Nossa Vida a "Três": Muito Apertado! romance Capítulo 477

Eu queria perguntar a Otávio por que ele estava aqui, mas só conseguia mascar minha boca, sentindo minha garganta dolorida e quase fumegante.

Otávio, por sua vez, não parecia com pressa de falar. Com um semblante sombrio, acendeu um cigarro.

Desde que se recuperou e voltou a aparecer em público, ternos e calças pretas se tornaram sua marca registrada.

Será que Sófia não escolhia mais suas roupas? Ele parecia uma sombra gigantesca, trazendo à tona memórias ruins e a sensação de impotência que senti quando Estela nasceu prematuramente.

Com um aperto no coração, cerrei os punhos atrás de mim.

Escondi toda a minha hesitação e o olhei com um sorriso sutil, "Sr. Barcelos, a sua empresa está enfrentando dificuldades e você quer que eu te ajude com algum processo? Invadir a casa dos outros assim não é muito apropriado, não é?"

Otávio não mostrou muita expressão, fixando o olhar na fumaça que saía entre seus dedos. Deu uma tragada profunda e soprou a fumaça para o lado.

Não sei se era o vento que se enroscava na fumaça ou a fumaça que não queria deixar o vento, mas elas se entrelaçavam e subiam, dissipando-se rapidamente.

De repente, senti uma pontada de melancolia. Esse reencontro silencioso não fazia jus ao nosso esforço meticuloso para nos encontrarmos no passado.

Otávio finalmente falou, "Você e Antônio não estão morando juntos?"

Fiquei surpresa, percebendo que talvez nossa interação no jantar tivesse dado a ele a impressão errada.

Mas, pensando bem, não era bem uma impressão errada. Eu estava solteira, e Antônio também. Se algo realmente acontecesse entre nós, seria natural.

Não me importei em deixar essa "impressão errada" se aprofundar, "Estou com saudades do camarãozinho daqui. Antônio foi comprar algo para comermos. O Sr. Barcelos veio procurá-lo?"

Otávio franziu a testa, quase deixando escapar uma palavra de preocupação. Ele nunca tinha sugerido que Elvira comesse esse tipo de coisa antes.

Mas quase se esqueceu, ela agora pertencia a outro.

"Eu nunca comprei lanches noturnos para você."

Otávio quebrou o silêncio de novo.

Meu coração apertou, como se tivesse levado um soco no escuro. Não conseguia localizar o inimigo, mas sentia sua presença por todos os lados, perigosa.

Meu tom era indiferente, "Diretor Barcelos, nunca foi um lanche noturno que tocou alguém. Já faz tempo que não nos vemos, mas não posso oferecer muita hospitalidade. Beba um copo d'água e vá, não posso te manter aqui."

No escuro, servi-lhe um copo d'água, sem ousar acender a luz, temendo que Estela acordasse e visse a pessoa embaixo, ou que a pessoa embaixo visse Estela.

Otávio nem tocou no copo d'água.

Apoiando as mãos nos joelhos, soltou um sorriso carregado de sarcasmo, "Vejo que a Diretora Gattas deixou de lado um cargo de presidente para defender Antônio em processos no exterior. Dois processos que duraram três anos, é algo que realmente toca qualquer um."