|KAYRA|
Confesso que foi muito difícil ser dura com Deklan, mas era imprescindível, inevitável e necessário. Nesse momento eu não posso pensar somente em mim ou no que sinto por ele, a prioridade são as duas vidas as quais estou gerando. Eu tenho que ter consciência dos meus ato, das minhas atitudes e escolhas que afetarão para sempre o destino dos dois. Meus filhos sempre virão em primeiro lugar. Não há pessoa nesse mundo que possa feri-los, a não ser que antes passe por cima do meu cadáver, do contrário, eu não permitirei que toquem em único fio de cabelo deles. Meus limõezinhos serão muito amados e protegidos bem longe daquela família louca dos Callaham.
-Ei, tia Kayra! Tia Kayra!
A pequena Kath grita assim que seus miúdos olhinhos azuis me veem de longe no corredor do hospital, e sai em disparada soltando da mão da avó, para correr em minha direção lançando-se em meus braços em um abraço caloroso.
-Ei, pequena Kath! Como você está, princesinha?
Eu pergunto me abaixando para encher seu rosto com vários beijinhos de esquimó que a faz se encolher de cócegas e cair na risada.
-Katherine, o que eu disse para você, mocinha? Não corra! Espere por mim.
A rainha diz com as mãos na cintura e a respiração levemente ofegante pela curta corrida atrás da neta saltitante.
-Tá bom vovó, me desculpe.
Kath diz com sinceridade ao olha-la com o sorriso já desfeito, e se vira de volta para mim com um brilho diferente nas pequenas safiras azuis, como eu nunca tinha visto antes, e em seguida faz a pergunta que explica tudo e aperta meu coração.
-Você é a medica que vai salvar o vovô hoje, não é?
É como se eu levasse um soco. Uma uma breve sensação de medo e nervosismo me atinge ao perceber que a pequena Callaham entende o porquê de estar em um hospital e a situação que está acontecendo a sua volta. Ela teme pela vida do avô e sabe que serei eu a pessoa responsável por "cuidar" dele.
Enfim o dia mais importante tinha chegado, o dia em que eu irei operar Dominick Callaham, rei de Bullut, uma das últimas monarquias mais poderosas do mundo que ainda restam, eu concluo, quando finalmente a pergunta da loirinha se assenta no fundo da minha cabeça.
Há um pouco de tensão no ar misturado ao clima de receio. Contudo, por mais que essa seja a coisa mais difícil que farei na minha vida, um procedimento completamente arriscado, perigoso, e de longa duração de tempo, eu estou cem por cento segura da minha capacidade. Confio plenamente em minhas habilidades e experiência de anos, o bastante para saber que estou no caminho certo. Eu não estou sozinha nessa, tenho uma boa equipe de médicos e auxiliares, os melhores que eu poderia selecionar, para me ajudar a realizar o procedimento.
-Eu irei fazer tudo o que posso, Kath. Vou cuidar muito bem do seu avô. Você precisa apenas ficar aqui sentada e pedir ao Papai do céu para me dar uma forcinha lá dentro enquanto eu trabalho, tudo bem? O que acha? Você pode fazer isso por mim? Estamos combinadas assim?
Eu digo dessa forma, na tentativa consolar o coraçãozinho de Kath e acalmá-la por hora , prometendo fazer o meu melhor, mas não garantido ou afirmando nada afim de iludi-la. Eu sei muito bem que pode acontecer qualquer coisa dentro do centro cirúrgico durante uma cirurgia de alto risco e por isso não quero decepciona-la.
-Estamos sim, eu vou fazer isso, tia Kayra. Vou pedir pra Ele te ajudar a curar o vovô mais rápido para que assim ele possa voltar para casa logo. Diga ao vovô que eu já estou com saudades dele.
-Ele está dormindo profundamente agora, meu amorzinho. Como um anjinho depois de ter tomado um remedinho para relaxar. Mas quando despertar eu direi a ele que você mandou um oi, está bem?
Eu explico que Dominick está anestesiado nesse instante de uma forma que ela entenda, e lhe dou um rápido beijo no rosto. Kath balança a cabeça para cima e para baixo em afirmação e me deseja sorte, ao também retribuir o gesto de carinho em minha bochecha. Toda a família Callaham está aqui em peso, a espera, no corredor do lado de fora do centro cirúrgico, momentos antes de eu entrar para realizar a cirurgia do rei. Todos estão nervosos e apreensivos sem saber o que falar ou fazer. Mas eles não podem fazer nada a respeito, de agora em diante tudo depende de mim. Do meu desempenho, da minha responsabilidade.
Então me limito a apenas dizer algumas palavras protocoladas para acalmar a rainha, pois sei que nada do que eu disser realmente irá deixá-la mais tranquila de verdade até que ela veja o marido saindo vivo da cirurgia com os próprios olhos. Contudo, faço a minha parte como uma boa profissional. Entretanto, sequer destino um breve olhar em direção a Deklan ou a Desireé, desejando não me abalar psicologicamente devido ao estresse que me causaram, antes de entrar em cirurgia. Eu simplesmente sigo em frente ignorando a presença de ambos, como se não estivessem de fato ali, e agradeço aos céus pelo pingo de bom senso que os dois têm por não insistirem em falar comigo
***
Os ponteiros do relógio são como um raio, não param de correr. Velozes, impiedosos e fatais. Muitos segundos, minutos e horas já se passaram desde o início do procedimento. Sinto como se minhas pernas pesassem uma tonelada depois de tantas horas ininterruptas de pé. Todo o meu corpo dói em protesto, principalmente minha coluna que parece ter sido atropelada por um caminhão sem freio e dado marcha ré na volta.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Improvável
Amei...