João acordou com o barulho de notificações de mensagens no celular. Foi conferir e eram de Andreas. Ele o chamava para encontrá-lo às 10:00 horas em uma cafeteria de luxo que os dois costumavam frequentar desde a faculdade. Haveria uma reunião importante com um cliente em potencial de uma grande conta e os detalhes precisavam ser acertados. A mensagem terminava com um: "Deixa de mania e usa o carro, vai acontecer mais cedo ou mais tarde”.
João tomou um banho, colocou uma roupa e se dirigiu ao café. Deu uma olhada para a casa ao lado e constatou estar toda fechada, ela ainda deveria estar dormindo. Era perturbador pensar em como os seus pensamentos iam cada vez mais naquela direção, em como ela estava, o que estaria fazendo. Depois do acidente, ela passou a fazer uma parte sólida de seus pensamentos, mas desde que a conheceu melhor, eles estavam ficando cada vez mais intensos. Refletiu sobre isso por todo o caminho até a cafeteria, e ao chegar lá, Andreas já estava esperando por ele.
— Veja bem, meu rapaz, eu acho que esse não é o ambiente certo para um homem da sua nova classe social. —gracejou o amigo, quando João chegou à mesa que sempre ocupavam e que ficava em frente a uma janela. Sentou-se na cadeira que fazia frente para a dele.
— Veja bem quem está sendo esnobe agora, meu amigo. Além disso, eu não preciso me preocupar com isso, porque é você quem vai pagar hoje.
— Eu não acredito que depois de todos esses anos você vai quebrar a tradição e me fazer pagar a conta!
— E eu, não acredito que você quer que pague a conta deste lugar, o cara que chegou dirigindo aquele carro estacionado ali. —disse João apontando para o carro de segunda mão que estava estacionado logo à frente, em um lugar possível de se ver da janela em que estavam.
Andreas deu de ombros, rendendo-se.
— Tudo bem, só porque você demonstrou bravura em vencer os seus medos e vir até aqui nele.
João deu de ombros.
— Não é a primeira vez que eu o uso. Não é potente nem confortável, mas entrega o básico.
— Claro, ele anda. – brincou o amigo.
— E só isso! – declarou João e os dois riram.
— Mas, o que te fez se aventurar a usar ele, já que hoje não foi à primeira vez?
— A Céu queria comprar umas coisas novas para a casa, e eu me ofereci para levá-la.
Andreas o encarou com curiosidade, levantou a sobrancelha e perguntou em um meio sorriso.
— Céu?
— É, Maria do Céu. A vizinha lembra? — João se fez de desentendido.
— Aham, só não sabia que as coisas já estavam nesse nível. – A garçonete chegou com os cafés que Andreas já havia pedido, por conhecer o gosto do amigo.
— Ué, é que ela faz questão de ser chamada assim. Me disse que Maria do Céu soava muito religioso.
— Já está tudo pronto. Mas a conta é grande, tudo tem que sair perfeito.
— Relaxa, a gente trabalhou muito nisso, não tem como dar errado. Você vai, diz aquilo que combinamos, sobre eu estar doente. Já apresentou projetos várias vezes. Agora vamos para as possíveis dúvidas que eles podem ter, as respostas têm que estar na ponta da língua.
Terminaram de tomar café e debater possíveis brechas no projeto e soluções para elas. Já era quase 1:00h da tarde quando se deram por satisfeitos com os planos. João tinha quase certeza que ia ser convidado para a casa ao lado esta noite, quase, pois a garota conseguia ser bem imprevisível quando queria. E o que era aquela língua afiada? Não estava esperando que ela fizesse um comentário como àquele da noite anterior, sobre ele ir nu para a casa dela. Quem a olhava imaginava uma mulher calma, comedida e humilde. Já havia tido uma amostra do seu temperamento em seu escritório, no dia do fatídico acidente, as suspeitas iniciais só se confirmaram. Discordar dela devia ser uma aventura, e não das mais seguras de se viver.
Resolveu comprar algo, para não chegar de mãos abanando, mas o quê? Não haviam conversado muito sobre gostos e hábitos. Poderia levar um vinho, mas não sabia se ela gostava de beber. Alguma coisa para a casa talvez. Não podia ser algo muito caro, para ela não achar estranho. Também não podia pedir para a sua secretária escolher dessa vez. Deu voltas e voltas por um punhado de lojas e não conseguia se decidir. Meu Deus, como era difícil escolher um simples presente. Se fosse qualquer outra mulher, das que ele costumava se relacionar, seria mais simples. Mas a Céu era totalmente o oposto de qualquer uma delas.
Quando passava em frente a uma loja de decoração, viu um quadro na vitrine, soube na hora que era o presente certo para ela. Tratava-se de uma montagem com diversos cartazes de filmes famosos, de todos os gêneros, com uma bonita moldura ao redor. Poderia apostar que ela já havia assistido a todos que estavam representados ali. Entrou na loja e comprou o quadro, a vendedora fez um bonito e enorme embrulho para presente e entregou a ele.
Chegou em casa já eram quase 5:00 da tarde e em seguida recebeu uma mensagem no zap que dizia: ''Na minha casa às 7:00h. Vou cozinhar e você vai apreciar o esforço. Não prometo mais nada!"
Ele sorriu ao ler e imaginou que tinha feito bem em comprar o vinho, afinal, pelo que sabia, era de bom-tom levar uma bebida quando se era formalmente convidado para o jantar.
Respondeu apenas com um: "OK. Anotado!" E foi tomar um banho, como os planos eram jantar e assistir TV resolveu colocar uma roupa confortável. Vestiu uma camiseta branca e uma calça de abrigo cinza. Não pegou casaco, pois fazia calor, ainda estava se acostumando com aqueles ambientes com climatização natural, sem ar-condicionado.
Ficou pronto muito antes do horário, então resolveu ligar para Andreas e saber como havia sido a reunião. Como esperado, fora um sucesso e a conta era deles. Mais uma vitória para o time. Satisfeito, ele se dirigiu para a casa da vizinha quando o relógio do celular marcou 19:00 horas.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A vizinha do CEO
Livro ótimo, quero mais capítulos cadê, já estou ansiosa, pra ver o desfecho desse casal....