Mas Laika mudou tudo. Ela mexeu em mim, descascando cada camada da minha pele grossa até revelar meu coração, e assim ela o segurava nas mãos, enquanto eu implorava para que não o despedaçasse. Meus guerreiros me respeitavam porque eu não deixava as emoções ou o sentimentalismo turvarem meu julgamento, mas não tinha certeza se ainda era o mesmo homem. Eu não podia prometer deixar ninguém sair impune se brincassem com o que era meu.
Depois do sexo que tivemos naquela noite, não consegui parar de sentir que algo estava errado. Fiquei com a impressão de que Laika tinha me enganado para fazer sexo comigo só para me impedir de a perseguir, mas ela teria me dito se não estivesse confortável. Ela teria me rejeitado como fez antes, e nada teria acontecido. Eu teria respeitado isso da mesma forma que respeitei a decisão de não tornar nossa união pública perante a deusa da lua. Eu sabia que ela não estava pronta para toda aquela atenção, mas os poucos meses que me foram dados para encontrar uma companheira logo chegariam ao fim e eu seria forçado a escolher uma para governar minha matilha.
Eu não me via governando a matilha com mais ninguém, exceto ela. Mas parecia que Laika ainda não estava pronta para mim, e isso me preocupava muito. Quando a Madame Theresa me convidou para o jantar, eu só aceitei porque a veria lá e o cheiro dela me preencheria a noite toda. Mas então Madame Theresa a enviou para a floresta e eu a segui imediatamente, deixando minha refeição e meus homens para trás. Transar com ela foi a coisa mais prazerosa que fiz em há muito tempo, e ainda me senti insatisfeito porque ela de repente rompeu em lágrimas no meio do que eu pensava ser um momento de êxtase, e eu não consegui afastar a culpa que me consumia. Retornei à minha tenda me sentido abatido e estava apenas me despindo quando Erika apareceu.
Era tarde, mas ela trouxe minha refeição até minha tenda e estava com medo de voltar sozinha. Pedi para acompanhá-la até lá, mas ela fingiu estar cansada. Eu vi através de tudo aquilo. Eu sabia que ela queria que eu transasse com ela e que sua mãe queria que eu a escolhesse como minha companheira, mas outra mulher já ocupava meu coração. Deixei que ela dormisse na minha pelúcia e disse que iria pegar um pouco de ar e voltaria. A deixei lá, adormecida, e fui até a ponta da matilha ficar de vigia até o amanhecer.
Eu estava retornando para minha tenda quando vi dois amantes. Eles eram madrugadores e achei que foram buscar água no poço. Mas um cheiro familiar me fez a reconhecer. — Era Laika, e aquele devia ser o amante dela. Eu rugi como um leão ferido quando ele se abaixou e ergueu a perna dela. Eu tinha certeza de que gritei para ele a deixar em paz, mas saiu mais como um rugido. Em um único passo, eu estava na frente deles, agarrei o homem pelo pescoço e o joguei para longe. Corri atrás dele antes que tocasse o chão, peguei-o no ar e envolvi minhas palmas em volta dele. Poder, o meu lobo implorava para assumir o controle, mas eu poderia lidar com aquele homem como um homem.
Assim que o prendi no chão com uma mão, levantei a outra para lhe dar um soco que o mandaria para longe, mas o grito de Laika me parou. Quando olhei para cima, ela estava mancando em nossa direção, implorando para que eu deixasse o amante dela em paz. Minha presa sobre ele afrouxou e minha mão caiu ao lado, mais pelo fato de que ela ficaria ferida se eu o matasse, e poderia me odiar para sempre.
Os curiosos da matilha estavam fora de suas tendas e até os guerreiros haviam corrido até nós para ver o que estava causando a comoção. O garoto estava arfando debaixo de mim, o rosto ensanguentado pela minha fúria. Eu me levantei dele. Todos me olhavam, confusos e curiosos.
Aquela fêmea me fez parecer um tolo mais uma vez. Não iria deixar passar daquela vez.

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