Sebastian olhou para Lis pelo retrovisor do carro ao parar em um semáforo vermelho. Ele havia ido busca-la no apartamento para ter certeza de que tudo estava indo bem, contudo a encontrou com o olhar perdido e mesmo questionando, nada respondia. Estalou a língua inconsciente ao pensar no que poderia falar para que ela demonstrasse alguma reação.
— Está tudo bem? – Sebastian questionou curioso ao avançar o carro com cuidado sempre mantendo os olhos na estrada a sua frente. Ele havia optado o caminho mais longo para chegar a universidade.
— Não – Respondeu ao olhar pela janela do elegante carro – Ser parte da família real é pior do que eu imagino?
— O que quer dizer?
— Torna as pessoas desconfiadas e amargas?
Sebastian não precisou pensar para responder com convicção.
— Sim.
— Então é como um veneno que impregna lentamente o sangue até a pessoa morrer – Deu de ombros ao suspirar – Espero escapar antes que eu seja contaminada com esse ódio e desconfiança.
Eu também espero. Sebastian pensou assim que estacionou o carro em uma vaga reservada para eles em Cambridge. Mas quando estava prestes a sair para a abrir a porta para Lis, a viu se afastar rapidamente pelo retrovisor.
— Tão impaciente quanto ele – Murmurou ao sorrir levemente.
Lis segurou com força a bolsa contra o seu corpo ao andar o mais rápido que conseguia para o maior prédio, onde a maioria dos estudantes estavam se direcionando. Ela só queria fugir de todos. De todos os monstros da família real. Assim que avistou um grupo de estudantes, olhou para atrás apenas para ter certeza de que Sebastian não a seguia ao se esconder entre eles, abaixando a cabeça em seguida.
— Eu estou tão animada, é a primeira vez que vou ver alguém da realeza – Uma voz feminina fez Lis erguer os olhos, assustada, esbarrando-se em outra pessoa, e no instante em que se virou para se desculpar, sorriu.
— Desculpa – Falou ao ver uma jovem de cabelos loiros cacheados com sorriso largo – Te machuquei?
— Isso acontece ainda mais em um lugar cheio assim – Respondeu sorridente ao olhar em volta – Você é novata como eu? – Lis assentiu – Eu também.
— É bom conhecer alguém assim, e sabe o motivo dessa confusão?
— Não, mas parece que alguém importante veio para uma palestra especial. Não entendi bem, estava comendo quando falaram. Eu acordei tarde e esqueci de comer – Coçou a cabeça fazendo seus cachos esvoaçarem com o vento. –Ah, meu nome é Katy.
—O meu é Lis. E para onde deveríamos ir?
— Auditório – Apontou para uma porta onde os estudantes entravam aparentemente animados. – O que acha de sentarmos juntas?- Lis concordou ao caminhar ao lado de Katy tentando não esbarrar nos estudantes, contudo assim que entraram não havia mais cadeiras vazias, e assim como os demais estudantes continuaram em pé encostadas em uma parede – Eu espero que a pessoa seja um homem e ele seja gato. Não quero ficar em pé pra nada.
Lis gargalhou se divertindo com os comentários e as expressões de Katy, e finalmente se viu sentindo-se mais livre.
— Por favor, silêncio – A mulher disse no microfilme assim que subiu no palco fazendo todas as atenções se voltarem em sua direção. A mulher possuía alguns fios grisalhos, vestia-se sobriamente com um conjunto marrom e mantinha uma expressão séria – Boas vindas aos novos alunos e espero que essa pequena palestra sirva para lhes dar alguma inspiração nesse início de ciclo na vida de vocês. – E sem falar mais nada abaixou o microfone e olhou para o lado esquerdo e então Lis empalideceu. – O Visconde Lagros, segundo príncipe Michael August Stone foi muito gentil em disponibilizar um dia em sua agenda para nos agraciar com a vossa presença. O visconde é um antigo aluno da universidade, foi sócio em uma empresa antes de terminar seus estudos e agora é um exímio investidor. – Lis não conseguiu respirar ao ver o sorriso largo de Michael ao acenar como se fosse uma pessoa normal.
— Por favor não – Murmurou em uma prece, rogando a Deus para que tudo não passasse de um pesadelo, mas assim que escutou a voz dele no microfone soube que era realidade.
— Fiquei impressionado com a quantidade de pessoas aqui, não imaginei que fosse tão popular – Michael falou atraindo risos da plateia – Bem, como sabem tenho trinta e dois anos e devido a isso sou um pouco mais experiente que vocês. – Sorrisos novamente preencheram o auditório – Me formei em matemática e relações internacionais, mas também frequentava algumas aulas de direito. Foram anos cansativos, mas ao mesmo tempo revigorantes. Quando me formei já estava trabalhando como sócio em uma empresa de computação, infelizmente precisei me afastar por alguns anos e quando retornei comecei a investir e percebi que era bom nisso. Quero dizer com isso é que devem buscar algo em que sejam especialmente memoráveis e investir o seu tempo nisso. Não importa o que seus pais ou amigos digam, façam o que mais amam e posso garantir que não vão se arrepender – Sorriu largamente ocasionando suspiros na maioria das mulheres – Ah, e para celebrar o meu noivado farei uma festa hoje a noite na parte leste da universidade, e por favor sejam gentis com a minha noiva, Lis Muller – Sorriu ainda mais ao ver os murmúrios se formando entre os alunos – Ela é uma estudante de direito.
Lis sentiu que se tivesse uma arma teria atirado no príncipe naquele instante ao fechar os olhos e os punhos com força. Ela tentava controlar a raiva que temia em aumentar a cada vez que os murmúrios aumentavam.
— Ela tem o nome parecido com o seu – Katy falou próxima ao ouvido de Lis, e somente então viu a jovem com o rosto avermelhado – Não me diga...
— Eu vou matar ele – Murmurou em desespero e raiva.
— Você é ela? – Katy gritou perplexa, envergonhada em seguida ao ver o modo como Lis abaixou a cabeça deixando seus cabelos cobrirem o seu rosto – Desculpe, é melhor sairmos daqui – Segurou no braço de Lis e passou pelos demais alunos afirmando que ela estava passando mal, e no momento em que se viu a sós, a soltou – Eu fiz besteira, desculpa.
— Está tudo bem, aquele desgraçado não iria manter algo assim escondido.
— Desgraçado... Está falando do príncipe? – Katy perguntou realmente confusa.
— Sim, mas isso não importa. Vou conseguir estudar de forma pacifica nem que eu tenha que mata-lo.
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