A filha do meu padrasto (Depois da verdade) romance Capítulo 45

Eu pensei muito, e até não consegui dormir desde quando fui visitar o Rodrigo na prisão, eu tive que fazer um verdadeiro balanço de tudo, desde o início, nos mínimos detalhes, e tentei puxar na memória o tipo de cara que o Rodrigo foi pra mim.

Eu sou filha de psicóloga, então entender o comportamento humano é algo que ela domina, e por mais que eu tenha passado a minha infância e adolescência vendo ela analisar tudo, eu não me tornei tão boa nisso e eu tive que recorrer a ela pra tomar a decisão de fazer o que eu estava pensando em fazer.

Eu não odeio o Rodrigo, nunca odiei, eu odeio as coisas que ele fez, e a pessoa que ele se tornou depois disso.

O que leva alguém como ele a fazer tudo o que ele fez?

Mãe: Oi filhaaa? que milagre você me ligar, você pensa que eu não percebi que você anda fugindo de mim depois que largou a faculdade?

- Bom dia pra você também mãe, eu não larguei a faculdade, eu tranquei e volto no próximo semestre, e isso você já sabe porquê o papai já contou pra você.

Mãe: Eu sei filha, eu estou brincando com você, cadê o seu senso de humor? mas me fala, quando você vai trazer o Diego aqui pra gente conhecê-lo?

Em breve mamãe, mas não foi pra falar do Diego que eu estou ligando pra você.

Mãe: Então fale minha filha, está precisando de algo?

- Sim, estou precisando tirar umas dúvidas, e antes que você me pergunte, eu tenho bons motivos pra entrar nesse assunto.

Mãe: Ih, já sei que esse assunto é sobre o Rodrigo.

- Sim, é sobre ele...

Eu sei que cada pessoa reage aos problemas de um jeito diferente, e cada um tem uma realidade diferente. Mas, eu gostaria da sua ajuda pra analisar o comportamento do Rodrigo e definir quem realmente ele é de verdade.

Mãe: Ainda não entendi qual é a sua dúvida.

- Eu quero saber como alguém doce, amável, amigo, companheiro e fiel como o Rodrigo, de uma hora pra outra se transformou em alguém agressivo, manipulador, possessivo e infiel.

Eu passei dois anos com ele e ele nunca deu indícios de que era assim, e eu acho que ninguém nunca conseguiria esconder quem é de verdade por tanto tempo. Se o Rodrigo fosse realmente assim, você não acha que eu teria percebido nos primeiros meses de namoro?

Mãe: Sim, você teria percebido.

- Então me explica mãe porquê não faz sentindo.

Mãe: E porquê precisa fazer sentido pra você agora Mel?

- Porquê eu não quero deixá-lo pagar pelo resto da vida por algo que tem um fundamento válido, eu não quero que ele perca a chance de um dia ser feliz de novo. Tudo bem, ele foi um monstro, mas ele foi Mãe, mas ele não é esse monstro, eu sei, eu sinto e quero que quando ele sair da prisão ele tenha uma chance real de resgatar aquilo que ele realmente é.

Mãe: O que te levou a chegar nessa conclusão minha filha? você parecia tão obstinada a conseguir fazer ele pagar.

- Ele já está pagando mamãe, mas tem algo que ele pode perder que vai fazê-lo pagar o resto da vida, e eu não quero seguir com a minha vida acreditando que a culpa foi minha, sabendo que eu poderia ter feito alguma coisa mais não fiz.

Mãe: Tem pessoas que guardam traumas dentro de si por muitos anos, e eu não estou falando necessariamente que esse é o caso do Rodrigo, eu estou apenas lhe dando uma explicação que possa ter uma lógica.

Quando essas pessoas se veêm em situações parecidas com o que as traumatizou, elas criam um mecanismo de defesa pra que o estrago não se repita.

Em algumas situações, elas lutam pra defender aquilo que elas de fato tem medo de perder e usam da mentira, do engano e acreditam fielmente que estão fazendo a coisa certa pra proteger aqueles a quem ama.

Quando eles não conseguem, e acreditam que fizeram de tudo, eles aceitam que aquilo de ruim o define de fato e acabam aceitando que ele realmente é tudo de ruim que as pessoas dizem dele, depois dele ter falhado em suas tentativas, e eles passam a fazer valer cada palavra negativa que escutam.

- Você acha que foi isso o que aconteceu com o Rodrigo?

Mãe: Eu não posso afirmar nada Melissa, eu não o acompanhei de tão perto, não sei o que de fato ele passou, mas você pode fazer uma análise de tudo o que você viu e tirar a conclusão disso por si só.

- Tudo bem mamãe, obrigada por essa conversa.

Mãe: Por nada minha filha, eu não sei o que você está pensando em fazer, mas sei da sabedoria e da responsabilidade que você tem, e isso me deixa mais tranquila. Me ligue pra qualquer coisa que precisar.

- Tá bom mãe, te amo.

Mãe: Também amo você.

Ela desligou, e eu já havia chegado em uma conclusão.

Eu nunca quis encontrar justificativas pra nada que o Rodrigo fez, muito pelo contrário, eu quis e lutei pra que ele tivesse o castigo por todas as suas atitudes ruins.

