos. Do lado de fora do corredor, vi Pedro parado não muito longe dali. Ele vestia um terno preto com uma camisa branca por dentro. Com golas brancas, cabelos curtos e traços definidos, ele estava deslumbrante. Apenas a sua presença transmitia uma energia viril e forte que, mesmo entre a multidão, ele podia ser facilmente notado.

Finalmente caiu a ficha de que aquela elegante festa era o aniversário de Carmen Antunes. Pedro, assim como outras figuras importantes na Cidade de Augusta foram convidados. Arregalei meus olhos quando percebi que conhecia algumas daquelas pessoas. Eu era a esposa do Pedro, mas estava ali, segurando o braço de outro homem. Ao aparecer daquela maneira, sabia que seria um tapa na cara para ele.

Entrei em um estado de medo e preocupação e de repente puxei o braço. Contudo, Marcelo não era o tipo de pessoa que perderia a oportunidade de atormentar alguém. Agarrando meu braço com força, ele rosnou: "Letti, comporte-se!"

Tudo o que podia fazer era morder meus lábios, à medida em que minhas mãos suavam. Levantando os olhos para olhar para Pedro, percebi, para meu horror, que ele também estava de olho em mim. Ele estreitou seus olhos ao reparar no vestido preto ombro a ombro que eu usava. Pouco depois, ele voltou sua atenção para Marcelo e cumprimentou: "Sr. Machado, já faz muito tempo desde a última vez em que o vi.”

O quê? Eles se conheciam?

Marcelo me puxou para mais perto enquanto sorria: "É verdade, Sr. de Carvalho. Já se passou muito tempo desde o nosso último encontro."

A conversa aconteceu de forma tão natural, que não consegui perceber nada de errado. Pedro olhou para mim e perguntou: "E quem é esta adorável senhora ao seu lado, Sr. Machado?"

"Minha noiva!” A mentira de Marcelo, deixou Pedro claramente chocado. Ele ficou sério e seu olhar ganhou um brilho frio.

Ainda assim, continuou a sorrir enquanto falava: "Dizem por aí que o Sr. Machado não gosta de mulheres. Mas acredito que isso não seja verdade, vendo com meus próprios olhos que tem uma noiva tão bonita."

Marcelo segurou minha mão enquanto sorria. "Não é que eu não tenha interesse em mulheres. Só estava esperando pela mulher certa."

Ao ouvir suas palavras, Pedro ficou perigosamente sério, enquanto repetia o que ele dissera: "A mulher certa..."

Naquele momento eu já estava tomada pelo pânico. Nunca contara a Pedro sobre Marcelo. Por mais que planejasse falar no futuro, mas naquele momento, a situação chegara a um ponto crítico. Tudo o que eu queria naquele momento era que um buraco se abrisse e me engolisse por inteiro. Entretanto, não conseguiria fugir com Marcelo segurando minha mão daquele jeito. Não me atrevi a abrir a boca para negar o absurdo que ele falou.

Estava confusa.

O olhar sombrio de Pedro caiu sobre mim por um momento antes de ele sorrir de repente e perguntar sarcasticamente: "Como devo me dirigir a você agora? Sra. de Carvalho? Ou Sra. Machado?"

Meu coração parou. Puxando meu braço com força para longe de Marcelo, dei um passo à frente e segurei o braço de Pedro, gaguejando: "P-Pedro, eu..."

"Pedro!" Então, uma voz gentil e suave de mulher chamou. Virei minha cabeça e vi Rebeca se aproximar. Ela usava um vestido bege, estilo sereia, que acentuava as curvas de seu corpo. Levantando a saia do vestido com uma das mãos, ela se moveu graciosamente até Pedro e envolveu-o em seus braços. De pés juntos, eles pareciam ser o casal perfeito. Rebeca não pareceu surpresa ao me ver. Sua expressão traiu uma certa antipatia ao me cumprimentar: "Vejo que a Sra. Machado também está aqui.”

Quando notou Marcelo ao meu lado, ela sorriu e disse levemente: "Sra. Machado, ela é... seu amigo?"

Ela propositadamente enfatizou a palavra "amigo" de uma maneira ambígua.

Olhei para baixo e evitei olhar para ela. Fui prudente o suficiente para morder a língua, pois não importava o que eu dissesse, apenas pioraria a situação para mim.

"Letti, vamos entrar." Marcelo olhou para Rebeca com indiferença e desdém. Segurando meu braço, ele me puxou em direção ao corredor.

Para ser sincera, não era que Marcelo não gostasse de mulher, ele apenas sentia nojo delas. Ele sentia isso desde os oito anos de idade. Se não fosse pelo fato de termos crescidos juntos, ele também me odiaria. Sua condição especial era como uma sentença de morte, pois era muito mais difícil de escapar dele.

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