"Você...Que desgraça é essa de que você está falando?!"
Chami nunca poderia imaginar que o seu filho dissesse uma coisa dessas. Nem no pior dos seus pesadelos.
Uma coisa é a rebeldia habitual de Lourenço, mas isso já é uma absoluta falta de respeito para Afonso.
Ele não pensava que o filho o acusaria assim, na frente de todos.
"Qual é o problema de um homem rico e poderoso ter quantas mulheres desejar? Por acaso eu as tratei mal? Faltou dinheiro?"
Ainda mais Eugênia, que herdou até o nome de Sra. Mu.
Aquela mulher não tinha do que reclamar.
De uma hora para outra, ela se tornou a matriarca da Família Mu. Mas a ingrata e insatisfeita ainda foi encontrar outro homem.
Felizmente essa mulher se foi, para sorte do Chami.
Caso contrário, quantos enfeites na cabeça ele ainda teria que carregar?
"Acha que basta o dinheiro para despachar uma esposa?"
O rosto de Lourenço parece uma montanha coberta de gelo.
Não há raiva nem desprezo. Há apenas frieza.
"Você..." Chami aponta para Lourenço com tanta raiva que os seus dedos chegam a tremer.
"Eu sou seu pai!"
"Então meu pai não é homem?"
"O que você quer dizer com isso?
"A lealdade ao casamento é o dever fundamental de um homem. Se é incapaz de fazer isso, por que pediria à sua mulher para ser leal ao senhor?"
"Mas você..."
"Por que há tantos herdeiros na nossa família Mu?"
Lourenço ri, mas é uma risada que só carrega frieza.
"Eu, Manoel, Fábio, Jaime... Cada um de nós tem uma mãe diferente. Quantas mulheres o senhor tem lá fora? Não dá nem para contá-las."
"Já chega!" De repente, Afonso espalma a mão no braço da cadeira. Seu rosto está de um desgosto indescritível.
Tirando Manoel, que continua atarantado, e Lourenço, com a frieza de sempre, os demais presentes estão espantados.
A fúria do Sr. Afonso deixa a todos sem fôlego.
Mas o predestinado Lourenço não tem sentir medo de ninguém.
Foi o próprio Afonso quem cultivou nele esse temperamento.
Ele apenas responde: "Não chega."
"Moleque! Você ainda quer ..."
"Eu só quero dizer que, quando se é infiel, não se pode culpar o outro lado por traição. Homem, mulher, é a mesma coisa."
Mesmo que Afonso fique com raiva, Lourenço insiste e não arreda pé de suas ideias.
É este o jovem Lourenço Mu!
O encontro com esse olhar indiferente, mas firme, deixa o Afonso simplesmente sem palavras.
De repente, surge até uma espécie de dúvida.
Será que todos os valores nos quais ele insistia eram certos? Ou estariam errados?
No final, ele franze o cenho, mas seu tom já é mais suave.
"Eu falei, seu moleque. Com as mulheres, você pode mimar, mas de forma alguma não pode..."
"O amor não entra aí. É a mera responsabilidade em ser homem."
Ele não olha para o avô, apenas para o próprio pai.
"Se você não a ama, pode até se casar com ela, mas, uma vez casado, deve ser justo."
"Se você não consegue fazer certas coisas, não espere que a outra parte o faça. Se quer ter a consciência tranquila, aja por direitos iguais."
Chami está tremendo.
A sua esposa o traiu com outro homem!
Mas o seu filho ainda acha que essa mulher não estava errada!
O que ele havia tomado para se mostrar tão cego diante da realidade?
Mas Lourenço não pretende convencê-lo.
Tentar persuadir os outros é a maior bobagem, na verdade.
Ele apenas expõe as próprias ideias. Eugênia não estava errada nesse ponto.
Mas ela ainda é a assassina de matar sua avó.
"Pare de cavar o lago em Casa Guarantã."
