O estrondo abafado fez Anderson arregalar os olhos. Ele se virou lentamente. Na escuridão, uma figura alta estava coberta pela luz de um poste na estrada, e o vento passava, enfurecido. Ele permaneceu firme, os pés plantados, sem o menor vacilo ao sabor do vento. Nas mãos, trazia uma pistola e a fúria prepotente.
Anderson foi arregalando os olhos cada vez mais, o canto da boca se retorcendo:
- O que... você...
Sem forças para se sustentar, suas pernas amoleceram e ele caiu de joelhos.
Natália o viu desabar diante de seus olhos, e deu um suspiro de alívio. Seu corpo tremia com o vento. Depois de se recompor, soltou a mão do cinto e correu para abraçar a senhora jogada ao chão.
- Dona Lourdes! - Ela conferiu que a anciã ainda estava respirando.
- Vó! - Marcelo acudiu, e Natália disse com as forças que lhe restavam:
- Rápido, leve a Dona Lourdes para o hospital.
Ele olhou para ela, pegou a avó e entrou no carro. Preocupado que algo pudesse acontecer com ela, gritou com o guarda-costas:
- Ande logo!
Enquanto isso, Natália apoiou a mão no chão e tentou se levantar. De repente, alguém agarrou o seu outro pulso. No seu campo de visão, refletiu-se um par de sapatos. Seu olhar se ergueu até um par de pernas longas e finas, e depois para cima até encontrar um rosto pontudo.
Jorge levantou-a com as mãos suaves, e logo ela estava aconchegada em seus braços. Ela ergueu a cabeça. O vento estava muito forte, e seus cabelos esvoaçaram.
Jorge puxou os cabelos dela da testa e os enrolou atrás das orelhas.
Surpresa, ela sorriu. Seus olhos se apertaram em lágrimas límpidas e suaves:
- Está tudo bem. Que bom que você chegou a tempo.
Ele não relaxou por conta da expressão dela. Pelo contrário, ficou mais sério. Com um impulso, ele a ajeitou em seus braços.
Sentindo vagamente o seu mau humor, Natália ia dizer alguma coisa, mas viu dois guarda-costas se aproximarem e jogarem Anderson para dentro do carro. Ela nunca havia visto o marido com expressão tão implacável. Com a voz baixa, ela não quis saber o motivo, e escolheu em vez disso outra pergunta:
- Ele vai morrer?
Não restavam dúvidas de que Anderson estava errado e deveria ser punido, mas não caberia a ele mesmo fazer cumprir esse castigo.
Se ele morresse, Jorge estaria infringindo a lei.
- Não sei.
Ele não sabia mesmo. Já havia perdido a razão ao ver Anderson apertar o pescoço dela. Normalmente, ele tinha uma boa medida das coisas, mas naquele momento não mais.
Natália suspirou, sem saber o que havia de errado com Dona Lourdes.
- Vamos voltar. Estou com frio. - Ela o abraçou pela cintura.
Jorge pôs um casaco nela e se virou em direção ao veículo. O guarda-costas abriu a porta do carro com deferência, e ele se sentou trazendo Natália em seus braços.
Depois que a porta se fechou, os dois não se falaram durante o caminho. Cada um parecia ter a própria visão dos fatos. Natália ainda estava se recuperando das emoções dos últimos instantes, e Jorge ainda estava se culpando. Se ele demorasse um pouco mais, será que ela teria...
Então o carro chegou ao hotel, e Renata seguiu para o hospital. Como esposa de Marcelo, ela precisava estar lá, até porque ainda não se sabia o estado de saúde de Dona Lourdes.
- Fui eu o descuidado - disse Vanderlei, irritado.
Se ele tivesse prestado atenção em Dona Lourdes, esse incidente não teria acontecido.
Na verdade, ele achou que não haveria problemas. O que Anderson poderia aprontar sozinho? Ele não imaginava que Anderson pudesse carregar uma bomba no corpo e causar tantos problemas.
- Foi um acidente - disse Natália, para consolá-lo.
- As crianças estão no quarto. Vou resolver a situação com Anderson.
Quando Vanderlei estava para ir embora, ela pareceu se lembrar de alguma coisa, e olhou para Jorge:
- E a arma?
