ALFA KARIM
Observei Laika enquanto treinava e senti-me satisfeito ao vê-la, pouco a pouco, superar o medo que ainda nutria por Khalid. Contudo, ele continuava a assombrar meus pensamentos: seus segredos permaneciam indecifráveis, e eu temia que regressasse e nos surpreendesse outra vez. Enquanto não lhe tomasse a vida, meu espírito não encontraria sossego.
Laika assimilava os ensinamentos com surpreendente rapidez e, graças à determinação que demonstrava, conseguia fascinar-me. Jamais havia treinado uma fêmea, mas instruí-la possuía algo de provocante — ela irradiava sensualidade sempre que se mostrava focada ou severa. Se fosse minha oponente num combate real, tenho certeza de que me lançaria ao chão enquanto eu, boquiaberto, apenas fitaria seus movimentos.
Nos treinos, Laika não tentava mais seduzir-me, e eu sentia falta disso. Khalid precisava morrer; somente então poderíamos voltar a ser como antes. Ansiava pelo fim dessa história para, enfim, preenchê-la com minhas sementes. Imaginava que teríamos quantos filhotes quiséssemos e viveríamos em plena felicidade — uma cena que revisitava na mente toda vez que a observava.
Ela tornara-se o centro do meu universo e, se não estivesse ao meu lado, eu não saberia continuar. Nunca amei algo com tamanha intensidade. Amava minha mãe, é claro, mas esse sentimento não se comparava à atração inebriante que Laika despertava em mim. Adorava cada detalhe dela, da cabeça aos pés, e desejava que pudesse perscrutar meu coração para compreender o quanto me importava.
Tinha consciência de que nem sempre seria tranquilo ou doce entre nós, mas estava decidido a fazer com que tudo desse certo. Laika era tudo de que eu precisava. A fortuna que possuía bastaria para viver confortavelmente por toda a existência, porém, mesmo com toda aquela riqueza, jamais me sentira tão pleno quanto ao seu lado. Já não desejava acumular tesouros, e sim possuí-la — sua admiração, seu coração, absolutamente tudo.
Khalid nunca mais tocaria nela, jamais. Talvez houvesse percebido o valor que tinha em mãos, mas agora ela era minha, e somente a morte poderia separar-nos. Observei-a alcançar o penúltimo saco de palha: estava conseguindo.
Impus-lhe um treinamento rigoroso, voltado ao domínio dos próprios poderes — ainda que estivéssemos longe de controlá-los por completo. Antes disso, porém, eu a treinara para que se tornasse uma espadachim exímia; depois trabalharíamos o caos interior. No primeiro dia de prática intensa, todo o seu corpo ficou dolorido, e eu não teria coragem de submetê-la novamente àquela provação se ela mesma não estivesse tão entusiasmada.
Dividi meus horários: treinava Laika pela manhã e meus guerreiros à noite. Quando lutei contra Khalid, absorvi suas habilidades — dom que já me auxiliara a derrotar inúmeras criaturas. Costumava assimilar novas técnicas sempre que enfrentava qualquer entidade ou massa de energia.
Desde aquela luta, passei a ensinar aos meus homens e à própria Laika, as manobras que extraí de Khalid. Jamais presenciara técnicas semelhantes. Assim que Laika executou o último golpe, saltou da estaca, e abri os braços para recebê-la. Ela sorriu de canto e correu até mim. Estava suada, mas isso pouco me importou. Apertamo-nos com força.
— Você conseguiu, meu amor.
— Vou continuar te enchendo de orgulho, meu amor. — Disse ela, afastando-se e fitando-me com um sorriso. — E agora?
— Vamos nos lavar e descansar um pouco.
Eu sabia o quanto ela se culpava. No dia em que meus guerreiros e eu retornamos do ataque de Khalid, Laika chorou amargamente, repetindo que ninguém merecia morrer por causa dela. Percebia que desejava encontrar Khalid, embora ainda não tivesse coragem de dizê-lo em voz alta, queria encará-lo. Mas eu não a deixaria ir enquanto restasse medo em seu coração.
Ela ainda se encolhia ao ouvir o nome dele. Enquanto não superasse esse temor, Khalid manteria algum poder sobre ela. Não pretendia forçá-la a usar seus poderes antes que aprendesse a canalizá-los — poderia ferir meus homens novamente e, depois, se culpar por isso. Laika possuía uma alma preciosa.
Quando seus lábios macios tocaram os meus de novo, capturei-os num beijo profundo. Segurei-lhe o rosto, tentando desviá-la das veredas sombrias que a mente dela começava a trilhar e trazê-la para o mesmo lugar onde a minha já ardia. O beijo foi tão intenso e terno que ela gemeu. Minhas mãos desceram pelo pescoço delicado, prontas a encontrar-lhe os seios, quando um grito rasgou o ar e nos separou.
— Alfa Karim!
Viramos ao mesmo tempo para a direção da voz. Era um dos meus guerreiros mais jovens, ofegante.
— Alfa Karim, o senhor precisa vir até a fronteira. Alfa Khalid está vindo na nossa direção!

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