Guadalupe
Não estava sendo nada fácil recomeçar tudo, aprender a andar por aquela nova casa e ter que lidar com Igor e com os outros empregados da casa pois alguns não me aceitavam no lugar de Lucília tão pouco tempo depois de sua morte, mas esse era o preço que eu tinha que pagar para ser mãe.
Ele sempre tem me respeitado como ama de Benjamin e nunca se aproximou de mim tendo outras intenções, mas eu sei que Igor cedo ou tarde vai se aproximar e querer algo mais íntimo.
– Guadalupe, sua mãe está aqui e quer te ver. – Célia uma das empregadas, avisou para a moça.
– Traga ela aqui, por favor! – Eu gosto tanto de cantar para ele dormir, mas dentro de mim vivas e ainda existem dúvidas e muitos questionamentos. Eu senti meu bebê no ventre, ativo e cheio de vontade de vir ao mundo até pouco tempo antes do parto, mas só Deus sabe o real motivo de tudo isso ter acontecido.
– Filha? Como você está? – Ester perguntou.
– Bem mamãe, estou feliz que a senhora esteja aqui.
– Na primeira vez que vim, você não quis me receber Lupe. Não entendo por que quer nos fazer sofrer assim!
– Me perdoe por isso, tudo estava muito recente e eu quis evitar mais confusões. Quer segurar ele um momento?
Ester – Claro que sim.
Mamãe pegou ele dos meus braços, sei que isso poderia encher o coração dela assim como fez comigo. Talvez assim, ela pudesse entender a minha escolha se um dia conseguisse ter amor por ele.
– Ele é um belo rapaz, não se parece com o pai e tampouco com a finada mãe.
– Eu nunca imaginei que um amor maior do que o que eu tenho por Atílio pudesse existir.
– Esse bebê não é seu filho Guadalupe, quando se der conta de ter perdido o amor dele eu sei que você vai sofrer.
– Ele não é meu filho de sangue mãe, mas ainda assim é meu. Atílio merece ser feliz e espero que consiga uma boa mulher que o faça feliz.
– Aprendi a amar Atílio como meu filho, sofro ao ver como ele vivido. – Ester disse fazendo com que eu me emocionasse, mas precisava parecer forte.
– Isso vai passar, tudo isso vai passar um dia mamãe!
– Dona Ester, bom dia. – Igor a cumprimentou.
– Bom dia Igor, já estou de saída. Apenas vim saber como minha filha está.
– A senhora já vai?
– Sim Lupe, aqui está o bebê. Tenho que ir cuidar dos afazeres. – Ela me entregou Benjamin.
Igor
Ester não disfarçava o quanto me odiava pelo que estou fazendo, não entendo por que tanto rancor. Só quero dar a filha dela o que ela precisa para ser feliz a alcancei antes que cruzasse a porta para sair de minha casa.
– Não me trate dessa forma tão fria dona Ester! – Eu pedi, mas ela não está disposta a abrir o coração para me aceitar como genro.
– O que está fazendo com a minha filha e com Atílio, não é certo.
– E o que eu deveria ter feito, deixar meu filho sofrer de fome e Guadalupe com as mãos vazias?
– Não tente me enganar como fez com ela Igor, sei que sua esposa e filho morreram a dias e o estava alimentando com alguma outra moça da região. Fez isso de caso pensado, sempre quis minha Guadalupe e estava esperando uma oportunidade como essa.
– Se sabe disso dona Ester, aconselho a senhora a não cruzar meu caminho. Veja como sua filha está realizada com meu herdeiro no colo, se for contra ela assim como Atílio, vai perder o amor de sua filha!
– Um dia ela vai se dar conta do que você fez, estarei esperando por ela e sei que Atílio também. – Ester gritou aquela afronta comigo e saiu, por mais que eu não quisesse me abalar com as coisas que ela me disse era impossível. Atílio sempre vai ser o homem que ela ama, mas eu sempre serei o pai do filho que ela escolheu amare assim vamos seguir até o final dos nossos dias. Voltei para o quarto, ela estava chorando e sequei suas lágrimas.
– Por favor não sofra mais Lupe, Atílio não te ama como eu posso te amar. Vamos construir um sentimento e eu juro a você que farei tudo para que seja feliz.
– Eu vou seguir em frente! – Guadalupe me disse e eu peguei suavemente em sua mão.
– Estou indo para a cidade, você precisa que eu te traga alguma coisa?
– Não, pode ir tranquilo.
