As notícias sobre o casamento da Alessia ganharam destaque naquela manhã. O grande dia, o qual ela havia sonhado por três longos anos, finalmente aconteceria.
Antonela estava sentada, com as mãos apoiadas no balcão, enquanto tomava uma xícara de café e lia as notícias daquele dia. Sentiu a garganta fechar e o líquido ficar preso, descendo lenta e dolorosamente, quase a fazendo sufocar.
Ela mal havia percebido a presença de Carmélia, que parou para observá-la e perceber uma tristeza contínua se formar em seu belo rosto. O fato de Antonela não ter voltado no assunto do dia anterior e nem ter lhe dado uma boa bronca por se meter em sua vida fez ela se sentir um pouco melhor.
Aliás, nenhuma das duas havia conversado sobre aquilo, mas Carmélia precisou se explicar.
— O que foi? – perguntou Carmélia, fazendo ela girar a cabeça para olhá-la – está assim devido à minha atitude em trazer seu pai até aqui?
Antonela ergueu a sobrancelha em uma expressão de dúvida.
— Você fez o que acreditou ser o melhor – voltou a abaixar o olhar para a tela do celular – hoje é o casamento da Alessia com o benjamim.
Carmélia entendeu tudo assim que ela disse essas palavras. Porém, não deixou de se surpreender com a pressa que Antonela tinha em compreender e perdoar as pessoas. Percebendo então que ela não estava disposta a falar sobre o passado, puxou uma cadeira e sentou-se em frente a ela.
— Você já decidiu o que vai fazer sobre isso?
Antonela engoliu em seco diante da pergunta dela.
— Sobre o que está falando? – fingiu desentendimento, embora, no fundo, compreendesse perfeitamente o que Carmélia havia dito.
— Sobre esse casamento ridículo, da sua irmã com o pai do seu filho – fez uma pausa, notando surpresa na expressão de Antonela – vai deixar que isso aconteça?
— E por que eu deveria impedir? – Antonela soltou um riso de desespero.
— A Alessia impediu que você se casasse com ele – enfatizou, mas Antonela não gostou da comparação - não que você seja igual a ela, mas não fazer nada será decretar que ela venceu.
— Isso não é uma disputa, Carmélia – imediatamente Antonela girou as costas para ela, incomodada com o rumo que a conversa tomava – devo lembrá-la de que isso também foi uma decisão do Benjamim. Ele podia ter ido atrás de mim quando descobriu que a Alessia mentiu sobre o meu verdadeiro estado de saúde, mas ele não foi. Ao contrário, resolveu se casar com ela para tentar diminuir a culpa que ele carregava.
Carmélia concordando imediatamente com seu comentário, levantou-se para aprofundar mais ainda suas argumentações. Ela também não suportava a ideia de ver Alessia se dando bem em cima de tanto sofrimento.
— Eu não vou dar uma de advogada do diabo e defender o Benjamim. Ele errou tanto quanto Alessia – prendeu a respiração de repente e depois a soltou com a conclusão de seu pensamento – mas você o ama e deu a ele o herdeiro que ele tanto queria. Por esse motivo, não devia permitir que ele se case com sua irmã.
A tristeza se aprofundou dentro dela.
— A Alessia também está gravida.
Concluiu como se esse argumento fosse o bastante. Quando estava pronta para se afundar nas palavras de Carmélia e vê-la tentar outra vez convencê-la de suas objeções, o seu celular vibrou insistentemente em cima do balcão.
Seu olhar recaiu sobre ele, quando se aproximou e levou um susto ao perceber quem a ligava. Segurou o celular em mãos e, atendendo à ligação, levou lentamente o aparelho até o ouvido.
— Está atrasada – a voz de Henrico surgiu logo atrás dela, fazendo Antonela se assustar – me acompanhe, por favor.
Antonela observou seu semblante ranzinza, sem nenhuma simpatia com ela, girar as costas e caminhar em direção à sala de direção. Antonela não ousou se explicar, muito menos pedir desculpas, sabia que Henrico detestava qualquer tipo de bajulação.
Entrou na sala, agora escura e com os vidros lascados. As paredes sujas demonstravam o abandono do lugar, mesmo assim a mesa de Henrico permanecia intacta exatamente como Antonela se lembrava.
Ouviu um barulho vindo da porta e se deparou com Fabrício, ansioso, esperando reencontrá-la.
— Senhorita, Antonela – os olhos do garoto brilharam – como é bom vê-la novamente.
Antonela estendeu a mão para cumprimentá-lo, feliz em saber que Fabrício permanecia trabalhando para o seu pai.
— Não tenho tempo para as suas formalidades, Antonela – Henrico bateu na mesa com uma expressão irritada no rosto – você está aqui para trabalhar.
Antonela engoliu a seco, mas resolveu não dizer nada, apenas obedecer.
— Quero que organize toda essa documentação para mim e anuncie vagas para novos funcionários – ele disse e Antonela conseguiu ver pontadas de satisfação em seu rosto – as máquinas voltarão a funcionar, graças ao dinheiro do benjamim.
Mas a felicidade de Antonela desapareceu rapidamente ao ouvir o nome dele. Viu Henrico pegar o seu chapéu e sair da fábrica, indo se preparar para o casamento de Alessia.

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