O Vício de Amor romance Capítulo 277

Jorge não respondeu, e Marcelo entrou em pânico. Ele queria salvar a avó, mas não queria que Natália caísse na cova do leão. O fantasma de Anderson continuaria pairando até que ele conseguisse pôr as mãos nela. Se ela fosse com ele, seria capaz de voltar?

Além de tudo, Anderson tinha uma bomba amarrada ao corpo. Se fosse um estranho que tivesse sido feito refém, Natália até poderia ter hesitado um pouco; mas era a avó de Marcelo e única pessoa da família dele. Ela não poderia deixar que aquela senhora sofresse por sua culpa.

Anderson sorriu. Uma gargalhada estrondosa e debochada eclodiu de seu peito.

- Eu não disse, Nati? Só quem ama você sou eu. Estou disposto a tudo por você. Abra os olhos e me diga: esse tal de Jorge está preocupado com a sua segurança?

- Estou indo. Solte a Dona Lourdes - indiferente, ela fez ouvidos moucos às palavras dele.

A tranquilidade dela o fez perder o controle e gritar:

- Você ainda não percebeu? Ele não tem medo de que eu morra com você, de que a gente se torne um casal fantasma!

- Lunático! - Marcelo cerrou os dentes com raiva. - Ele é bem capaz disso mesmo, com uma bomba amarrada ao corpo e a clara ideia de levar os dois a morrerem juntos.

Jorge continuou sem responder. Em silêncio, como um paciente guepardo, esperava a oportunidade de acertar a presa de um golpe só.

Natália continuou a negociar com o sequestrador:

- É a mim que você quer. É um problema nosso, que cabe a nós resolver. Sequestrar uma idosa só vai me fazer odiá-lo ainda mais!

Os olhos de Anderson tinham um brilho vermelho:

- O que você disse?!

Ele não podia acreditar. Seu coração não conseguia aceitar a perda:

- Você me odeia?! Você me odeia?! - O sorriso dele se fechou de repente, revelando uma feição extremamente distorcida:

- Eu sou mesmo um idiota. Tudo gira em torno de você. Você e Jorge deram certo, foi porque ele dormiu com você, não? Você o ama? Não mesmo. Só faz isso pelo bem de dois filhos. Quem você ama sou eu. Se eu passar por cima da sua rejeição e dormir com você, você vai ficar comigo e não vai querer voltar para casa. Fui eu quem deixou você mimada.

Nem um louco conseguiria descrever Anderson no estado em que se encontrava. Até sua lógica de raciocínio era incompreensível.

Natália mantinha os punhos cerrados:

- Eu já estou aqui. Solte a Dona Lourdes.

Ele abaixou a cabeça e viu a senhora já em idade avançada, que tremia toda, sem conseguir dizer uma palavra.

Ao lado, Marcelo girava, nervoso:

- O desgraçado ainda por cima é psiquiatra. Quando é assim, fica ainda mais maluco do que as pessoas em geral.

- Anderson, o que você quer, afinal? - disse Natália, impaciente. Ela notou que a Dona Lourdes não estava nada bem.

Na idade em que estava, ela não aguentava o rojão.

- Arrumem um carro.

Ninguém quer morrer, ele também não. A bomba em seu corpo seria para salvar a própria vida. Se não tivesse como escapar, preferia ir para os ares com os inimigos.

Agora que tinha a refém para deixar os outros preocupados, era a chance dele de escapar.

- Entregue a ele - disse Marcelo, olhando para Jorge que, sem nada dizer, consentiu.

Logo o guarda-costas trouxe um carro. Ele já ia entregar a chave, tentando aproveitar a oportunidade para resgatar Dona Lourdes; mas Anderson não era bobo, e o repreendeu com firmeza:

- Nem chegue perto.

O guarda-costas respondeu:

- Se eu não for até aí, como vou poder lhe entregar a chave?

- Entregue para Nati.

Ele deu um beliscão no pescoço da idosa e olhou, alerta, para o guarda-costas.

Vendo a hesitação deste último, Natália foi buscar a chave.

