LAIKA
Acordei com o barulho lá fora. As pessoas corriam, empurrando tudo que estava no caminho. Gritos, choros e lamentos de crianças enchiam o ar. Levantei-me do chão, confusa, com o corpo inteiro dolorido, como se tivesse sido perfurado por agulhas. Era o resultado da tortura que meu companheiro, o Alfa Khalid, havia me dado mais cedo. Ele me chicoteou por eu me recusar de o agradar. Eu tinha chorado até adormecer no chão frio.
Saí do quarto e vi as pessoas correndo em várias direções, mas o Alfa Khalid não estava em lugar nenhum. Eu estava completamente perdida, e ninguém se importava em me dizer o que estava acontecendo. Todos me odiavam de qualquer jeito. Mas, ao prestar atenção, ouvi o que diziam:
— Os Titãs estão aqui!
Meu coração afundou no peito. O bando Titã era o mais temido de todo o reino dos lobos. Eram licantropos, guerreiros poderosos, aprimorados de todas as formas e completamente brutais. Eles geralmente invadiam outros bandos e levavam escravos para si. Eu já tinha ouvido falar muito sobre eles, mas nunca tinha vivenciado um ataque. O que o nosso bando fez para ser atacado?
Tentei me juntar aos outros membros e fugir, mas uma dor aguda percorreu minha perna direita. Lembrei-me de que uma mesa pesada havia caído sobre mim quando o Alfa Khalid me arrastou mais cedo. Lágrimas escorreram pelos meus olhos enquanto eu mancava para fora da casa.
Eu não tinha ninguém naquele bando. Tinha ficado órfã há muito tempo e pertencia à tribo mais baixa dos Ômegas, vista como a mais fraca e amaldiçoada. Ser Ômega em meu bando, e na maioria dos outros bandos, era uma maldição. E eu era a última Ômega viva. Transformei-me aos três anos, o que era extremamente raro, e desde então fui marcada como amaldiçoada. Aguentei todos os castigos que meu bando me impunha, especialmente do meu companheiro, o Alfa Khalid, que achava ser uma maldição eu fosse a companheira dele.
Todos se transformaram e correram para a floresta em busca de segurança, tentando escapar dos guerreiros Titãs, mas eu nem sequer conseguia deixar minha loba assumir o controle. Ela era tão fraca quanto eu e parecia nem estar presente. Mancando pelos terrenos do bando, vi os guerreiros Titãs capturando e arrastando os membros do meu bando para uma grande jaula e me perguntei por que ninguém havia me notado. Onde estava o Alfa Khalid? Lágrimas encheram meus olhos, embaçando minha visão. O que eu faria? Como eu escaparia daquela situação mancando?
Enquanto pensava em como fugir, uma força me empurrou para o chão. Rolei pelo solo, batendo a cabeça em pedras, até perder a noção da realidade. Antes de desmaiar, senti meu corpo sendo erguido e flutuando no ar até a minha consciência desaparecer na escuridão.
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Acordei com um jato de água fria no rosto. Sobressaltei-me e olhei ao redor. Ainda estava escuro, mas uma lanterna iluminava o ambiente. No começo, fiquei confusa, mas ao ver alguns membros do meu bando presos em correntes como eu, as memórias regressaram à minha mente.
Uma mulher estava no canto da cela, ou seja, lá onde estávamos presos, com os braços cruzados sobre o peito, nos encarando com os olhos azuis, frios e sem vida. Alguns homens corpulentos serviam as refeições. Para eles, era uma porção insignificante, mas para mim, era a maior refeição que comia a muito tempo.
Ouvi suspiros atrás de mim e virei-me para ver os membros do meu bando me encarando com espanto, com as bocas abertas. Eles nunca imaginaram que eu teria coragem de rejeitar o Alfa.
— Quem permitiu que você falasse, aleijada? — A mulher gritou.
Eu não sou aleijada! Era o que eu teria dito, se não estivesse tão fraca. Em vez disso, baixei a cabeça em desculpas e me joguei na comida, devorando o mais rápido que pude, antes que mudassem de ideia e a tirassem de mim. Não me lembrava da última vez que comi algo decente ou nutritivo. Sempre comia restos no meu bando, já que o Alfa havia decidido que esse era meu castigo. Ele sempre dizia que eu era feia e não merecia nada bonito ou feliz. De certa forma, acreditei nele.
Ele disse que eu era azarada e responsável pela morte dos meus pais. Nunca tinha conhecido minha mãe, porque ela morreu ao me dar à luz, e meu pai morreu quando eu tinha seis anos, tentando me salvar de mercenários.
Acreditei no Alfa Khalid, porque, se eu não fosse amaldiçoada, minha vida não teria se tornado tão horrível quanto era.

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