Vanderlei andava armado. Natália só sabia que a arma que Jorge usou era dele.
As armas de Vanderlei eram todas registradas e codificadas. Se elas sumissem, ele seria penalizado.
Jorge tirou a arma da cintura e entregou para ele, e então o conduziu para dentro de quarto.
Jorge não estava nada satisfeito, e Vanderlei queria saber o que aconteceu com ele.
Natália o segurou, e sacudiu a cabeça:
- Ele deve estar apenas de mau humor. Vá e tente salvar Anderson.
Vanderlei assentiu com a cabeça. Natália se virou e entrou na sala. Tirou o casaco e o pendurou no cabide. Jorge foi para abraçar Mariana antes de tirar o dele, e Natália chegou:
- Tire o casaco.
O quarto estava quente, e ele acabaria sentindo calor por ficar com casaco. Após soltar a menina, sacudiu os ombros e o casaco escorregou. A esposa o segurou com as duas mãos e o pendurou no cabide.
- Pai, aonde você foi? - Mariana pulou em seu pescoço, toda mimada.
Jorge apertou o narizinho dela:
- O papai saiu para resolver algumas coisas.
A menina se aproximou, enterrou o rosto no ombro dele e disse, espevitada:
- Achei que tinha ido a um encontro com a mamãe. Da próxima vez, eu posso ir também? Ficar o dia inteiro aqui neste quarto é muito chato. Que dia vamos poder voltar?
Jorge passou a mão nas costas da filha:
- Espere só mais um pouco.
A princípio, assim que a situação com Anderson se resolvesse, eles poderiam ir embora.
A questão era que Dona Lourdes estava no hospital, e o estado dela ainda era incerto. Não era o momento de ir.
- Então você pode ficar mais tempo comigo, papai? - ela fez beicinho - Estou com tanta saudade da vovó.
Beijando a testa da menina, Jorge respondeu:
- Vou ficar com você de agora em diante.
Mariana não se conteve de alegria. Ela ria e o enchia de beijos, deixando o rosto dele todo babado. Ele mesmo, enfim, encontrou nela um motivo para também sorrir.
No hospital, Dona Lourdes foi levada para fazer exames, enquanto Marcelo caminhava ansioso para lá e para cá pelo corredor.
Renata já estava até tonta. Sabia que ele estava nervoso e preocupado, mas ficar zanzando daquela maneira não fazia bem para ninguém. Aproximando-se, ela segurou a mão dele:
- Não se preocupe; com certeza vai ficar tudo bem com ela.
Marcelo vociferou entre os dentes:
- Eu acabo com a raça daquele filho da mãe!
- Eu sei que você está com raiva.
- E tem jeito de não estar? - gritou ele.
Então ele se deu conta de que estava sendo muito impulsivo, e não deveria gritar com ela:
- Desculpe, estou nervoso demais.
Ele se virou e se sentou no banco, cobrindo o rosto com as mãos.
- É a minha única família. Ela é superimportante para mim.
Renata se aproximou e o abraçou:
- Eu sei.
Ele retribuiu o abraço, enterrando o rosto no abdômen da esposa, que estava de pé. Ele disse com a voz baixa e trêmula:
- Perdi meus pais muito cedo. Foi ela quem me criou. E foi tudo culpa minha...
Renata levou a mão à cabeça dele:
- Não é sua culpa. Ninguém previu que isso ia acontecer, foi um acidente.
Ele a abraçou sem dizer nada.
A atmosfera foi gradualmente se acalmando.
Passado um tempo, a porta da sala de exames se abriu, e a enfermeira saiu com um resultado de exame na mão:
- Os familiares da paciente estão aí?
Marcelo deu um pulo do banco e correu até lá; Renata foi logo atrás. Temendo más notícias, os dois se deram as mãos com firmeza.
- Como está minha avó?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Vício de Amor
No meio vai ficando chato...
O livro começa bem interessante. Mais chegando no final fica horrível, vai só colocar mais personagens e esqueci da história de Natalia e Jorge que e o principal. Tirou o foco total no final do livro....
Como baixar o livro??...
Kd o final.do livro?...