Atílio
Mergulhei minha mente no trabalho, passei a cuidar pessoalmente de tudo o que envolvia a fazenda. Sebastião é meu braço direito no trabalho e a fazenda estava prosperando mais do que nunca, fomos para a cidade encomendar alguns insumos.
– Bom dia vizinho! – Não pude acreditar que aquele maldito estava falando comigo.
– Por favor patrão, não entre na provocação dele. – Sebastião disse se colocando entre nós dois.
– Não cante vitória Igor, Guadalupe pode ter escolhido ficar ao seu lado, mas as noites de amor e juras que fizemos para sempre estarão vivas dentro de mim e dela.
– Palavras, apenas palavras Atílio. – Igor sorria, me deixando ainda mais furioso e a ponto de cometer uma loucura.
– Vamos embora Atílio. – Sebastião disse me puxando e evitando uma desgraça.
Saí de lá, mas minha vontade era de acabar com aquele maldito sorriso dele. Sebastião e eu entramos no galpão...
– Eu às vezes acho que estou vivendo um pesadelo e que a qualquer instante, vou acordar e ela vai estar em casa esperando por mim Sebastião.
– Não sei o que posso dizer para ajudar o senhor a sair desse sofrimento patrão!
Gabriel
Eu estava ajudando meu pai com o trabalho do rancho, depois de ter saído da casa de Atílio eu voltei a ajuda-lo. Não conseguia aceitar tudo o que estava acontecendo na minha vida e nem na vida de Guadalupe.
– É melhor você ir para casa Gabriel, não está fazendo o serviço direito. Sua mente não está aqui.
– Me perdoe por isso pai, estou tentando ser um homem e te dar orgulho, mas cometo uma falha atrás da outra. – Eu sabia que a culpa por tudo isso era minha, mas não sabia como eu poderia consertar isso.
– Você tomou decisões equivocadas na vida, mas é jovem e pode consertar todas. Por que não começa confessando o que sente por Jamile?
– Como o senhor sabe que sofro por ela? – Perguntei olhando nos olhos do meu pai.
– Por que sou seu pai e desde que saiu da casa de Atílio, você nunca mais sorriu.
Meu pai me deu as rédeas do cavalo, montei e fui até a escola para conversar com ela e ser homem o bastante para confessar o amor que sinto. Assim que cheguei percebi que estava vazio, abri delicadamente a porta e vi o que jamais quis...Jamile e Paulo se beijando dentro da sala de aula.
– Jamile? Esse era o amor que você dizia sentir por mim? – Perguntei interrompendo aquele momento horrível.
– Ela não te deve mais explicações, não é mais sua esposa.
– Paulo, me desculpe por isso, mas pode me deixar a sós com Gabriel? – Jamile pediu a ele.
– Vai voltar para esse homem que nunca te amou? – Paulo ainda tentou argumentar com ela.
– Depois eu converso com você, agora vá!
Minha vontade era de matar aquele maldito, Atílio havia permitido que ele estudasse durante um período e depois poderia voltar ao trabalho. Acho que já estava instruindo o maldito, para ser seu genro em breve.
– Eu não esperava isso de você, não assim tão rápido Jamile.
– Agora sou eu quem fala Gabriel, como Paulo disse, eu não te devo explicações. O mundo mudou, posso e vou refazer a minha vida em você não tem direito de me exigir nada!
– Tenho direito por que ainda somos casados perante Deus, e eu estou aqui para te pedir perdão pelo que fiz a você todo esse tempo.
– Está mentindo de novo. – Jamile me respondeu com muita certeza.
– Não, não estou mentindo. Eu te amo, demorei a entender e a amadurecer por dentro, mas eu aprendi com a solidão.
Jamile
– Tarde demais! – Me virei de costas para Gabriel, disfarçando o quanto eu estava rindo da situação.
– Não sou o genro que seu pai queria, mas sou o único que pode te fazer feliz.
– Diga mais uma vez. – Eu pedi, como eu esperei por esse momento.
– O que?
– Que me ama!
– Eu te amo Jamile, te amo e quero que volte para mim.
– Não vou voltar para você – Virei-me para Gabriel e nos olhamos, nos olhos. – Não vou voltar por que nunca estivemos juntos, proponho que a gente comece de novo.
– Eu aceito, minha linda. – Ele veio para me beijar, mas eu recuei dizendo.
– Eu acabei de beijar Paulo.
– Pouco me importa. – Gabriel aproximou sua boca da minha.
Nos beijamos, era claro o quanto eu amo esse estúpido e por mais que eu quisesse dar uma lição maior nele...acho que esses meses fizeram o que deveriam para nos unir.
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