O estrangeiro romance Capítulo 70

Hoje era o pior dia da minha vida depois do dia da morte dos meus pais.

Era o dia que a mulher da minha vida iria casar com outro, e tudo por minha culpa.

Depois que Charlie saiu do meu apartamento após se declarar e ver minha empregada enrolada em meus lençóis, eu não tive sossego durante o resto da semana. Mais uma vez estraguei tudo, mais uma vez a perdi e dessa vez não terá mais volta.

Desde cedo John tenta me animar preparando bebidas para mim, eu já estava tonto quando ele fez a décima doze de Charlie.

Olho para o copo com a pequena cereja no fundo.

— Vou tirar essa bebida do catálogo. — Resmungo.

— Vai tirar a melhor bebida da casa? Coragem.

Olho para ele e desvio.

— Então vou mudar o nome.

Ele solta um sorriso nasal.

Vejo minha tia sair do escritório com alguns papéis na mão, tento não parecer embriagado às 10 da manhã, mas era como um elefante caminhando sobre cerâmicas.

— Bêbado tão cedo?

Viro a dose.

— Tenho um bar.

Ela pega o copo da minha mão e bate firme na mesa do bar.

— Mas a bebida é para os clientes. — Ela arrasta uma cadeira para o meu lado. — Não vai ficar se martirizando por isso o resto da vida, vai?

— A culpa foi minha. — Passo as mãos da mão nos olhos. — Ela veio atrás de mim, parecia um anjo de tão linda, mas agora... — solto um sorriso nasal — estará no altar com outro.

— Então vai atrás dela.

Franzo o cenho.

— Hoje é o casamento dela, tia.

Ela dá de ombros.

— Tenho certeza que já passou por situações mais constrangedoras. Você levou um tiro por ela, isso não pode acabar assim.

Der repente meu peito se enche de falsas esperanças. Talvez não fosse tão tarde assim para reconquistá-la. Não penso duas vezes, dou partida para rumo à casa dela, durante o percurso pensei melhor, o que ela estaria fazendo lá? O casamento seria feito em algum lugar, mas eu não sabia como chegar lá.

Puxei meu celular e procurei as redes sociais dela, encontrei as da Emma, o casamento seria em um parque de eventos, mais longe. Tive que ultrapassar vários carros, olhava o relógio pedindo que as horas passassem mais devagar.

Cheguei quase meia hora depois. Tirei o cinto de segurança e saí do carro. Do lado de fora havia dois seguranças, me aproximei deles.

— Tem convite, senhor? — Um deles pergunta.

— Não, mas conheço a noiva.

— Sinto muito. Não pode entrar.

Olhei para dentro. Não tinha como passar.

Fui até uma moça que falava por um alque toque, ela andava de um lado para o outro e der repente mencionou o nome da Charlie.

— Onde está a noiva? — Perguntei.

Ela me olhou dos pés à cabeça.

— Quem é você?

— Por favor, diga-me! — Seguro seus ombros, não foi a melhor forma de abordá-la.

Ela olhou para mim com certo medo na expressão, então ela apertou um botão de um rádio.

— Tem um maluco aqui tocando em mim, podem me ajudar?

Percebi que ela não me ajudaria, então simplesmente ultrapassei os seguranças. Eu os ouvi gritar, mas não dei importância. Corri por todo aquele jardim, havia outros casamentos ocorrendo em partes diferentes do parque, mas eu sabia que o da Charlie seria a margem do lago, no lado mais afastado.

Corri como nunca, sentia minhas pernas arderem, porém continuei até ver as cadeiras brancas e um arco de flores. Debaixo dele estava Charlie e seu então noivo, eles pareciam discutir sobre algo, vejo Charlie sair debaixo do arco e der repente ela para quando me ver. Seus olhos azuis encontraram os meus. As pessoas sem entender o que acontecia olharam para trás até finalmente me enxergarem.

Me aproximei mais, à medida que eles pudessem ouvir tudo o que eu dissesse.

— Parem esse casamento! — Esbravejo sem fôlego.

Vejo os olhares do pai da Charlie, Donna também estava lá com o cenho franzido.

— O que você está fazendo? — Perguntou Charlie num tom que apenas eu ouvi.

Apoio às mãos no joelho descansando da minha corrida até aqui, meu corpo todo latejava. Após alguns segundos eu me recomponho.

— Não pode se casar com ele, Charlie. Eu te amo.

As pessoas ao redor engolem o ar e cochicham.

— Você não tem o direito...

— Sim eu tenho. — Começo a desabotoar minha camisa, arrancando ainda mais balbúrdia, a deixo presa apenas aos meus braços e aponto para o local do tiro de anos atrás. A cicatriz nunca sumiu. — Isso foi por você, eu arrisquei a minha vida por você. Te deixei ir por você, mas agora eu não quero mais que vá.

Seus olhos começaram a ficar vermelhos. Tantos sentimentos misturados.

— Não vou suportar que se case, mesmo que ele seja perfeito e melhor que eu. — Me aproximo lentamente dela. — Sei que ele é o que você merece, mas eu também mereço estar ao seu lado. Eu te deixei ir por muito tempo, te deixei esvair quando te tinha por inteiro. Fui burro. E doeu, doeu muito, mais que o tiro.

Uma lágrima cai de seus olhos.

As pessoas ao nosso redor não existiam mais, agora era apenas eu e a menina de olhos azuis que conheci anos atrás. Mesmo com o cabelo escuro e a maquiagem, ainda era a minha Charlie, a que eu nunca deixaria de amar, tanto que meu peito ardia.

Pego a mão dela e levo até o meu peito, encosto no meu coração que pulsava firme.

— Me deixa ser seu, por mais imperfeito que eu seja.

Um sorriso surge no canto de sua boca, vejo seu buquê escorregar da sua mão as flores caem no chão.

Levo minhas mãos até seu rosto e a beijo, o mundo ao nosso redor parecia girar. Voltei para a realidade quando alguém me puxou pelo ombro e acertou meu olho. Caí para trás.

─ Seu verme! ─ Xingou ele. ─ E você, é tão nojenta quanto ele.

Senti alguém segurar nos meus braços e me arrastar. As pessoas que presenciavam ficaram horrorizadas, eu ouvia Charlie e o tal noivo discutirem.

Meu ato digno de filme de comédia romântica resultou em uma noite na cadeia por invasão de privacidade e uma multa. Só dentro da cela percebi o quão sujo estava, à medida que o álcool saía do meu corpo eu me sentia ainda mais burro. Provavelmente Charlie já estaria casada, indo para sua lua de mel em algum lugar das Maldivas.

Uma pessoa quebrada como eu não merece aquele anjo.

— Hunter? — Sua voz ecoa pelas paredes. Eu sempre reconheceria aquele tom de voz aveludado.

Levanto a cabeça, era a Charlie. Ela segurava as barras de ferro próximo ao seu rosto. Ainda usava o vestido de casamento, a barra estava suja de lama, havia rímel borrado em sua bochecha, porém ela continuava linda.

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