Benjamim a agarrou pelos ombros e olhou profundamente nos olhos enrugados de Carlota. Aquilo não podia estar acontecendo, ela não deveria ser a mente maquiavélica por detrás de toda essa tragédia.
Carlota não tentaria assassinar o próprio filho, tentaria?
O choro que escorria pelo seu rosto parecia sincero e quem não a conhecesse de fato acreditaria que ela estava realmente emocionada com a situação. Mas Benjamim não acreditava no seu teatro banal.
Ele se afastou repentinamente, como se tivesse visto um monstro diante de seus olhos. Era assim que ele enxergava Carlota agora, como um monstro.
— Você não pode ter feito isso – ele disse, tentando ligar os motivos – como a senhora conseguiu mandar me sequestrar?
O rosto de Carlota tornou-se branco de repente e ela foi obrigada a desviar o olhar.
— Do que você está falando? – sua voz falhou, suas mãos tremularam – está dizendo que tenho alguma coisa a ver com isso?
— Responda à senhora, mãe - ele tentou não elevar a voz, foi quase impossível.
O som das palavras saiu alto e rasgante, assustando Carlota. Ela passou os olhos ao redor, como se temesse que alguém ouvisse aquela conversa. Seu rosto denunciava que Benjamim estava certo.
— Você acha mesmo que eu teria coragem de mandar sequestrar você? – Ela, rapidamente, enxugou as lágrimas e seu semblante se modificou.
Carlota girou o pescoço e olhou para Vladir, que permanecia parado no fim do corredor, esperando por Benjamim. Depois, olhou para o filho novamente e pensou em uma maneira de escapar daquela confusão.
Enquanto isso, Benjamim observava os movimentos dela, tentando encontrar qualquer falha que a denunciasse e desse a certeza de que ele estava certo de suas acusações. Mas Carlota permanecia irretocável na sua atuação.
Por outro lado, foi devastador ele perceber que sua própria mãe tentou eliminá-lo.
— A senhora sabe que o juiz dará a guarda do Adam para mim, não é mesmo?
Carlota encarou-o nos olhos. A expressão no seu rosto se modificou para algo que Benjamim não soube explicar.
— Eu só vim aqui ver como você estava – ela colocou a bolsa sobre os ombros e apagou do rosto qualquer rastro de sentimentalismo. Não cairia na armadilha de Benjamim – e que bom que não foi você quem levou um tiro.
— Seja lá quem foi que tenha atirado no Fred, eu o farei pagar – olhou no fundo dos olhos dela, para ter certeza de que Carlota ouviria bem o seu recado – ainda que essa pessoa seja a senhora.
Ele começou a caminhar para longe dela. Foi até Vladir sentindo o peito esquentar como se o seu coração fosse uma bomba relógio, parou ao lado de Valdir e depois desapareceu.
Carlota ficou em silêncio, digerindo a informação. Depois de alguns minutos, percorreu o mesmo caminho de volta e saiu do hospital.
Naquela noite, Benjamim foi ao necrotério reconhecer o corpo de Frederico. A sensação que ele tinha ao olhar para o corpo pálido e sem vida era de que Fred estava apenas dormindo. Um nó se formou em sua garganta ao lembrar os poucos momentos em que havia passado ao lado de Fred. O quanto eles haviam se tornado amigos rapidamente. Fred acompanhava-o para todos os lados. Era um excelente enfermeiro e um ótimo cofre de segredos. Obtinha no coração dele, que agora não mais batia, todas as confissões de Benjamim.


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