Apenas Clara romance Capítulo 1

— Clara, você já pensou bem? Tem certeza que quer se transferir para o Hospital Cidade R?

O Reitor Domingos segurava o pedido de transferência de Clara Rocha, olhando para ela com surpresa.

Os cílios de Clara Rocha tremeram levemente, e um sorriso amargo surgiu em seus lábios. — Já tomei minha decisão.

Vendo que ela estava decidida, Reitor Domingos suspirou, finalmente assinando o relatório de transferência.

Clara Rocha saiu do gabinete do reitor. No corredor, encontrou João Cavalcanti ao lado de Chloe Teixeira, ambos de jaleco branco, juntos com um menino.

Ela parou de repente.

Diante dos seus olhos, parecia a cena perfeita de uma família de três pessoas.

Chloe Teixeira caminhava de mãos dadas com o menino ao lado de João Cavalcanti, que segurava a outra mão do garoto. O sorriso do menino era radiante.

Aquela cena, sem dúvida, feriu seus olhos.

A paciência e a ternura que João Cavalcanti demonstrava com Chloe Teixeira e o filho dela, Clara nunca havia recebido.

Ela sabia: João Cavalcanti a odiava.

Chloe Teixeira fora o primeiro amor de João Cavalcanti. Só depois de se casar com ele — graças a um acordo feito com vovó Patrícia — Clara descobriu que os dois tinham terminado.

Para João Cavalcanti, ela era a mulher oportunista, que se aproveitara da situação e usara outros métodos para conseguir o que queria.

Mas ele nunca soube.

Ela conhecera João Cavalcanti antes de Chloe Teixeira, só que ele não se lembrava...

Ela pensou que, ao se casar com João Cavalcanti, ele acabaria se lembrando dela.

E que conseguiria aquecer aquele coração gelado.

Mas estava totalmente enganada.

Ele a odiava.

Como poderia amá-la?

Se não fosse assim, depois de seis anos de casamento, ele não continuaria dizendo ao mundo que era solteiro, nem fingiria não conhecê-la.

— Dra. Clara? — Chloe Teixeira a viu.

João Cavalcanti, porém, franziu a testa e a encarou.

Parecia temer que ela revelasse qualquer coisa sobre o relacionamento deles.

Aquela frieza fez o coração dela doer por um instante, mas logo recuperou a serenidade. — Dra. Chloe. Presidente Cavalcanti.

João Cavalcanti havia investido recentemente no Hospital Atlântica Sul, tornando-se sócio do hospital.

Mas Clara Rocha sabia: ele não tinha investido por causa dela, e sim por Chloe Teixeira.

Foi João Cavalcanti quem providenciou a entrada de Chloe Teixeira no hospital, assim que ela voltou ao Brasil, já assumindo o cargo de chefe da cirurgia.

Todos sabiam que Chloe Teixeira tinha o apoio de João Cavalcanti e, diante dos boatos de que ele era namorado dela, João Cavalcanti nunca se preocupou em desmentir.

O pedido de transferência de Clara Rocha ainda não era público, e ela também não contou para João Cavalcanti, pois não via necessidade.

Afinal, ele provavelmente nem queria saber.

Ela foi de carro até a antiga casa da família Cavalcanti e tocou a campainha.

Logo, a empregada Liliana atendeu. — Senhora Clara, a senhora voltou?

— A vovó está em casa?

— Sim, a senhora Patrícia está, pode entrar. — Liliana era muito respeitosa com Clara Rocha.

Vovó Patrícia era a matriarca respeitada da família Cavalcanti. Depois da morte do avô de João Cavalcanti, ela passou a comandar todos os assuntos da família.

Vovó Patrícia era do sul do país, filha de uma família tradicional de grandes empresários. Quando jovem, sempre foi uma mulher forte e determinada. Mesmo a sogra, que não gostava dela, não se atrevia a contrariá-la.

Liliana levou Clara até uma sala de orações. Vovó Patrícia estava ajoelhada sobre uma almofada, passando um terço de contas entre os dedos.

— Senhora, a Clara chegou.

Vovó Patrícia abriu os olhos devagar e virou-se. — Venha se sentar.

Depois que Liliana saiu, Clara ajoelhou-se ao lado da avó, fazendo uma prece diante da imagem de Nossa Senhora.

Vovó Patrícia era devota, muito tradicional, e frequentava igrejas com frequência, chegando a ficar semanas em retiro.

— Vovó, eu quero me divorciar do João.