Apenas Clara romance Capítulo 390

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Clara Rocha encarava o rosto à sua frente. Era perfeito, mas, ao mesmo tempo, exalava uma estranheza perturbadora. Apesar de já suspeitar das cirurgias plásticas, não era difícil perceber que havia certa semelhança no olhar com o de sua mãe.

Talvez fosse por isso que aquela sensação de familiaridade surgiu no primeiro encontro.

Ela voltou a si e perguntou:

— Já que você e minha mãe são gêmeas, por que está agindo contra mim?

Sarah Martins fechou a expressão.

Clara prosseguiu:

— Foi você quem alterou o resultado do teste da Gabriela Martins, não foi? Por que tanta resistência em permitir que a família Alves me reconheça?

— Também não imaginei que a família Alves conseguiria te encontrar — Sarah Martins balançou levemente a xícara de café nas mãos, o rosto tomado por uma sombra —. Afinal, se passaram mais de vinte anos. E aquela sua mãe, mesmo fora de si, acabou te reconhecendo. Engraçado, né? Apesar da loucura, em certas coisas ela ainda é bem lúcida.

— Mas ela é sua irmã...

— Cale a boca! — Sarah Martins largou a xícara com força sobre a mesa, respingando café por toda parte. Olhou fixamente para Clara, os olhos carregados de raiva, mágoa e rancor —. Você não entende nada! Irmã? Só porque temos o mesmo rosto, acha que na nossa família alguém nos tratava como iguais?

— Só porque Juliana Martins nasceu alguns segundos antes de mim, virou a filha mais velha do Grupo Martins, a preferida dos nossos pais, herdeira de toda a atenção e dos melhores recursos! E porque temos personalidades diferentes: ela sempre soube agradar aos mais velhos, enquanto eu nunca aceitei me submeter, sempre quis provar meu próprio valor, mas, no fim, nunca fui páreo para ela. E, pra falar a verdade, quem deveria ter se casado com seu pai era eu!

Clara Rocha ficou perplexa.

— Surpresa? — Sarah Martins soltou uma risada amarga —. É isso mesmo. No começo, a família Alves queria me indicar para o casamento, e eu fui a primeira a conhecer seu pai.

Ela levantou lentamente as mãos:

— Sabe por que nunca tiro isso? Quer ver?

Antes que Clara pudesse responder, Sarah tirou as luvas rendadas e revelou o dorso das mãos, marcado por cicatrizes grotescas, herança de várias cirurgias de enxerto de pele.

Clara ficou atônita, demorando a reagir:

— Isso é...

— Um incêndio há anos destruiu meu rosto e minhas mãos. Por isso precisei de cirurgias, porque meu rosto foi arruinado. — Sarah Martins encarava as mãos marcadas, ásperas, sem nenhum traço de beleza —. Eu era estudante de escultura, vivia do meu talento manual. O fogo acabou com minhas mãos. Nunca mais consegui criar uma obra perfeita.

Os olhos dela se encheram d’água, mas, num instante, ela já havia se recomposto:

— No meio da minha pior fase, aquela “irmã” se casou em grande estilo com a família Alves. Ela sabia de quem eu gostava, e ainda assim me apunhalou pelas costas!