Isabela Saladino
—O que eu estou fazendo aqui, ainda? — Eu me pergunto pela milésima vez.
Vim para o enterro, mas isso foi há três dias atrás. E agora? O que eles pretendem?
Allah! Parece um pesadelo sem hora para acabar. Eu me sinto tão culpada!
Se eu tivesse esperado ele chegar, se eu tivesse contado sobre a gravidez depois... Ele não teria vindo para a Inglaterra e não teria sofrido o acidente.
Estar nesse palácio, nesse clima péssimo, só piora minha tristeza. Ninguém me fala nada. Uma coisa é certa, sou uma mulher desempregada. O Sheik não consegue nem olhar para a minha cara. Mas isso é a última coisa que me preocupa.
Muitos árabes desprezavam quem se casa com pessoas de outra cultura. Eu sou meia-árabe. Sempre me vesti como tal e me comportei como uma mulher séria. Mas eu sei que esse meu deslize é algo inaceitável na nossa cultura. Agora eles me olham como uma mulher vulgar. E talvez até achem que eu dei o golpe da barriga.
No enterro o clima foi muito triste e pesado. O sheik estava com o semblante carregado, o irmão de Zein, Raed, ficou calado o tempo todo ao lado do pai. Ele vestia um terno caro e óculos de sol com certeza banhados à ouro de alguma grife famosa.
Eu estava do outro lado, junto de alguns parentes. Eles me trataram como se o direito de sentir dor fosse só deles. Sim, eles me julgam uma caça ouro. Ou talvez me culpam pela morte de Zein.
Bem, se for isso, eles não precisam me culpar. Será que eles não veem que eu já me sinto culpada o suficiente por todos?
Allah! Sabe o que acho que irá acontecer?
Eles vão me prender aqui, e depois que meu filho nascer, eles vão toma-lo. Nas tradições árabes, numa separação ou na viuvez, os filhos não pertencem as mulheres, mas sim a família do esposo.
Allah! Eu preciso ir embora.
Sumir.
Preciso procurar a minha tia. Explicar a situação. Ter o meu filho longe dessa família e recomeçar. A sorte é que estou com meu passaporte, mas o problema é sair daqui sem ser vista.
Vou até a janela e observo o movimento lá fora. Vejo empregadas circulando, umas varrendo, outras passando pano nas mesas. Então me lembro da conversa que tive com Raed antes de tudo acontecer.
Nesse dia eu estava no escritório traduzindo uma matéria para o Sheik quando ele entrou na minha sala. Ele estava usando um terno bem cortado evidenciando os ombros largos, o corpo rígido e musculoso. Ele com certeza é do tipo que faz academia, ou pratica esportes.
Ele estava bem barbeado, os cabelos escuros bem penteados. Minha boca seca e meu coração dispara, deixando-me sem forças quando me deparo com seu olhar.
Esse homem sobrepuja em força e beleza. Numa sala cheia de homens lindos como Zein, as mulheres olhariam para ele curiosas por causa dessa aura de poder que ele carrega. É tanta que eu não consigo imaginá-lo sem terno, com roupas descontraídas.
— Sabāha l-ḫair (Bom dia) Isabela. —Diz com um aceno de cabeça.
— Sabāha l-ḫair—Digo e me levanto, atenta ao seu rosto severo de traços marcantes. Do tipo que intimida, sem fazer força nenhuma, estranhando sua presença no escritório. — Você quer falar com seu pai? Ele não está. Pensei que soubesse, hoje ele...
—Sim, eu sei.
—Sabe?
—Eu vim para conversar com você.
—Comigo? —Engulo em seco.
—Meu irmão me falou sobre vocês.
Eu passo a mão nos meus cabelos, nervosamente.
—Você está enganado. Zein...
—Zein é um fraco. Depende de meu pai pra tudo. Ele não faz nada sem a orientação de meu pai, eu até me surpreendi quando ele falou de você.
