Karina
No dia seguinte, chego ao meu trabalho um pouco mais cedo, embora não tenha dormido muito bem. Temo que Hassan não saia mais da minha mente. Então tomo a resolução de me dedicar naquilo que eu mais sei fazer: ser criativa. Pretendo tirar Hassan definitivamente dos meus pensamentos.
Entro na loja, que ainda está vazia, e me dirijo aos fundos dela. Passo pelas costureiras e entro no meu ateliê. Sento-me em frente à minha prancheta. Observo o vestido que desenhei. Agora preciso definir o tecido e a cor. Pego várias amostras de tecido e estendo sobre o papel, tentando imaginar como ele ficaria com eles.
Aos poucos o vestido vai tomando forma na minha cabeça. Coloco tudo no papel e vou até a sala de costuras para pedir sua produção e explicar como o imaginei.
Conversando com elas, decidimos fazê-lo em três tamanhos. P, M e G e poucos números GG, pois quase não está tendo saída. A maioria de nossas clientes são magras e, com essa onda de regimes, as mulheres estão sempre lutando contra a balança.
Volto para o ateliê e abro o meu caderno, um pedido está anotado. É de uma cliente. Ela quer um vestido de festa. Preciso criar três opções de vestidos e apresentar para escolher um.
Anna Frank.
Tento puxar na memória a cliente. Como não me lembro dela, vou até o meu PC e o ligo. Então jogo o nome dela em um programa que instalamos. Logo surgem informações sobre ela. Ali estão todos os seus dados. O que ela faz, suas preferências e sua numeração, e principalmente sua foto. Sua tez é bem branca, então já sei que não posso criar vestidos em tons claros. Ela ficaria apagada. Seu corpo é esbelto, tipo violão. Esse tipo de corpo é mais fácil, qualquer modelo cai bem.
Com as informações reunidas, começo a criar várias opções de vestidos. As horas passam sem que eu perceba. Estou ali pensativa quanto aos tecidos quando a porta se abre.
Rebeca surge com os olhos brilhando.
— Karina, temos um cliente à sua espera na loja. Ele quer dar um presente, mas não quer nada da loja. Você poderia atendê-lo e tentar ver o que ele planeja dar?
— Você disse um cliente? Um homem?
— Exato! E que homem!
Estremeço com as falas dela. Acho estranho um homem estar indeciso na loja. Geralmente quem precisava de meus serviços eram mulheres com preferências próprias. O homem é muito prático, uma vendedora sempre conseguia fazê-lo comprar o que está na vitrine.
— Bem, vou lá, então.
— Vai e se prepare… — ela suspira.
— Como? — pergunto, pegando meu caderno de anotação.
— O homem é um gato.
Meu coração se agita no peito.
Deus! Só espero que não seja quem eu estou pensando.
— Ele tem traços árabes, por acaso?
— Exatamente! Você o conhece?
— Sim. Sei quem é.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Egípcio
Muito bom, amei....