Mas eu vi o Rodrigo de uma forma que ninguém nunca viu, eu conhecia suas fraquezas, suas vulnerabilidades e até alguns de seus traumas, e não existiu trauma maior do que ver os pais dele se separando e saber ao mesmo tempo que o pai dele não era nada do que ele imaginou ser.

Tudo o que a minha mãe falou, fazia todo o sentido, era como se eu tivesse reformulando na minha cabeça todo o processo do Rodrigo até aqui, todos os passos e atitudes que ele tomou pra chegar exatamente nesse ponto.

Tudo o que o Rodrigo precisava fazer era acreditar que é possível receber uma nova chance na vida, que é possível resgatar a essência inicial do próprio ser e o que aconteceu não o define.

As vezes acho que fui dura demais com ele, eu deveria ter sido a pessoa a estender a mão pra ele, não com a intenção de reatar o nosso namoro, pois isso não teria volta de nenhuma forma, mas de saber que ele de fato não é essa pessoa que ele demonstrou ser.

Todos nós temos demônios que estão apenas esperando o momento mais propício pra vir a tona, temos segredos que ninguém pode saber, e traumas que ninguém conhece.

O mundo anda muito chato, e tudo ficou tão superficial que ninguém sabe mais quando um amigo passa por problemas, ou quando existe uma tristeza profunda por trás de um sorriso.

Queremos ser seres humanos tão perfeitos que se alguém falhar, apontamos os nossos dedos acusadores e esquecemos que a qualquer momento pode ser a gente a ter dedos apontados em nossas direções.

O mundo está repleto de pessoas hipócritas e egoístas, que abrem suas bocas e gritam aos quatro ventos que alguém, cujo o interior não conhecem, não é digno de uma segunda chance.

A verdade é que o mundo querendo ou não, todos nós somos dignos de uma segunda chance.

No dia seguinte eu iria viajar sem data de retorno, e eu não iria sem antes contribuir pra segunda chance do Rodrigo.

Peguei o meu celular e fiz uma ligação que eu pensei que nunca mais faria novamente na minha vida, eu liguei pra Laura.

Laura: Melissa?

- Oi Laura, tudo bem?

Eu pensei que ela iria me tratar mau, mas não foi isso que ela fez.

Laura: Eu estou bem, que surpresa você me ligar minha linda.

- Que bom que você não está com raiva de mim.

Laura: Porquê eu estaria Mel? eu ainda devo desculpas a você por não ter dado ouvidos as suas desconfianças, espero que me perdoe.

- Já passou Laura, na verdade estou te ligando pra saber se podemos nos encontrar, gostaria de conversar com você e com o Pyter.

Laura: Como o Pyter? aconteceu alguma coisa entre você e a Yanka?

- Não, eu e a Yanka estamos bem, mas o que preciso falar é importante, e eu vou precisar viajar por um tempo, não sei quando volto e gostaria de ter uma conversa com vocês antes de eu ir.

Laura: Quando você vai?

- Eu vou amanhã, então essa conversa teria que ser hoje. Pode ser?

Laura: Tudo bem, podemos marcar na minha casa hoje a noite?

- Claro, que horas?

Laura: Acho melhor umas 20:00, pois é o horário que chegamos do trabalho e pedidos algo pra jantarmos.

- Combinado, estarei lá.

Se eu falasse tudo o que estou planejando pro Diego, com certeza ele tentaria me impedir, talvez fosse até um motivo pra ele cancelar a nossa viagem, então preferi não falar pra ele.

Não acho que estou sendo precipitada em tomar a atitude que vou tomar, acho que é o certo a fazer, por mais que de início eu tenha ficado com raiva por encarar a realidade dos fatos, afinal, quem gostaria de saber que seu ex ama a pessoa que foi o pivô do fim do relacionamento?

Eu falei sério quando disse que eu e a Yanka estávamos bem, eu não sinto mais raiva dela, muito pelo contrário, eu acho que ela agiu como agiu por pura imaturidade.

O dia passou correndo, e quando me dei conta a noite já havia chegado.

O Diego estava começando a estranhar o fato de toda noite eu desmarcar com ele dando uma desculpa pra não o encontrá-lo, logo depois da gente ter engatado um namoro, mas eu não tinha outra escolha, e nem outro tempo pra fazer o que precisava ser feito.

Tomei um banho, me arrumei e fui ao encontro da Laura.

Durante o trajeto fiquei repassando na minha cabeça tudo o que eu precisava falar.

Estacionei o meu carro e toquei a campanhia da casa em que eu vivi as melhores e as piores lembranças.

Laura: Oi Mel, seja bem vinda novamente, falou enquanto me dava um abraço apertado.

Entre o Pyter está lá dentro nos aguardando.

Assim que cheguei na cozinha, percebi que o Pyter estava tenso, talvez a minha presença tivesse o feito pensar que eu traria mais problemas pra ele resolver.

- Boa noite Pyter, o cumprimentei.

Ele tentou ser amigável, apesar de eu saber que ele não queria estar ali.

Pyter: Boa noite Melissa, sente-se, espero que goste da refeição.

Laura: Mel, fica a vontade, você já sabe como funciona, a Isabel nem sempre está aqui pra nos ajudar, sirva-se, falou rindo.

- A comida parece estar boa.

Laura: É do mesmo restaurante que você gosta.

Conversa franca 1

Conversa franca 2

Conversa franca 3

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