Eu fungo e me levanto do sofá.
—Bem, obrigada por vossa preocupação.
Raed se levanta também.
—Por favor, não me leve a mal. Mas, quando ele me contou tudo, senti essa necessidade de avisá-la.
—Você teve o trabalho de viajar só pra me dizer isso?
Raed assente com uma expressão enigmática.
—Sim, meu irmão está agindo errado com você.
Eu caminho nervosamente até a janela, minhas mãos tremem.
—Você também não me acha suficientemente boa para a sua família, não é? —Pergunto sem me voltar para ele, ainda de costas.
Então ouço ele dizer:
—Eu não disse isso, apenas me achei na obrigação de avisá-la. Desde que você começou a trabalhar com meu pai, eu a tenho observado. Sei que é uma mulher íntegra e batalhadora. Mas isso não será o suficiente para sustentar essa relação. Meu pai tem outros planos para meu irmão.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Cativa do Sheik
➡️ São 2 EXTREMOS OPOSTOS... 🌎 No Ocidente as pessoas dizem se casar pelo "sentimento" amor, mas na verdade se casam por paixão, pois o amor verdadeiro não é um sentimento e sim uma AÇÃO ativa e comprometida... Aí obviamente os casamentos não duram, pois as pessoas se divorciam por tudo e por nada, basta um novo interesse pessoal surgir, alguém mais interessante aparecer, uma nova paixão começar, o tédio se manifestar... Tudo depende dos interesses pessoais, não há comprometimento real na maioria dos relacionamentos, apenas desejo fugaz... 🌏 Já no Oriente árabe as pessoas se casam meramente por convenções e conveniências, por interesses familiares, sociais, financeiros ou político-religiosos. E há poucos casos de divórcio, mas não porque os casais são comprometidos e felizes, mas sim porque os homens geralmente não querem romper com o que foi convenientemente estabelecido e as mulheres não tem direito de escolha. Ou seja: se é obrigado a suportar a união mesmo que seja tóxica. Além disso, o homem tem a opção de assumir a amante como segunda esposa, impondo-a para a esposa legítima, que não tem poder de negar. Assim é muito fácil dizer que poucos casais se separam... São dois extremos, ambos negativos, ambos com resultados nefastos......
😒 Aff, já começou a apelação... Do nada, sem qualquer lógica, as pessoas começam a agir como cães no cio nesses livros, como se fossem adolescentes sem cérebro conduzidos pelos hormônios e não adultos maduros com sendo crítico e objetivos além do desejos carnais... Nesse contexto árabe, então, fica tudo ainda mais surreal, como se fossem atores ocidentais fingindo ser personagens árabes caricatos num teatrinho de escola... Tudo muito forçado, tudo muito inverossímil, tudo muito superficial e fútil... Puramente com o objetivo de inserir sexo e tensão sexual na estória, mesmo que nem caiba... 🙄 O QUE VOCÊ ACHA QUE JANE AUSTEN DIRIA SOBRE O GÊNERO ROMANCE DE HOJE EM DIA? "Acho que ela ficaria chocada com o que pode ser escrito e publicado em um livro hoje em dia [... ]. Imagino que ela desejaria histórias de amor mais elevadas e menos focadas no carnal, como nos romances de hoje". (Julianne Donaldson, autora premiada de Edenbrooke)....
* Uai, mas que homem sério e decente gosta de mulher fácil? E que homem (decente ou não) valoriza uma mulher dessa, que não se valoriza? Ninguém que se preze - homem ou mulher - valoriza gente fácil. Os que não valem nada e só estão a fim de tirar proveito podem até gostar pela facilidade de uso, mas valorizar? Só se for pra rir... Nada que é fácil tem valor na vida, seja bens de consumo ou pessoas. É uma verdade lógica e cientificamente provada, só os tolos não perceberam ainda... 🙄...
Muito bom mesmo esse livro!...
To gostando desse livro... bem leve e interessante....