Quando chegou a hora de finalmente sermos soltas como animais enjaulados, minhas palmas suavam de nervosismo pensando em todos os cenários possíveis. E se o meu companheiro for um idiota? E se ele for um filho da p*ta abusivo? Um sádico? Sinto Emília apertando minha mão para me lembrar de que ela está aqui e vejo-a piscando devagar para me lembrar das minhas próprias palavras, para garantir que ela está comigo. Somos conduzidas para fora do bunker, e a luz nos cega enquanto somos alinhadas do outro lado do campo. Os machos estão a cerca de 250 metros de distância, posicionados a favor do vento. Isso torna difícil para as fêmeas identificarem seus companheiros, mas facilita muito para os machos, pois com o fluxo do vento, eles reconhecem facilmente nosso cheiro. De qualquer forma, nossas mentes estão tão ocupadas com a caça, que não temos tempo para procurarmos o rastro deles.
Então, tento achar o meu companheiro entre todos aqueles machos tanto quanto posso desta distância. Muitos já estão transformados e ver tantos pelos de cores diferentes é realmente fascinante e bastante cativante. Nesse momento, Emília segura minha mão com força. Nós duas sabemos que a chance de escaparmos dos nossos companheiros é pequena, mas não desistiremos sem lutar. Eu aperto a mão dela também, para que ela saiba que vai ficar tudo bem. "Corra o mais rápido que puder, não olhe para trás. Vamos dar aos nossos companheiros o verdadeiro sabor desta caçada. Afinal, eles não devem apenas nos caçar, devem ganhar o nosso respeito também", digo a ela.
A arma é disparada e eu dou um último olhar para Emília, porque só a deusa da lua sabe o que vai acontecer esta noite, se poderemos nos reencontrar ou não. Depois disso, solto a mão dela e corro pela minha vida, em ziguezague pelas árvores, para dificultar o meu rastreamento. Ao longo do caminho, ouço os machos se aproximando, mas não olho para trás ou desacelero, pois ainda me lembro da promessa que fiz a mim mesma, de que daria muito trabalho ao meu companheiro. E tenho toda a intenção de cumpri-la.
Corro tão rápido quanto o vento sem nem suar a camisa, pois faço isso nestas matas desde a infância. Eu me encontro fácil e não me perco. Também mantenho minha forma humana, porque desta maneira não deixo muito do meu cheiro no ar. Continuo ouvindo os machos se aproximando, mas não olho para trás nem reduzo a velocidade. Não posso mostrar minha loba para ninguém ainda, ela é muito grande e pode ultrapassar qualquer lobo macho, o que pode chamar muita atenção desnecessária. Quero mantê-la segura.
Ouço garotas gritando ao serem pegas, e os urros ocasionais de algumas sendo marcadas à força. Um arrepio forte passa pela minha espinha ao pensar nisso, mas só serve como estúmulo para correr mais rápido. Ouço passos à distância, sabendo que será impossível ultrapassar a maioria dos machos, ainda mais se forem de nível mais alto, pois são naturalmente rápidos e bem treinados. Mas não vou desistir. Eu me esforço mais, a ponto dos meus pulmões começarem a queimar devido à falta de oxigênio, mas desligo a dor no fundo da minha mente, não há tempo para lidar com isso agora.
Quando percebo que estou longe o suficiente, paro por um momento para recuperar o fôlego e observar a área. Esta parte dos campos é isolada e habitada por animais selvagens, é um lugar cupado por grandes árvores e grama alta. É fácil se esconder aqui, mas isso também torna a área previsível, então acho que não quero correr esse risco. Encontro a árvore mais alta e logo começo a escalá-la, chegando a uma altura segura do chão. Ouço três tiros em sequência sinalizando que faltam 30 minutos para esse inferno acabar. Minhas mãos estão em carne viva e ensanguentadas, o que não é bom, porque o sangue deixa um forte rastro e os lobos ficam desesperados para achar sua companheira. Ainda espero mais algum tempo. Não posso baixar a guarda, afinal, ele pode estar escondido lá também. Depois de mais 10 minutos, pulo no chão da floresta, não resta muito tempo para o tiro final. Aterrisso o mais suavemente possível, sem fazer muito barulho, e tento ouvir e observar qualquer tipo de movimento.
Silêncio.
É tudo que sinto e ouço agora.
Alguma coisa não está certa.
Olho para cima para identificar que tipo de parede está bloqueando meu caminho e, um tempo depois, percebo que não se trata de uma parede de fato, e sim um peito. Um peito nu, devo acrescentar, que pode ser considerado uma parede. Minhas mãos automaticamente tocam aqueles gomos duros e sinto faíscas. Meu corpo relaxa por uma fração de segundo, até perceber o que isso significa.
COMPANHEIRO.

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