- Entre no carro e dirija. Nem pense em fugir, ou eu acabo com esta velha - ameaçou Anderson.

Natália olhou para ele, entrou no carro e ligou o motor. O sequestrador empurrou a senhora para dentro do carro, sentou-se no banco de trás e ordenou:

- Vá para o sul.

Como Dona Lourdes estava ali nas mãos dele, Natália apenas o obedeceu.

Sentindo que ela havia dirigido devagar de propósito, ele deu um tapa violento na anciã, que ficou desacordada e não emitiu nenhum som.

Mas Natália ouviu o som do tapa. Ao virar a cabeça, viu a expressão sinistra no rosto de Anderson e a marca de tapa no rosto de Dona Lourdes.

Indignada, ela não imaginava que a insanidade dele chegasse a ponto de abusar dos mais velhos.

Ele a olhou visivelmente mal-encarado:

- Falei para não fazer gracinhas para cima de mim, ou eu mato a velha! Ande mais rápido.

Mordendo os lábios, ela pisou fundo no acelerador. O carro disparou como uma flecha saindo do arco. Do escapamento, houve uma explosão de gases de odor desagradável.

- Vire à direita - indicou Anderson.

Natália tinha ideia de quais eram as intenções dele. Ele queria ir para a via expressa. Se ele chegasse até lá, seria difícil controlá-lo; sem falar no maior risco de acidente. Ela procurou negociar com ele na maior calma do mundo:

- Você quer é a mim. Deixe a Dona Lourdes, ela só vai ser um fardo a impedi-lo de escapar. Leve a mim. Vai dar no mesmo.

Anderson se limitou a responder friamente:

- Dirija.

- Não é a mim que você quer? Estou disposta a ir com você. Por que segurar a Dona Lourdes? Não vê que ela está desmaiada? Não tem medo de que ela morra? Você vai ganhar uma prisão perpétua nas suas costas.

- Mesmo se eu não matar ninguém, você acha que Jorge vai me deixar solto?

É verdade. Mesmo que ele não carregue uma vida nas costas, Jorge não vai deixá-lo escapar assim tão fácil.

- Por que você não diz nada? - zombou Anderson.

- Você não vai deixá-la ir embora, não é?

O tom de voz dela também era mais frio. Já que a gentileza não deu certo, ela partiu para a dureza:

- Há um despenhadeiro ali à frente; é o lugar ideal para o nosso grand finale.

- Ficou louca? - Ele arregalou os olhos.

- Sim, eu enlouqueci. Você fez isso comigo.

A calma dela era surpreendentemente. Quando ia se aproximando da encosta íngreme à frente, ela segurou o volante com força:

- O problema entre nós dois acaba aqui, e agora.

Ela girou o volante...

- Espere aí.

Ela ficou esperando as palavras dele.

Ouviu-se um rangido; era o som de pneus raspando na beira da estrada e deixando uma longa marca de freada no asfalto. Assustado, Anderson suava frio:

- Vou jogá-la no chão, e pronto.

Mesmo sem a Dona Lourdes, ele ainda teria Natália como moeda de troca.

Ele empurrou a porta do carro. Para evitar que Natália aproveitasse a oportunidade e escapasse, ele soltou o cinto e segurou as mãos dela. Em seguida, chutou Dona Lourdes para fora do carro. Natália ficou enfurecida com a atitude dele. Ela abriu a porta do carro para sair, chutou a porta, mas o cinto ficou preso na abertura. Anderson entrou em pânico e imediatamente gritou:

- Entre agora!

Natália não deu a mínima. Irritado, ele abriu a porta, pulou e a agarrou pelo pescoço:

- Quer morrer?

De canto de olho, ela viu que alguém se aproximava. Curvou os lábios em um sorrisinho e disse, espremendo entre os dentes:

- Se eu morrer, você também já era.

O vento muito forte soprava a voz dela para longe. Anderson ainda conseguiu ouvir, e desandou a rir:

- Não vou deixar você morrer. Quero você ao meu lado para sempre. Mesmo se quiser morrer, então que seja meu fantasma.

Ouviu-se um estouro.

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