Apenas Clara romance Capítulo 160

Ele lançou um olhar para o antigo relógio de parede, pendurado na sala — Você é pontual mesmo.

Clara Rocha ficou ali, em silêncio.

Diante do olhar indiferente dela, como se carregasse um ódio profundo, João Cavalcanti deixou escapar um leve sorriso.

— Está tão contrariada assim por eu ter pedido para você voltar a morar aqui?

Naquele momento, ela se sentia um tanto perdida.

Cada vez menos compreendia o temperamento daquele homem e não fazia ideia do que ele queria ao agir daquela forma. Achava até engraçado por dentro. — Antes, você também nunca pareceu muito disposto a dividir o mesmo teto comigo.

João Cavalcanti perdeu o sorriso. — Você se importa com o passado?

Ela não respondeu, apenas questionou: — Já aceitei voltar para cá. Quando pretende assinar os papéis?

Ele se recostou despreocupadamente no sofá, apoiando o polegar e os dedos na testa. — Depende do meu humor.

Clara Rocha se virou em direção ao quarto de hóspedes, pronta para fechar a porta, mas a silhueta dele a impediu.

Assustada, ela recuou um passo. — João Cavalcanti, o que você está fazendo?

— O que você acha? — João envolveu a cintura dela, e em dois, três passos, a deitou na cama, aproximando os lábios dos dela.

Ela ficou tomada pelo medo, as mãos apoiadas no peito dele, tentando fugir do beijo. — João Cavalcanti, não, eu não quero!

A respiração dele estava pesada, mas ao ver o terror nos olhos marejados dela, seus gestos se tornaram mais gentis. Murmurou rouco: — Eu não vou te machucar.

Depois do que havia acontecido da última vez, quando ele estava sob efeito de remédios, o trauma ainda a assombrava. Mas, dessa vez, ele se preocupou com o que ela sentia.

A diferença de força entre homem e mulher era gritante. Clara Rocha sabia que não conseguiria escapar e, mordendo os lábios, se entregou àquela tempestade de delicadeza.

No quarto, não havia mais nenhum feixe de luz. A escuridão aguçava todos os seus sentidos.

João Cavalcanti parecia outra pessoa de tão carinhoso.

Por um instante, Clara Rocha pensou que nenhuma mulher seria capaz de resistir àquele cuidado, nem mesmo ela, que acabou esquecendo tudo que veio antes, esqueceu até o quanto ele a machucara.

Na intensidade daquele encontro, ele a fez sentir algo avassalador, como se queimasse tudo o que tinham sido no passado. Ela odiava ceder, se desprezava por fraquejar, como se já não fosse mais ela mesma.

João Cavalcanti a tomou duas vezes, sem vontade de parar, até que ela chorou com a voz rouca, e só então ele a conteve.

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