Seu avô tem andado um tanto apagado ultimamente.
Alguém morreu na família. Por mais que ele e Eugênia não fossem de se falar, o mínimo era demonstrar algum sentimento.
Aconteça o que acontecer, eles são todos de uma família.
Eugênia sempre soube se portar com tranquilidade no lar.
Ainda que ele estivesse aborrecido com a traição dela ao seu filho, ela agora está morta.
Não vale a pena continuar brigando por esse assunto.
Lourenço não diz mais nada.
A escavação no lago serviria para revelar o assassino.
Mas a assassina confessou o crime e se matou.
Ele não é uma pessoa teimosa. Se esse assunto continuar mal resolvido, vai afetar não só o preço das ações do Grupo Mu, mas também a reputação da família como um todo. E provavelmente não trará bons frutos.
"Por favor, Lourenço, pare de procurar."
Manoel caminha até Lourenço e se ajoelha em um forte suspiro.
"O que está fazendo, Sr. Manoel?"
Marcos corre para ajudá-lo a se levantar.
Mas ele não quer, e o empurra.
"Por favor, não investigue mais. Deixe que ela continue a ser a matriarca da Família Mu, deixe que ela...descanse em paz."
Após a investigação, o escândalo da traição da Eugênia certamente será exposto.
Já está morta, e Manoel tem muito medo de que isso destrua a memória da mãe.
Os olhos de todos estão vidrados em Lourenço.
Foi ele quem ordenou a escavação no lago de Casa Guarantã.
É ele quem tem que pedir para parar.
Na verdade, Lourenço também está em conflito. Se ele não terminar de cavar, a impressão é de que fica algo nebuloso e sem resolver.
E, no entanto, continuar esse assunto arruinaria muito mais do que apenas a reputação da Família Mu.
Isso arruinaria a vida de Manoel para sempre.
Quando acontece de uma mãe de família abastada ter outros homens, esse evento caiu as pessoas ricas e perigosas, a discussão logo toma outro rumo.
Começa-se a se questionar se o filho tem mesmo a pureza do sangue.
Ele aperta o lábio inferior e se levanta de uma vez.
"Vá descansar."
"Irmão... "
"Este assunto para por aqui."
Depois que Lourenço sai, Manoel se senta no chão, sem saber se dá um suspiro de alívio ou tenta recobrar o fôlego.
Finalmente morreu o assunto.
Mas, de agora em diante, ele está órfão de mãe.
Da mulher que pensava nele a todo instante e estava sempre ao seu lado.
Por mais que ele estivesse sempre arredio e mal-humorado, ignorando-a, ela nunca o abandonou. Era sempre tolerante e nunca procurou brigas com ele.
Se o perguntar quem o ama mais nesta vida, com certeza será ela.
Para sempre será a sua mãe.
E agora a mulher que mais o ama se foi...
Não sobrou mais ninguém que o ame.
Vendo o filho sentado no chão, Chami quer ajudá-lo, mas inexplicavelmente lhe falta a coragem.
Será que o filho vai passar a odiá-lo?
Agora mesmo ele se exaltou e fez duros xingamentos a Eugênia. Mas, vendo o filho desse jeito, a raiva desapareceu de repente.
A maior parcela de culpa recai, de fato, sobre a própria consciência.
Como bem disse, Lourenço, não há apenas uma mulher na vida dele.
Mas ele ainda tem que acusá-la e ganhar no grito.
Se ele não a acusar, fica parecendo que a culpa é toda dele.
E, no entanto, o aspecto decadente de seu segundo filho...
"Sr. Manoel." Marcos ainda tenta ajudá-lo: "Levante-se, por favor. No chão está frio."
Manoel continua ignorando-o. De olhos vazios, ele nem sabe em que está pensando.
Talvez em nada.
Na sua mente e no seu coração, só há um pensamento.
A mulher que mais o ama no mundo se foi.
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