Vanessa romance Capítulo 45

VANESSA DE PAULA

Eu sabia que isso poderia acontecer e por mais que saibamos nunca estamos preparados para lidar com a morte, Minha tia Lurdes morreu na mesa de cirurgia após sofrer três paradas cardíacas, o seu corpo já muito debilitado não resistiu a algo tão invasivo.

Volto a me sentar na cadeira sentindo as forças abandonarem meu corpo, agora eu posso falar que sou sozinha no mundo, tia Lurdes se foi não tenho mais família.

Olho para Miguel e para Rafa e a semelhança entre eles são tantas que só um cego não é capaz de ver a verdade, eles são pai e filha e pela primeira vez eu invejo o Miguel por isso, quero a Rafa pra mim! Queria tanto ser mãe dela que sinto meu peito doer, ter uma filha, alguém sangue do meu sangue e saber que não estou só no mundo e Miguel tem e não valoriza, se a Rafa fosse minha eu só daria amor a essa menina linda.

__ Sua tia morreu nessinha? Eu sinto muito!

Rafa é a primeira a me abraçar, ela é tão sensível, um amor de menina, abraço de volta e desfruto do seu abraço gostoso e verdadeiro.

__ Eu perdi minha mãe e está tudo bem nessinha estou sendo forte, vai ficar tudo bem com você também, você é forte também e você tem a mim!

__ e você tem a mim Rafa e sempre vai me ter, nunca vou te abandonar!

Aperto mais ainda nosso abraço para que ela possa acreditar nas minhas palavras e sinta que estou sendo totalmente verdadeira com ela,

mesmo tão pequena Rafaela é sensível a minha dor, assim como eu, ela também teve que amadurecer cedo, eu vou cumprir minha promessa enquanto puder de nunca deixar a Rafa sozinha.

Abro os olhos e vejo Miguel nos encarando com um vinco enorme formado em suas sobrancelhas, ele nos observa sem nos interromper, e agradeço silenciosamente a ele por isso.

Rafa me solta e volta a sentar e sua cadeira, Miguel se aproxima e me consola do seu jeito sério, a preocupação em seu rosto é tão visível.

__ Não se preocupe com nada bebê eu vou cuidar de tudo para o sepultamento de sua tia.

Só balanço a cabeça confirmando, Miguel se afasta e o vejo ao telefone fazendo uma ligação atrás da outra, em seguida volta para perto de mim.

__ Miguel quero enterrar tia Lurdes em sua terra!

__ Claro bebê será tudo com você quiser.

Não seria justo enterrá-la aqui, ela merce um enterro digno no lugar onde nasceu, viveu e cresceu, um velório com direito a uma despedida como ela merece com seus amigos e vizinhos, e não uma cerimonia vazia.

Miguel faz mais algumas ligações e fico impressionada como quem tem dinheiro consegue tudo, o corpo foi liberado da autópsia tão rápido, se fosse um pobre só liberaria o corpo no outro dia e olhe lá.

__ Já está tudo certo para o translado do corpo bebê, e o nosso helicóptero vai sair em meia hora.

__ A Rafa vai comigo, não vou deixá-la aqui sozinha.

Ele não fala nada e agradeço por respeitar meu luto, arrumo uma pequena mochila, tomo um banho e rafa faz o mesmo, logo estamos entrando num helicóptero de luxo.

Nunca tinha voado num helicóptero mas também nem tive tempo para apreciar a viagem, minha cabeça estava cheia de coisas.

Chegar na casa de tia Lurdes e não a ver ainda era difícil, tudo na casinha humilde lembrava a ela, tudo!

Os quadros em preto e branco pendurado nas paredes, as tartarugas na estante que não paravam de balançar a cabeça, um pano marrom redondo de crochê em cima da mesa com uma vaso de flor de plástico, sem falar no cheiro de lavanda que está por toda casa.

__ Vou passar um café, logo vai está cheio de gente por aqui.

Falo e me dirijo até a cozinha deixando Miguel e Rafa na sala.

A cozinha está limpinha do jeito que tia Lurdes deixou no dia que saiu para nunca mais voltar, lembro quando ela falou que estava com pressentimento que não pisaria mais aqui e ela estava certa.

Abro seu armário e encontro suas panelas tudo bem limpinha e arriada brilhando, se tem uma coisa que tia Lurdes sempre foi é limpa e isso eu aprendi com ela, coloco água pra ferver e logo o cheiro de café invade a casa, escuto conversas na sala mais não vou olhar, permaneço concentrada em minha tarefa.

Me vem fortes lembranças de quando eu era criança e colocava um banquinho para alcançar o fogão e assim preparar o almoço, tia Lurdes sempre trabalhando na casa de alguma madame esnobe para trazer um pouco de dinheiro e termos o que comer, ela nunca conseguiu ter filhos, nunca soube se o problema era nela ou no Sebastião, mas também com a vida que eles levavam acho até que foi melhor assim.

Choro um pouco sozinha e nem sei quanto tempo passei na cozinha, quando chego na sala me vem o baque de ver o caixão de tia Lurdes no meio da sala, levo a mão boca e nesse exato momento me deparo com a realidade, ela se foi.

Em baixo do caixão tem uma laranja aberta, as pessoas daqui dizem que isso tira o mau cheiro do defunto.

Me aproximo do caixão e seu rosto está coberto com fino véu, levanto e olho sua fisionomia, parece está com um leve sorriso no rosto, tia Lurdes não parece morta e sim que está dormindo.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Vanessa