Amelie
"Eu, Amelie Ashwood, rejeito você, Tate Cozad, como meu parceiro. EU TE REJEITO!", grito antes de pegar a lâmina de prata que acabei de mergulhar numa tigela com meu próprio sangue e levá-la até minha marca de parceiro. A dor lancinante que meu corpo e minha loba sentiram foi como se meu coração estivesse sendo arrancado do peito enquanto eu era atingida por um caminhão. Acho que todos os recomeços são felizes e radiantes, menos o meu. A dor física era insuportável, mas minha cabeça estava no lugar. "Consegui. Estou livre." Desmaiei nua, cheia de sangue e sozinha, mas livre. Depois de dez anos eu estava... estava livre. Completei o ritual de rejeição me marcando como quem rejeita o parceiro, os chamados "Marcados", também conhecidos por serem párias na comunidade. Eu não só rejeitei meu parceiro mas minha antiga alcateia, toda minha identidade a essa altura. De novo fui marcada, mas não como os outros: agora irei levar a marca negra feita pela lâmina de prata, tendo rejeitado o parceiro feito só para mim pela deusa.
A sensação de perda era um mau presságio. Quando acordei, uma enxurrada de emoções confusas me atingiu. A dor física havia diminuído; agora, era hora do meu coração partido finalmente botar tudo para fora. Não só sou uma Marcada como também perdi a capacidade de me transformar. Não perdi minha loba, Inari. Ela estava lá, só que fraca. Nós estávamos cientes do que todas as consequências do ritual de rejeição significavam e do que fariam conosco fisicamente. Mas o prazer da liberdade superava a dor física. Finalmente estamos livres. Eu me levanto do chão molhado da caverna. Não consigo ficar em pé, mal estou ficando sentada. Minha mente vagueia por tudo que perdi à custa de me livrar do laço com meu parceiro.
Deixei a alcateia do meu pai para me juntar a do meu parceiro. Construí uma vida para mim e para ele. Eu tinha um pequeno negócio onde fazia e vendia minha joias, mas isso também se foi. Ou melhor, foi tirado de mim. Tive que pagar o preço pela Rejeição ao Alfa Mason, mas nunca vou me arrepender do que fiz. Me levanto do chão frio da caverna, minha força voltando um pouco, e coloco as roupas que preparei para mim.
Enquanto colocava o sutiã, a alça ficou presa na ferida recém-aberta. Eu tinha que olhar para aquela marca feia que viveria comigo pelo resto da vida. O Marcado é sempre visto como portador de má sorte. Não me importo. A marca do meu antigo parceiro vai sumir. Nós lobos somos animais sociais, desejamos uma alcateia e uma família. É por isso que a maioria dos parceiros ficam juntos mesmo quando as coisas estão feias. Eu também era assim, mas não com a alcateia que eu tinha, não com a vida que levava.
Enquanto terminava de me vestir, pensei no que me aguardava. Não havia muito acontecendo na minha vida. Estou com trinta anos agora, não sou mais jovem. Estava quebrada desde que perdi meu negócio. Ainda me lembro de quando ficava assustada com os rumores da velha que morava na periferia da cidade, levava a marca da rejeição e comia criancinhas. Mas agora, ironicamente, eu, outra portadora da marca, sou um pesadelo para essas crianças. Às margens da sociedade, sozinha. Bom, pelo menos terei paz.
Antes de completar o ritual de rejeição, fui aceita de volta à alcateia do meu pai. Ajudava a diminuir a dor que o ritual de rejeição causava. Olho para o meu ombro e vejo a marca verde-escura do Freixo, que me dá alguma força para seguir em frente. Minha sorte era ser filha do Alfa da Alcateia do Freixo, a maior do norte do Centro-Oeste e uma das mais influentes da América do Norte. Eu não tinha muito mais que isso. Meu pai amava meus irmãos e eu. No entanto, eu era uma esquisitice total na comunidade de lobisomens. Eu era a filha mais velha do Alfa, nascida antes dos meus pais encontrarem seus parceiros. Minha mãe, Ann, era filha do Beta do meu avô. Meus pais cresceram juntos e acharam que seriam parceiros, mas não era o destino deles. Cresci na alcateia do meu pai, mas a da minha mãe também me aceitou. Contudo, o parceiro dela, Alfa Logan da Alcateia Montanhas Negras, não queria criar a filha de outro Alfa. Ele não me odiava, me amava, mas não queria outro Alfa intrometido nos negócios dele, e me ter na alcateia complicaria as coisas. Fiquei com o meu pai e a companheira dele, Celest.


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