Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 209

Apertei a mãozinha de Melody, instantaneamente. Os olhinhos dela se fixaram nos do irmão, que a pegou no colo, mudando completamente a expressão. Deu-lhe um beijo no rosto e olhou para a mãe, Kelly:

- “Nós” não faremos nada – disse firmemente – Porque a metade da casa é “minha” e não “sua”. Eu não quero. Na verdade, nunca quis nada... Porque dinheiro não vai resolver o meu problema. Quando você vai entender isso?

Kelly ficou incrédula, olhando para o filho, sem reação. Ele continuou, olhando para Melody:

- Esta linda casa é de Medy... – sorriu – Alice... E Sabrina – me olhou – E eu não vou fazer absolutamente nada contra elas... Porque são minha família, tanto quanto você e minha avó.

Deus! Respirei fundo, aliviada. Eu imaginei que um dia Guilherme iria se livrar das garras daquela mulher, que o sufocava com suas vontades sem sentido. O garoto sempre foi inteligente, dedicado e altruísta. Ele me defendeu quando todos me julgaram com o vídeo... Pegou minha mão, me tirando do quase “apedrejamento em praça pública”. Sim, ele tinha bom coração. E sempre amou Melody, mesmo quando não sabia dos laços sanguíneos que existiam entre eles.

- Você não pode... – Ela iniciou, com a voz menos autoritária.

- Sim, eu posso – ele cortou a frase dela – Porque é meu direito e não seu. Eu sou o filho... Você não tem nenhum tipo de parentesco com ele. A relação de vocês foi superficial... E dela eu nasci. Nada além disso... E não me faça acreditar que houve amor, porque eu sei que não teve. Se tivesse, você não faria tudo que faz.

Ele largou Melody no chão e disse:

- Posso ajudá-la a escolher um jogo? Eu gostaria muito de jogar com você antes de ir embora.

Ela sorriu, os olhinhos brilhando de contentamento. Melody entendia tudo... Não tenho certeza se ela se dava em conta da malícia das pessoas, porque era uma criança de cinco anos, puro amor e com um coração inocente. Mas sabia quando não queriam o seu bem... E tinha uma conexão forte comigo, sentindo quando eu sofria ou estava triste.

Guilherme sentou-se no chão, no meio da sala com ela, enquanto os dois escolhiam um dos jogos.

Kelly me olhou. Os olhos claros dela não tinham ódio... E sim perplexidade. Se eu fosse a mãe de Guilherme, naquele momento teria orgulho do meu filho.

Dei de ombros e sentei no chão, junto deles:

- Posso jogar junto?

- Pode, mamãe. Você vai ser esta pecinha vermelha, porque gosta da cor vermelha. Gui vai ser o branco, porque ele gosta de branco, mas não porque o papai gosta... E eu vou ser o azul – pôs sua peça na linha de partida – E este preto eu vou guardar na caixa, que é o papai. Daí outro dia, quando ele estiver, a gente vai jogar junto. Gui, faltou uma peça para Alice! – Ela gargalhou, pondo a mão no rosto, enquanto questionava o irmão.

- A gente pode pegar uma peça de outro jogo para ela, o que acha?

- Gui, que boa ideia! Você é muito inteligente... Acho que puxou a mim.

Começamos a rir. Olhei para Kelly e juro que vi um meio sorriso no rosto dela, embora tentasse disfarçar.

- Quer jogar? – Ofereci.

- Bem capaz... Que vou sentar no chão com minha roupa cara.

Eu ri, balançando a cabeça. Se a desculpa era a roupa, menos mal. Isso significava que se não fosse a isso, talvez ela sentasse no chão com a gente para jogar?

Se eu gostava dela? Não. Mas era mãe de Guilherme e eu faria o possível para manter uma relação respeitosa entre nós duas, por amor a ele. Tudo que eu desejava era que pudéssemos ser, um dia, uma família. Claro que não esperava que de uma hora para outra tudo entrasse nos eixos e Guilherme amasse o pai como se nada tivesse acontecido. Até porque a história deles era bem complicada. Mas eu acreditava, sim, num futuro pacífico. E cheio de amor... Porque isso tínhamos de sobra: eu, Medy e Charles.

Olhei para Guilherme, concentrado no jogo. Um garoto que tinha tudo... Menos amor. Era só isso que lhe faltava. Saber que o amávamos... Sem querer nada em troca.

Assim que acabou o jogo, Guilherme levantou:

- Eu preciso ir agora. – Falou para Melody.

- Eu vou ficar com saudade. – Ela levantou os braços, querendo colo.

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