Pela janela, Antonela viu Henrico se afastar a caminhar pela rua virando a esquina até finalmente desaparecer. Sentou-se na sua velha cadeira, mesmo sabendo que se ele estivesse ali reprovaria sua atitude. Olhou para os documentos e se perdeu no limbo de seus mais profundos pensamentos.
Mesmo sabendo que ela tivera um filho com Benjamim, Henrico decidira casar-se Alessia com ele. Ela sorriu amargamente mal percebendo que não estava sozinha na sala.
A voz de Fabrício a assustou, fazendo Antonela sentir o sangue esquentar.
— Está tudo bem, senhorita Antonela? – ela levantou o olhar até ele, que a observava com insistência – parece tão distraída.
— Estou bem – ela engoliu a seco e voltou a olhar para os papéis sobre a mesa, pensando o quanto trabalho teria dali para frente – sente-se, Fabrício, para que você possa me ajudar a descobrir, por onde devo começar.
Fabricio olhou para ela assustado, depois voltou o olhar para os documentos pensando se deveria ou não fazer aquilo. Ele era apenas um empregado que produzia chapeis, Henrico jamais permitiria que ele se envolvesse nos verdadeiros negócios administrativos de sua fábrica.
Percebendo que o garoto não se movia, Antonela perguntou.
— Algum problema?
Fabricio levantou o olhar até ela e sentindo a garganta ficar seca e apertada, lhe respondeu.
— O seu pai não vai gostar de saber que ajudei você a organizar a parte administrativa – ele fez uma pequena pausa e seu rosto tornou-se pálido de repente, como se fosse acometido por pensamentos desagradáveis – ainda mais depois do que fiz.
Antonela não tentou esconder sua surpresa. Ela continuou a encará-lo e soltando a respiração rapidamente lhe perguntou:
— O que você fez?
A pergunta foi feita tão rapidamente, que Fabricio sentiu como um tiro sendo dado à queima-roupa, levantou-se rapidamente, derrubando a cadeira logo atrás dele, assustando-a. O garoto estava tão nervoso, que foi difícil Antonela acompanhar seus movimentos.
— Não sei se devo falar sobre isso – ele gaguejou, como se estivesse sendo sufocado pelas próprias palavras – o senhor Henrico souber que contei a você, eu acabarei esgotando o que resta da paciência dele e serei demitido.
— O meu pai não está aqui – ela disse, sentindo a curiosidade aumentar desproporcionalmente – e eu não contarei nada a ele sobre essa conversa.
Péssima ideia, pensou Fabrício. Desviou o olhar para longe em direção à porta e pensou em sair da sala silenciosamente, sob passos apressados, como se jamais tivesse tido aquela conversa em toda a sua vida. Fabrício sabia o quanto precisava daquele emprego e o quanto Henrico havia sido solidário com ele, mesmo depois do seu enorme erro. Porém, Antonela era uma mulher confiável, ele sabia disso porque a conhecia bem. Era doce, adorável com as palavras, tão diferente de Alessia.
Quando se lembrou de Alessia, seus batimentos cardíacos aumentaram desproporcionalmente, fazendo suas mãos encharcarem-se de suor. Como uma injustiça presa em seu peito, ele sentiu vontade de libertá-la e, antes mesmo que pudesse perceber, lhe confessou sem meias-palavras.
— Entreguei todo o dinheiro da fábrica para a Alessia, quando seu pai estava internado – ele disse isso de olhos fechados, como se pudesse evitar as consequências – ela me forçou, dizendo precisar pagar as despesas hospitalares dele e eu dei tudo a ela.
Antonela se levantou rapidamente da cadeira e prendeu a respiração, olhando bem abertos para Fabrício. Ela estava realmente surpresa com a informação e soube, pela expressão no rosto de Fabrício, que aquilo não era tudo.
— A Alessia mentiu – Fabrício abriu os olhos lentamente e os levantou na direção de Antonela – o senhor Benjamim havia pagado todas as contas hospitalares do senhor Henrico, o que aumentou a fúria do seu pai. Nós não fazemos ideia do que ela fez com o dinheiro.
— Vocês não vão para estragar o casamento dele, não é? A indagação fez Carmélia levantar o olhar ofendido e fuzilá-la – não vai contar a ele sobre os meus segredos como fez com o Henrico?
— O que fiz foi por amor ao Arthur – Carmélia disse, extremamente constrangida – eu não queria que você fosse embora, por isso arrisquei tudo. Achei que você tivesse me perdoado.
Antonela passou as mãos sobre o rosto, sabendo que o desespero estava fazendo-a agir injustamente. Virou as costas para as mulheres e pegou Arthur, o acolhendo em seus braços. Ela tentou esquecer que dali a poucas horas benjamim estaria casado com sua irmã, para que a dor não a destruísse. Virou-se para olhá-las e finalmente disse.
— Eu não quero saber nenhum detalhe sobre esse casamento – aproximou-se de Carmélia, que tinha a expressão triste no rosto – e não há o que perdoar, eu vou confiar em vocês, sabendo que não farão nada extraordinário.
Dominique sorriu, disfarçando o quanto odiava estar fazendo aquele papel de traidora.
— Nenhum ato de justiça será cometido – ela disse – exceto se você decida fazê-lo.
Mas essa possibilidade sequer passou pela mente de Antonela, que, permanecendo em silêncio, observou elas partirem, deixando um buraco enorme em seu coração.
Era tarde demais.
Ela não impediria que o homem que amava se cassasse com uma traidora.

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