Deirdre ficou tão feliz com a descoberta que quase chorou. Cerrando os dentes, para suprimir a dor, ela cambaleou em direção à porta da frente. No mesmo instante, a porta se escancarou. Assim que os olhos da mulher encontraram Brendan, faiscaram de felicidade:
― Bren! ― Ela deu um passo à frente, com entusiasmo ― Bren, escute! Há algo que você deve saber... ―
― Cale a boca e me siga! ― Deirdre notou como o homem parecia terrivelmente frio e, com medo, perguntou: ― O que está acontecendo? ―
O olhar do homem era frio, quando disse:
― Lena estava dirigindo. Ela atingiu alguém por acidente e fugiu, deixando o corpo para trás.
A mente de Deirdre ficou em branco e disse:
― Ela matou alguém em um atropelamento? Então, ela deveria se apresentar às autoridades! O que isso tem a ver com... ― ela sentiu um nó na garganta e sua voz sumiu, enquanto a descrença tomava conta dela. Deirdre já sabia o que aconteceria, mas, mesmo assim, as palavras vieram cruéis:
― Você irá assumir a culpa. ―
Os olhos de Deirdre se arregalaram de horror, e ela sentiu como se seu mundo estivesse à beira do colapso:
― Não! Não! Não! Não! Porque? Por que eu deveria fazer isso e ser presa? Desperdiçar minha vida em uma cela? Sofrer no lugar dela?! ―
― Porque, Deirdre McQueeny, você fingiu ser ela, por dois anos! ― Brendan rosnou. Os lamentos daquela mulher eram tão irritantes que ele franziu a testa, em frustração ― eles tiraram uma foto dela, na fuga, mas vocês duas são iguais, de qualquer maneira! Todo mundo vai pensar que foi você. Você não tem onde se esconder. ―
― Então, diga ao mundo que não somos a mesma pessoa! Diga a eles que Charlene e eu somos duas pessoas diferentes! ― ela gritou, com a respiração pesada e difícil ― e você está errado sobre eu fingir ser ela. Ela é a fingida! Ela quem roubou minha identidade! Fui eu quem arriscou a vida para salvar você do incêndio, Bren! Fui eu! ―
Deirdre esperava que Brendan ficasse chocado, mas, para sua surpresa, ele nem franziu a testa. Algo pior tomou conta de suas feições, nojo.
― Lena estava certa. Você descobriu que ela me resgatou do incêndio e tentou se passar por ela! Você é realmente uma sem vergonha, Deirdre. ―
― O que você está dizendo? ―
― Se tivesse sido você quem me resgatou, por que você não usou esse argumento em cada discussão que tivemos, nos últimos dois anos? Seria, de fato, bom para você, se o mundo inteiro soubesse! ―
Deirdre se desfez em lágrimas. Deus sabe o quanto ela tentou dizer isso a ele, nos últimos dois anos, mas ele nunca a deixava terminar uma frase. Ele odiava ouvi-la falar, e a única coisa que ele parecia suportar era a aparência dela. Brendan só estava satisfeito quando ela agia como uma mulher muda e humilde.
― Olha, eu já ouvi o suficiente. Se entregue para a polícia e não tente nenhuma gracinha. Vou garantir que sua sentença não seja muito grande e, na pior das hipóteses, você pegará alguns anos. Mas, quando for solta, eu a compensarei pelo seu tempo. ―
‘Apenas alguns anos, talvez? Alguns anos?!' Deirdre soltou uma risada entrecortada, atrapalhada por suas próprias lágrimas:
― Sem chance! Nem pense que pode me obrigar a cumprir a pena de Charlene. Ela matou alguém! Ela deveria pagar por isso! ―
Qualquer simpatia que ela tivesse conquistado, em sua causa, foi jogada ao fogo quando sugeriu que Charlene pagasse por seu crime. Uma tempestade acendeu nos olhos de Brendan e ele gritou:
― Como você ousa! Ah. Entendo. Você só gosta quando machuca, não é? Você sempre foi assim, sempre amou apanhar e ser mal tratada, não é? Tudo bem. Você quer ver as coisas do pior jeito, vamos fazer assim, então! ―
O homem saiu, furioso.
Os joelhos de Deirdre cederam e ela se sentou. No momento em que recuperou forças o suficiente para pegar seu celular, recebeu uma ligação. Desconfiada, a mulher olhou no identificador e viu o nome de sua mãe, Ophelia McQueeny, aparecer na tela.
Deirdre atendeu, em um piscar de olhos.
― Deedee? Onde você está? ―
A voz de sua mãe era tão fraca e vulnerável que lágrimas brotaram dos olhos de Deirdre. Ophelia era mentalmente atípica e sua mente equivalia à de uma criança.
Desde que Deirdre concordou em se tornar a esposa substituta de Brendan mudou sua mãe para uma casa, onde recebia todo o cuidado e atenção que precisava, de uma enfermeira dedicada.
Com medo de que algo grave tivesse acontecido. Deirdre fungou, secando suas lágrimas e entrando em estado de alerta, antes de responder:
― Oi, Mamãe. Estou, em casa, com Brendan. Por que você está me ligando? Onde está Engel? ―
Ophelia parecia confusa:
― Engel foi embora. ―
― Foi embora?! Você está aí sozinha?! ― Deirdre repetiu, sentindo-se atordoada. A enfermeira de sua mãe, Engel, nunca saia do lado dela ― onde ela foi? ―
― Eu não sei... ― a insegurança de Ophelia evoluiu para um estado de pânico ― Deedee, esta casa é de outra pessoa? Algumas pessoas vieram aqui. Eles quebraram coisas e me empurraram, dizendo que queriam que eu desse o fora. Eles disseram que iriam me internar em um asilo. O que é isso? ―
― O quê?! Deirdre ficou estupefata.
Mas, antes que ela pudesse reagir, ouviu o grito de Ophelia:
― Ahhh! Me solta! Por que você está me agarrando?! ―
― Mamãe?! Mamãe! ―
A ligação foi interrompida, deixando apenas os gritos inúteis de Deirdre ecoando no vazio. Ela sentiu seu coração palpitar e entrou em ação, apesar de estar tonta. A mulher correu para a rua e parou um táxi.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rancor Rejeição e Arrependimento