O Delegado (Duologia os Delegados vol1) romance Capítulo 6

Antonella

Depois daquela noite em que eu conheci o gostosão do delegado, não conseguia parar de pensar nele. Sentia até um leve tremor só de pensar naquelas mãos em mim. Esse homem era um perigo para minha sanidade, era melhor eu nem chegar perto dele, se bem que qual homem iria querer ficar com uma mulher gordinha como eu? Sei que eu não deveria ficar me menosprezando, mas a sociedade em que vivemos é cheia de preconceitos, com certeza muitas mulheres já passaram por isso. Eu sei que eu já, e muitas vezes.

Antes de eu ser famosa, gostava de ouvir a música da Claudia Leite, aquela chamada Famosa. Antes era assim, eu ia ao shopping e entrava em uma loja, todo mundo me olhava de cima abaixo, e vice-versa, como se dissessem: O que essa gorda está fazendo aqui? Será que é para comprar roupa para ela? Pois é, eu sempre passei por situações em que às vezes eu queria jogar tudo para o alto e fazer loucuras.

Uma coisa que eu nunca comentei com os meus pais foi que tentei me matar. De várias formas diferentes. Vou resumir: primeiro, eu sabia que era gordinha e queria emagrecer, então eu comecei a induzir vômitos. É claro que, se meus pais soubessem disso, eles realmente teriam me matado. Mas eu fui fraca, comecei a comer e a vomitar, jogando toda comida para fora. Cheguei ao ponto em que comecei a emagrecer e as meninas que se diziam minhas “amigas” me parabenizaram. Eu queria ser modelo, então elas diziam: Para ser modelo, você tem que ser magra, Antonella.

Bom, enfim eu consegui as amigas que tanto queria, mas no final acabou com a minha saúde. Acabei desmaiando na sala de aula e, quando voltei a mim, encontrei meu irmão do meu lado, furioso e brigando com todos ao ficar sabendo o que eu tinha aprontado.

— O que você fez, Nella? — ele me perguntou, angustiado, passando as mãos pelo cabelo, tentando se controlar, mas eu percebia na expressão dele que ele estava em choque, no mínimo.

Davi nunca deve ter imaginado que a sua irmãzinha tinha feito isso por causa de influência. Sabia que estava errada em fazer isso, só que não dava mais, eu queria ser famosa, modelo, e para isso eu faria qualquer coisa.

— Eu queria ser magra — respondi, com dificuldade. Eu me sentia fraca.

— Você é linda desse jeito, minha irmã — Davi me disse.

Sempre foi assim, ele sempre me dizia que eu era linda, mas eu não me achava.

O médico entrou, me examinou e me disse que dentro de algumas horas eu poderia ir embora. Davi voltou a tocar no assunto, mas eu sempre desviava. Para mim, eu estava certa e faria qualquer coisa para ser magra, e, quando eu digo qualquer coisa, era qualquer coisa mesmo, inclusive loucuras como essas. Mas antes eu tive que implorar para o Davi não contar para os meus pais.

Nessa época, eu estava com 15 anos e era muito influenciável por tudo e por todos. Meu irmão chegou a ir à escola para tomar satisfação com as minhas amigas, o que no final acabou não sendo nada bom. Elas ficaram sem falar comigo durante um bom tempo, afinal meu irmão tinha feito um escândalo tão grande, que os pais delas, ao saberem o que tinha acontecido, levaram-nas ao médico.

Porém, eu sempre quis emagrecer e me sentir bonita, então comecei a fazer do jeito certo, com academia e dietas, afinal eu queria ser modelo. Eu estava emagrecendo e cheguei a ir a uma agência de modelos, e eles disseram que eu tinha o perfil certo. Pensei: eu sou uma pessoa de muita sorte, eu tinha o rosto e o corpo perfeitos. Naquele mesmo dia, fiz um teste do qual passei com louvor. Corri para minha casa e falei com os meus pais o que tinha acontecido comigo. É claro que eles ficaram felizes, afinal a filhinha deles iria se tornar uma grande modelo.

Assim, foi passando o tempo, e eu comecei a emagrecer mais rápido, minha família começou a notar que eu andava pálida, me perguntavam o que eu tinha. É claro que menti, e como menti! Eu comia com eles e, quando ficava sozinha, ia para o banheiro e induzia o vômito.

Eu acabei ficando doida com coisas para emagrecer, achava que estava gorda, mesmo já estando bem magra.

Enfim, a história da minha adolescência foi assim, eu fiquei bem ruim, voltei a passar mal de novo e dessa vez acordei em um hospital depois de cinco dias internada. Eu estava tão fora de mim, que tive que ser mantida amarrada.

— Onde eu estou? — perguntei, vendo que havia uma enfermeira do meu lado.

— Que bom que a senhorita acordou — ela falou, contente.

E eu ali sem saber de nada, tentando lembrar o que tinha acontecido e mais nada. Tudo para mim estava em branco, era como se minha mente tivesse apagado tudo o que tinha me acontecido. Reparei que a enfermeira abriu a porta e saiu. Logo em seguida entrou meu irmão, pálido.

— Oi, Davi, o que eu estou fazendo aqui? — perguntei, ansiosa.

— Me diga você, Antonella. O que está acontecendo?

— Eu não sei, só sei que estou numa maca amarrada como uma louca, e com certeza estou dentro de um hospital, ou não? — respondi, irônica.

— Bom, Nella, por que você está tentando se matar? — perguntou, com os olhos tristes.

— Peraí, me matar não — eu respondi, rápido.

— Sim, se matar. Poxa, Nella, a gente te encontra desmaiada no seu quarto e você me diz: me matar não? — ele estava nervoso. Eu nunca tinha visto meu irmão ficar daquele jeito, eu devo ter feito algo bem sério mesmo.

— Cadê nossos pais, Davi? — perguntei, ansiosa, querendo saber deles, afinal já pensou se eles me vissem no estado em que me encontrava no hospital?

— Eles estão viajando, aconteceu um imprevisto na fazenda e a mamãe foi com o nosso pai — como assim, minha mãe não estava em casa?

— Nossos pais não sabem que eu estou internada aqui, né?

— Não, Nella, mas eu deveria contar! — ele falou, sério. Eu sabia que ele estava certo, mas eu não queria que a minha mãe descobrisse o que acabei fazendo.

— É melhor eles não saberem mesmo — concordei, chateada. Eu estava louca para ver a minha mãe.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Delegado (Duologia os Delegados vol1)