Amelie
Nós dois éramos artistas. Foquei meus talentos no design de joias e abri uma pequena loja, onde fazia todo o processo de metalurgia. Também havia um pequeno sótão que eu usava para descansar de todos os pedidos para o festival algumas vezes no ano. Eu criava peças e designs personalizados, já que lobos não podem usar prata, mas, sendo mulheres, ainda gostamos de coisas brilhantes. Consegui me sair bem com a minha loja, mas meu parceiro não teve tanto sucesso em seus empreendimentos.
Ele era fotógrafo e era incrivelmente talentoso. As fotos dele me deixavam sem fôlego e me faziam querer viajar o mundo para que ele tirasse mais. Ele abriu uma pequena galeria, mas logo a fechou. O ego dele não conseguiu aguentar a crítica que vem ao vender uma arte. Todo mundo que passava sem dizer algo ou dar uma olhada era um ataque ao seu machismo frágil. Não demorou muito para o meu sucesso ser a minha maldição.
O pai dele morreu, e a mãe veio morar conosco, tomando conta da casa. Foi aí que a minha vida mudou completamente. Depois que a mãe dele se apoderou da minha casa, ela agia como se fosse a dona, e, apesar de a casa ser minha, obviamente, eu não podia dizer nada. Se eu tentava me pronunciar, eu estava desrespeitando a mãe dele e o desrespeitando. Me vi passando cada vez mais tempo na loja e inventando cada vez mais desculpas para o porquê de não ir para casa. O trabalho virou meu refúgio. Tate não trabalhava mais, e eu era a única que sustentava a família. Tinha que focar no trabalho e manter a comida na mesa. No entanto, eu nunca imaginei que até meu refúgio fosse ser tirado de mim.
Minha sogra não gostava que eu fosse a ganha-pão, já que era de uma geração mais velha e conservadora. Ela convenceu o filho de que ele é quem devia estar tomando conta das finanças, e ele logo se apoderou dos meus negócios. Tudo o que eu fazia era trabalhar sob seu olhar vigilante dia após dia. Perdi contato com todos os meus amigos e me esforcei ao máximo para manter as conexões com a minha família. Me tornei uma casca vazia.
Ele nunca me bateu ou abusou de mim fisicamente, mas seu abuso era o controle! Eu fazia todo o nosso dinheiro, mas mal tinha uma mesada, porque meu parceiro dava o que eu precisava. Eu não podia escolher o que comia, porque ele era fresco e não gostava de comida estranha. Ele controlava o que eu vestia, porque não queria que nenhum outro homem me olhasse, mas também não queria sentir vergonha de mim. Ele me controlava socialmente, porque eu não podia ter nenhum amigo: ele era o único amigo de que eu precisava. A única conexão que não conseguiu controlar foi a com o meu pai, o Alfa John, apesar de ter tentado de tudo em seu alcance para cortar esse laço.
Brigávamos com frequência, e ele tentava me depreciar em tudo. Se brigávamos por questões financeiras, ele me lembrava de que eu era uma bastarda que não deveria ter nascido. Eu era o motivo de a arte dele não ter dado certo, porque eu era uma maldição, então era mais do que justo da minha parte compensá-lo, lhe dando o controle do meu negócio. Minha linhagem completa era um segredo para a alcateia, pois eu não queria que isso prejudicasse meus negócios, e algumas pessoas com visões mais tradicionais não permitiriam que suas famílias comprassem de mim por não ser uma filha do destino. Ele ameaçava revelar meu segredo e me arruinar se eu não o obedecesse.
Se brigávamos por questões domésticas ou por causa da mãe dele, eu era apenas uma criança mimada por um Alfa. Ele me lembrava de que eu não tinha poder longe da alcateia do meu pai e de que ele é quem estava no comando. Eu não podia ganhar, não importava o que eu dissesse. Acabei desistindo, perdendo meu verdadeiro eu. Não, não perdi meu verdadeiro eu; arrancaram de mim quem eu era. Me tornei uma marionete ambulante. Nem sequer brigava com ele quando ele queria transar, porque eu não tinha paixão, não tinha mais desejo. Só queria que ele terminasse e saísse de cima de mim logo. Por fora, coloquei uma máscara da parceira perfeita para o homem ideal. Eu tinha muito medo do que mais ele tiraria de mim se eu desobedecesse.
A única coisa que ninguém podia tirar de mim era a minha criatividade. O que eu fazia era meu. Criei um espaço seguro em minha mente para onde eu ia nos piores momentos, nos mais solitários. Nele estavam todas as minhas futuras criações, era onde minhas inspirações viviam. Eu olhava para uma pedra áspera e um pedaço de metal e encontrava a verdadeira vocação deles. Eu sussurrava: "o que é que você nasceu pra ser?". Ao dizer isso, meus olhos ficavam marejados. Eu sabia que parte de mim estava dizendo isso para mim mesma. As pedras só respondiam quando eu as cortava e polia, mas ainda assim respondiam. Eu, no entanto, nunca respondi. A dor que a resposta trazia ao meu coração era muito grande para suportar.
Ser a filha mais velha do Alfa mais poderoso significava que, mesmo sendo adulta, eu ainda tinha responsabilidades. Meu irmão teria sua cerimônia de herdeiro, e eu, como irmã mais velha, deveria comparecer ao importante evento. Isso era feito quando o próximo Alfa completava dezessete anos, dando a ele tempo para encontrar sua parceira e aprender como administrar uma alcateia. Aos vinte e cinco, era esperado que ele assumisse o papel, e o Alfa anterior se tornava o líder dos anciãos da alcateia. Assim que o próximo Alfa assumisse, ele receberia a marca Alfa no ombro esquerdo, uma lua cheia, representando seu direito de governar a alcateia. A parceira do Alfa se tornaria Luna após uma cerimônia e receberia a Marca Luna no ombro, uma lua crescente, mostrando que completava o Alfa, que era uma fase de sua lua cheia. Senti um pouco de pena do meu irmão e da sua futura parceira. A pressão de assumir a Alcateia do Freixo era intimidante. Eles tinham uma responsabilidade e tanto nas costas.
Minha madrasta, Luna Celest, me ligou perguntando se eu e meu parceiro precisávamos de alguma coisa para a viagem. Eu estava tão animada, sentia tanto a falta deles!
Contudo, a cerimônia do meu irmão era o começo do fim, eu só não sabia ainda. Desliguei a ligação com a Luna Celest, animada com as notícias. Meu parceiro, no entanto, não estava feliz. Estava completamente irritado.

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