O Labirinto de Amor romance Capítulo 1161

Sem precisar de questionar em voz alta, o olhar de Guilherme já disse tudo.

É falso dizer que não fiquei surpresa. No entanto, todos os choques se juntaram e embaçaram a minha visão. Gradualmente, eu perdi o rumo da situação.

Desde o dia em que acordei, a única identificação que fiz foi a carteirinha de “Kaila” dada por Simão. Quanto à herança de ações que Galdina disse, não houve nenhum procedimento legal e formal. Eu tomei como certo que tudo estaria em ordem após a cerimônia de casamento.

Em primeiro lugar, com problemas constantes, não tinha como tirar o tempo para tratar disso. E mais, mesmo quando estava disponível, eu só me contentei com a reunião familiar, que era muito preciosa. Em relação à propriedade, ambos eu e Guilherme não prestávamos muita atenção e claro que não iríamos tratar disso em especial. Inesperadamente, esse ato casual gerou um problema potencial tão grande.

Sem o dinheiro, a absurdez de Guilherme ainda seria limitada. Com o apoio do Grupo Nexia, as façanhas dele resultariam em uma prisão de 20 anos ao menos.

Neste momento, se fosse um teatro aqui, eu seria, sem dúvida, o único palhaço no palco.

Claro, o que eu sabia mais claramente era que, se eu realmente agisse irritada como um palhaço, isso satisfaria o desejo de Odilon, o ator por trás dos bastidores que promoveu tudo.

Passando por Galdina, eu prestei um olhar frio em Odilon e disse “calma” repetidamente a si própria. Cerrando os dentes fortemente, eu me proibi de gerar nenhum som.

Mas no ponto de vista de Odilon, tudo isso foi claramente um ressentimento. Os olhos dele estavam repletos de curiosidade, como se tivesse visto o começo do drama desejado e não pudesse esperar para ver o desenvolvimento do enredo.

- Galdina, venha cá. - Ele chamou Galdina ao seu lado, agiu como um cavalheiro e ergueu os lábios calmamente. - Não tenha tanta hostilidade comigo. Eu só dei algumas sugestões, mas inesperadamente, meu irmão fez um trabalho tão excelente. Eu já disse a você que ele é talentoso nesse campo.

Ao invés de responder, eu olhei para Guilherme tranquilamente, esperançosa de achar uma ínfima relutância nos seus olhos, que tinham tido ternura infinita para mim antes.

Mas o que eu encontrei foi nada mais do que uma explicação fria e fraca.

- O Grupo Nexia é da família Aguiar originalmente e eu tenho dominância absoluta. Todavia, os gastos cotidianos de você e dos filhos não serão limitados. A vida da família não mudará de grosso modo. 

A tristeza inundou meu coração. Eu zombei:

- Família? O dono da família está ao caminho para o inferno. Ainda temos a família?

Guilherme abaixou as pálpebras e seu rosto indiferente estava cheio de desdém:

- Eu sou bem mais inteligente do que você imagina.

O que ele queria dizer é ter plena confiança em andar na margem da lei sem ser punido.

A maioria dos foras-da-lei também pensa dessa forma.

Mas ele, sendo um homem brilhante, não deveria se contentar com a degradação. Mesmo assim, eu não tinha como responder as palavras dele. Um sentimento de impotência começou a corroer meu corpo e eu não consegui achar nada para me suportar.

Lúcia riu ao ver que seu plano deu certo. Quando ela estava prestes a abrir a boca, Guilherme tomou iniciativa a falar:

- Leve a senhora de volta.

Isso foi dito a Caio.

Lúcia manifestou a insatisfação de imediato:

- Não, ele tem que me acompanhar por todo o dia.

Guilherme olhou para mim e levantou as pálpebras de maneira extremamente tranquila:

- Eu acompanho você.

Quase todos se surpreenderam, provavelmente por não preverem que ele agiria tão ativo. Lúcia reagiu primeiro e sorriu encolhendo os ombros:

- Tudo bem.

Depois, ela deu um passo adiante de maneira ostentosa, pegou a gravata de Guilherme e deu uma puxada fortemente à direção do elevador:

- Vamos.

Os dois, uma baixa na frente e um alto atrás, entraram no elevador e desapareceram na visão da multidão.

Em breve, soou a voz alta e arrogante de Lúcia no elevador:

- Jaime Machado! Ainda não veio? O que você tá esperando?

A agente, que nem sequer ousava respirar desde que o grupo de Guilherme apareceu, correu para lá às pressas:

- Tô chegando...

Depois que Jaime entrou, a porta se fechou devagar. O elevador desceu lentamente à medida que os números vermelhos no visor começaram a piscar.

Caio percebeu a depressão nas minhas palavras, me prestou uma olhada pelo espelho retrovisor e me confortou:

- O senhor sempre tem seu plano. Não precisa de ficar muito preocupada, senhora.

Quanto mais silencioso o ambiente está, quanto mais pode enxergar o coração de uma pessoa. Não havia nenhuma necessidade de confortar uma mulher abandonada como eu, mas ele fez isso, o que comprovou que o respeito que Caio tinha para mim não mudou nada.

Ele e seu chefe eram iguais. Se Guilherme não tivesse a menor preocupação comigo, não precisaria de instruir a Caio abertamente para me levar de volta.

Eu fiz um sorriso amargo e perguntei a ele fingindo triste:

- Considerando a sua profissionalidade, não me diga que você não sabe que não tem como lavar as mãos uma vez que tenha contato com aquelas indústrias negras. 

- Eu tenho confiança no senhor. - disse Caio.

- Então, você apoiou o disparate dele e o deixou ir longe no caminho errado de braços cruzados?

- O senhor não erra. - Caio estava tão teimoso como uma pedra.

A mosca não se aproxima de um ovo sem fissura, já não para falar de uma pedra. Sem saber se devia chorar ou rir, o que eu podia fazer era só abaixar a cabeça e falar consigo própria:

- Você de fato tem uma confiança radical nele.

Logo que as palavras foram ditas, o celular de Caio tocou.

O identificador de chamada no computador de bordo apresentou “Soraia”, o nome da esposa dele.

Caio não me evitou e pressionou no botão de atender diretamente. Sua voz virou bem mais alegre:

- Oi, querida?

Com o tom leve, até o ar se tornou mais açucarado. Eu não podia resistir ao impulso de erguer o canto de boca. A felicidade é contagiosa.

Porém, a voz transmitida pela alto-falante queimou a atmosfera tranquila.

- Querido, volte já. Vieram muitas pessoas em preto a casa...