Karim me providenciou calças, de alguma forma fabricadas, e que me caiam perfeitamente. Ele me conduziu até o centro do salão e posicionou-se à minha frente, enquanto seus homens nos cercavam, fazendo-me quase ceder sob o peso de seus olhares inquisitivos. Não pude deixar de me perguntar se eles, por acaso, sabiam o que se passara entre seu mestre e eu há poucos minutos.
Esperava que ele me entregasse uma espada ou algo semelhante, mas, em vez disso, começou a circular ao meu redor.
— A primeira lição que te darei é sobre autodefesa. A melhor maneira de te preparar é estar atenta ao que te cerca. Precisas manter-te alerta. Use sempre teu "segundo ouvido" e ouça teu corpo. Entendido? — Declarou, com voz baixa e autoritária.
— Sim. — Respondi, embora me fosse difícil me concentrar, pois ele caminhava ao meu redor e seu perfume impregnava minhas narinas, relembrando-me do que havíamos acabado de fazer.
De súbito, ele agarrou meu pulso, torcendo-o até que ficasse encostado nas minhas costas, e em seguida me lançou violentamente contra uma árvore. Gritei de agonia, e ele afrouxou seu aperto um pouco.
— Estás distraída. — Sussurrou ao meu ouvido. — Ouve. És liberada porque estou contigo, mas se fosse um agressor, não bastaria um simples grito para que tivesses teu direito. Laika, eu te disse que não serei brando contigo.
Virei minha cabeça para vislumbrar seu semblante preocupado. Será que ele acha que estou enlouquecida pela dor que me infligiu durante o treinamento?
— Estou pronta para aprender da maneira mais difícil. Sempre soube que não seria só flores.
Um pouco da tensão se dissipou, e ele soltou meus braços, recuando um pouco.
— Isto é simples. — Afirmou.
Virei-me para encará-lo, massageando meu braço latejante. — Não sei se jamais me acostumarei a isso. — Murmurei.
Ele aproximou-se novamente, depositando as duas mãos sobre meus ombros, e ordenou:
— Ofereça-me seus olhos.
Instantaneamente, ergui a cabeça e me perdi no abismo esverdeado de seus orbes, onde um sorriso se formava discretamente em seu rosto.
— Você pode realizar tudo o que desejar, meu amor. — Disse ele com convicção.
— Sou fraca, e levaria mais de um ano para dominar todas essas habilidades. Só atrasaria o seu treinamento com os teus homens. — Confessei.
— Laika. — Sua face adquiriu um aspecto severo. — Você insiste em se chamar fraca, mas é a mulher mais forte que conheço.
— Seria ele apenas me bajular? –— Pisquei, surpreendida.
–— Não estou nem mesmo te elogiando agora. Você sobreviveu a abusos e discriminações por anos; apenas pessoas poderosas são capazes de tal façanha. Portanto, meu amor, você não é fraca. Apenas precisa liberar todo o seu potencial.
Ele passou o polegar suavemente sobre meus lábios, fazendo-me arrepiar de ponta a ponta, e então recuou.
— Agora, retorne ao centro; quero te ensinar a primeira técnica.
Movi-me para o centro e percebi, novamente, os olhares atentos de seus homens. Quando Karim se aproximava e me falava com aquele tom contido, esquecia que tínhamos companhia – uma verdadeira plateia nos observava. Contudo, quando estou com Karim, sinto-me sozinha, como se o mundo ao redor se dissipasse.
Ainda assim, permaneci no centro e concentrei toda minha atenção em Karim, que me encorajara, e não queria desperdiçar seus esforços. Ele me observou atentamente por um tempo, certificando-se de que eu estava completamente preparada antes de se aproximar novamente.
— Agora, este agressor poderá vir pela frente – o que é ainda melhor, pois o verás com mais clareza. Há alguns pontos que precisas atingir para te dar tempo para fugir ou recompor-te: sua virilha.


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