Raed viajou há uma semana. Os empregados estão mais silenciosos, antes ficavam aos cochichos, até Tamiris está mais contida e cerimoniosa comigo, mesmo assim, descobri por ela que Raed estava saindo com uma garota de família há algum tempo, e estavam caminhando para o noivado. Isso me deixou perturbada.
É muito claro que seu trauma de infância está fazendo-o assumir meu filho. Mas essa tomada de decisão superará o amor que ele sente por essa garota? Começo a me questionar.
Agora ela está na sala e seus olhos negros estão fixos em Tamiris. E eu estou atrás de uma pilastra, invisível. Louca para entender tudo isso.
—Raed não está, ele está viajando.
—Droga!
—Ele está viajando a trabalho.
—À trabalho mesmo?
—Isso eu não posso confirmar. Não participamos da agenda do príncipe.
—E ele? Você sabe se ele conheceu alguém?
A governanta entra na sala.
—Tamiris, vai cuidar de seus afazeres. Eu converso com Camily.
Pelo jeito a garota frequentava a casa.
Ela faz uma mesura e sai.
—Raed não está.
—Sim, ela me disse. —Ela passa a mão nos cabelos longos.
Ela encara a governanta angustiada.
—Você sabe se ele está saindo com alguém?
A governanta aperta os lábios.
—Acho melhor você falar com ele.
Ela se senta no sofá e começa a chorar.
—Allah! Perdoe-me, Hamira. Mas não está sendo fácil. Depois que Zein morreu, Raed ficou tão diferente. E agora terminou tudo sem maiores explicações. Tudo parecia tão certo entre nós...
A governanta aperta os lábios.
—Espere ele chegar e você conversa com ele direito. —Hamira diz secamente.
Ela enxuga as lágrimas.
—Allah! Pior é minha família. Está uma pressão em cima de mim. Eles ficam me perguntando o motivo de Raed ter terminado tudo. Como se a culpa fosse minha. Mas ele não me deu um motivo real. Por isso, insisto! Você sabe se ele conheceu alguém?
Minha respiração se agita e meu coração se aperta no meu peito.
—Sinto, mas como eu te falei, ele chegará daqui a uma semana. Aí, você conversa com ele. Não estamos autorizadas a dizer nada.
—Tudo bem. Quando seu dono chegar, fale que eu estive aqui.
Ela se levanta e sai, chamando sua serva, e acenando para o seu motorista. Deixa um rastro de perfume caro.
Meu coração se aperta em desgosto.
Raed está se sacrificando por causa do meu filho.
É justo isso? Começar um casamento dessa forma?
Vou para o meu quarto me sentindo angustiada. Ando de um lado para o outro.
É muito claro que Raed é traumatizado por tudo que aconteceu quando criança, por isso está bancando o herói, se sacrificando, enfrentando seu pai.
Allah! Tudo errado. Subitamente me sinto enojada com tudo isso. Passo o resto do dia me sentindo mal. Aflita. Antes do final da tarde já tinha tomado minha resolução: Vou sair da vida de Raed.
No silêncio da noite, vou até a biblioteca e começo a revirar as gavetas, prateleiras. Tudo, procurando meu passaporte. Encontro um maço de notas altas de libras dentro de uma caixa preta. Estremeço. Nunca peguei um centavo de ninguém, mas preciso pensar no meu filho.
Respiro fundo e o retiro da caixa. Faço a contagem. A quantia não é pequena. Dá para pagar minha passagem, dá para alugar uma casa modesta, e ainda fazer a compra do mês.
Isso é pelos móveis que ele desfez e pelo tempo que trabalhei com o Sheik. Já as roupas, ele me deu. Novas. No dia seguinte, depois que conversamos sobre sua viagem, elas chegaram aos montes: Blusas, saias, Kaftans, vestidos. As servas ficaram meio-dia guardando tudo, arrumando no closet.
Limpo minha lágrima infeliz por eu ter me metido nessa confusão.
Continuo minha inspeção, mas nada do passaporte. Na mesa vejo seu notebook. A curiosidade agita meu coração. Eu o abro. Espero a iniciação e dou de cara com a imagem de fundo de tela: Raed abraçado a garota. A família dela ao lado.
Aperto os lábios, contrariada. Não preciso ver mais nada.
Fecho a tela com força e começo a fuçar nas gavetas. Só encontro pastas com outros tipos de documentos, papéis, mas nada do meu passaporte! Bem ao fundo de uma delas toco numa caixa de veludo negro. Eu a pego e a abro. Ergo as sobrancelhas quando vejo o lindo solitário.
Com certeza ele comprou para aquela mulher, acredito que ele estava para pedi-la em casamento. Aquele sentimento ruim se apodera de mim novamente. Não quero um homem pela metade, eu quero amar um homem que esteja inteiro nessa relação. Eu acredito no romance, amor, e então, sexo. Não quero um acordo, quero que alguém perca a cabeça por mim, quero me sentir valorizada.
Saio da biblioteca e caminho silenciosamente pelo palácio. Entro no corredor iluminado pelas luzes de segurança. Eu me dirijo ao quarto de Raed. Logo que entro, fecho a porta. Começo a revirar tudo. Seu criado-mudo, todas as gavetas que encontro à procura do meu passaporte. Apago a luz do abajur e entro no seu lindo closet e acendendo as luzes, fecho a porta. Passo a mão pelos seus ternos e camisas. Todos organizados por cor, tipos e tamanhos. Os sapatos, um mais lindo que o outro muito bem distribuídos.
Começo a abrir as gavetas. Encontro suas gravatas alinhadas, suas cuecas organizadas. Quando chego na gaveta de camisetas, sem pensar pego uma. Fecho os olhos e sinto seu cheiro. O perfume é gostoso, como o dono. Como se eu caísse na realidade, coloco a camiseta no lugar e continuo minha busca pelo passaporte.
Encontro uma gaveta cheia de documentos. Meu coração se agita em antecipação. Então, revirando tudo, finalmente o encontro. Junto com ele uma foto. Eu a pego na mão e a observo: É de uma festa que o Sheik participou de ajuda humanitária. Vejo Raed sério ao lado do pai, eu estou mais ao fundo, com um tailleur vermelho, a postura ereta, com um sorriso no rosto.
Passo a mão pelos olhos e limpo as lágrimas. Mulher é um bicho trouxa mesmo, eu estava iniciando minha independência, estava indo tão bem.
Por que eu tinha que me envolver com Zein?
Guardo a foto e quando estou para sair do closet as luzes se intensificam no quarto.
Allah! Abro um pouco da porta do closet e espio.
Raed ofega.
—Para te proteger. Por isso eu não disse nada para ela. Fora que a condição do nosso casamento é um tanto diferente.
—Raed, deixe-me ir.
—Não!
Eu me angustio.
—Você ainda gosta daquela garota. Como nosso casamento pode sobreviver se iniciando errado?
—Você está enganada. Eu me dei conta que não sinto nada por ela.
As palavras dele me ferem. Começo a me lembrar da maneira como o irmão dele me envolveu, como mascarou a verdade. Tecendo teias de sedução para me levar para a cama. E pensar que sonhei que eu e Zein desse certo. Não pensava em engravidar, mas ter um namoro normal, que evoluísse para o noivado e por fim o casamento. Uma fantasia, nascida da estupidez, como tantas outras que tive em relação a Zein.
Com certeza se eu tivesse me relacionado com ele por mais tempo, teria enxergado o homem que eu estava me envolvendo: um engano.
—Você e seu irmão são iguais. Você é frio, insensível. Eu odeio você.
Sinto uma ligeira satisfação de ver seu rosto se contorcendo.
—Diga-me uma coisa que eu não saiba. Agora, dê-me seu passaporte e vai para o seu quarto.
Fecho minha boca, lutando contra a vontade de dizer a ele que eu sou dona de mim mesma, mas eu estou me sentindo em frente a um predador e serei devorada caso pise errado.
Jogo o dinheiro para o alto que cai como confete. E atiro o passaporte no peito nu dele, e me odeio por achá-lo tão atraente. Quando vou passar por Raed, ele me segura pelo braço.
Ofego quando sinto o cheiro dele.
—Nos casaremos, você queira ou não. —Ele diz com o rosto perto do meu. O calor sobe pelas minhas bochechas quando sinto o seu hálito quente no meu rosto. Mordo meu lábio inferior, retendo palavras ácidas, ansiosas para sair.
Ele então diz calmamente:
—Você está confusa e a gravidez também deixa as mulheres mais emotivas.
Eu o encaro altiva.
—O fundo de tela do seu notebook está você e aquela mulher que você diz não sentir nada. Dentro de uma gaveta está o anel de noivado.
Raed ofega ele parece pronto a me falar algo, mas fica sem palavras. Eu tento me afastar dele, mas ele me segura.
—Espere. Aquele notebook foi ela que me deu quando o meu antigo pifou e veio com aquela foto. Faz tempo que eu não mexo nele. E o anel...eu comprei para você.
Eu o olho, desacreditada. Ele demorou muito para responder, mas digo, como se acreditasse nele:
—Está certo. Agora me solte.
Ele me solta e eu aperto meus passos e vou em direção ao meu quarto.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Cativa do Sheik
➡️ São 2 EXTREMOS OPOSTOS... 🌎 No Ocidente as pessoas dizem se casar pelo "sentimento" amor, mas na verdade se casam por paixão, pois o amor verdadeiro não é um sentimento e sim uma AÇÃO ativa e comprometida... Aí obviamente os casamentos não duram, pois as pessoas se divorciam por tudo e por nada, basta um novo interesse pessoal surgir, alguém mais interessante aparecer, uma nova paixão começar, o tédio se manifestar... Tudo depende dos interesses pessoais, não há comprometimento real na maioria dos relacionamentos, apenas desejo fugaz... 🌏 Já no Oriente árabe as pessoas se casam meramente por convenções e conveniências, por interesses familiares, sociais, financeiros ou político-religiosos. E há poucos casos de divórcio, mas não porque os casais são comprometidos e felizes, mas sim porque os homens geralmente não querem romper com o que foi convenientemente estabelecido e as mulheres não tem direito de escolha. Ou seja: se é obrigado a suportar a união mesmo que seja tóxica. Além disso, o homem tem a opção de assumir a amante como segunda esposa, impondo-a para a esposa legítima, que não tem poder de negar. Assim é muito fácil dizer que poucos casais se separam... São dois extremos, ambos negativos, ambos com resultados nefastos......
😒 Aff, já começou a apelação... Do nada, sem qualquer lógica, as pessoas começam a agir como cães no cio nesses livros, como se fossem adolescentes sem cérebro conduzidos pelos hormônios e não adultos maduros com sendo crítico e objetivos além do desejos carnais... Nesse contexto árabe, então, fica tudo ainda mais surreal, como se fossem atores ocidentais fingindo ser personagens árabes caricatos num teatrinho de escola... Tudo muito forçado, tudo muito inverossímil, tudo muito superficial e fútil... Puramente com o objetivo de inserir sexo e tensão sexual na estória, mesmo que nem caiba... 🙄 O QUE VOCÊ ACHA QUE JANE AUSTEN DIRIA SOBRE O GÊNERO ROMANCE DE HOJE EM DIA? "Acho que ela ficaria chocada com o que pode ser escrito e publicado em um livro hoje em dia [... ]. Imagino que ela desejaria histórias de amor mais elevadas e menos focadas no carnal, como nos romances de hoje". (Julianne Donaldson, autora premiada de Edenbrooke)....
* Uai, mas que homem sério e decente gosta de mulher fácil? E que homem (decente ou não) valoriza uma mulher dessa, que não se valoriza? Ninguém que se preze - homem ou mulher - valoriza gente fácil. Os que não valem nada e só estão a fim de tirar proveito podem até gostar pela facilidade de uso, mas valorizar? Só se for pra rir... Nada que é fácil tem valor na vida, seja bens de consumo ou pessoas. É uma verdade lógica e cientificamente provada, só os tolos não perceberam ainda... 🙄...
Muito bom mesmo esse livro!...
To gostando desse livro... bem leve e interessante....