Meu Homem! Volume 3 da trilogia Doce Desejo. romance Capítulo 25

Na manhã de segunda-feira, Nicole ajeitou os cabelos no espelho do elevador e girou os calcanhares assim que a porta se abriu. O sorriso aumentava à medida que retribuía as saudações amistosas dos funcionários.

Alargou os passos e chegou à sala da diretoria em poucos segundos. O ar-condicionado deixava o ambiente fresco e bem arejado. Tirou os óculos e espremeu os olhos para se acostumar com a claridade.

— Bom dia, Annie!

— Bom dia! — A secretária ergueu a cabeça. — Feliz aniversário atrasado!

Annie pegou um pacote bem embrulhado com um laço de fita azul-claro.

— Não precisava se incomodar! — Abraçou-a.

— Imagina, é só uma lembrancinha!

— Muito obrigada!

Nicole desfez o embrulho e tirou a caixa de um perfume importado da Lancôme.

— Annie, o meu esposo e eu vamos renovar os votos!

— Sério?

— Sim! Na próxima semana, trarei o convite.

— Eu estou lisonjeada, mas receio que o doutor Bittencourt não concorde.

— Não diga bobagens! Eu exijo a sua presença e ponto final.

— O seu pai ficará muito feliz. Já pensou se você se casar no mesmo dia que o Dr. Albuquerque e a Dra. Werneck?

— Como assim? — Nicole franziu o cenho.

Annie colocou a mão enrugada nos lábios, mas já era tarde, falou mais do que deveria.

— Que história é essa?

— É o que todos estão comentando. Parece que o seu pai pediu à Claire em casamento no último sábado.

— Não acredito nisso!

Nicole jogou o perfume e a caixa na bolsa e foi direto para a sala. Andava de um lado para outro no escritório, fixou os olhos em seus sapatos de salto alto e parou como estátua.

— Aquela aproveitadora — resmungou para as paredes. — Quem ela pensa que é?

Afundou na cadeira atrás da longa mesa de cedro e passou a mão na testa, precisava tomar alguma atitude. Pegou a pasta marrom na gaveta do arquivo e avaliou alguns papéis, no entanto, a sua mente estava longe.

Pôs-se de pé e foi até a janela. Ela se lembrava muito pouco das semanas que se seguiram desde quando perdoou o pai. Nas poucas vezes em que estiveram juntos, Henry sempre estava acompanhado por sua saudosa esposa. Agora desfilava com uma mulher que tinha idade para ser sua neta.

Nicole não ficou parada desde o choque que sentiu logo que ouviu a novidade, tanto trabalho e vários outros assuntos para tratar e ela especulava os motivos que levaram uma mulher tão jovem a aceitar se casar com um homem idoso.

Os ruídos das batidas na porta quebraram a sua concentração. Nicole girou a maçaneta prata e deu alguns passos para trás.

— Bom dia! — Cumprimentou a voz animada de Claire.

— Bom dia, doutora! — A testa estava vincada. — Apareceu na hora certa. Entre! — Recuou para que a médica passasse.

Claire ajeitou as mangas curtas do vestido de tecido liso preto. E cruzou as pernas logo que se ajeitou na cadeira.

— Qual é o seu problema, Claire?

— Não compreendi! — Forçou o sorriso.

Nicole encostou na mesa e mirou as sobrancelhas bem feitas da médica.

— O que você quer com a minha família? E não venha me dizer que não é nada. Eu já lidei com duas mulheres que queriam alguma coisa do Alexander assim como você.

— Do que você está falando, Nicole?

— Primeiro, você foi à minha casa sem ser convidada e teceu um comentário sobre o meu esposo.

— O seu pai me convidou. E eu só falei o quanto eu admirava o amor que o Alexander sentia por você. Ele quase morreu para te salvar.

Claire foi até a porta antes de Nicole e pediu para que a secretária trouxesse um copo de água.

— Minha filha, ela não vai tomar o seu lugar.

— O senhor não acha que foi muito rápido? A madame Heloísa se foi recentemente.

Henry pegou o copo de água, sorveu um gole do líquido incolor e mirou o rosto preocupado de Nicole.

— Você tem os seus filhos e a sua família. Eu não tenho ninguém.

— E quanto a mim?

— Nicky, você cuida de quatro crianças, de um marido que precisa do seu apoio e desta empresa. Está sobrecarregada e precisa descansar.

— Por que ela, pai? — indagou com lágrimas nos olhos.

— Claire assinará um acordo pré-nupcial. Aliás, ela concordou em auxiliar o Ricardo na administração do hospital quando você viajar com Alexander.

O homem com bolsas ao redor dos olhos contemplou a bela mulher esguia.

— Eu não estou com seu pai por interesse se é o que você está pensando. Sempre gostei de homens mais velhos e eu realmente amo o seu pai.

Nicole levantou a cabeça para olhar a mulher que falava.

— Minha família tem posses e, além disso, eu conquistei tudo o que tenho com o meu trabalho. Quanto ao comentário que eu fiz sobre o Alexander, eu peço desculpas. Eu admiro você pela sua força e por apoiar o seu marido em um momento tão complicado.

— Espero que vocês consigam se entender porque não quero ver a minha futura esposa e minha filha brigando durante o expediente de trabalho.

— Nós estávamos conversando. — Nicole massageou os ombros do pai e sorriu para Claire.

Se em algum momento Nicole julgou mal as intenções da médica, ela chegou à conclusão de que Claire poderia ser uma boa companhia na velhice de seu pai. Sentiu-se estúpida porque ficou na defensiva, não que ela não tivesse motivos para desconfiar, mas depois de tudo o que aconteceu nos últimos anos, ela virava uma leoa para proteger os negócios e a família.

Depois que Henry e Claire se retiraram, ela fitou os papéis espalhados na mesa e parou novamente diante da janela. Vislumbrava os jardins e as folhagens das árvores. Observou a cadeira de diretora-executiva e, a certa altura, questionou a si mesma se realmente desejava aquilo, não queria ser como Sophie Bittencourt.

Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva.