Ponto de vista da Serena
É engraçado como a adrenalina pode fazer você esquecer da dor por um tempo.
Ao sair do hotel, meu joelho esquerdo começou a latejar de novo.
— Bom, pelo menos saí de lá, — murmurei para mim mesma.
Ainda ouvia a confusão lá dentro. A família do Bill estava cuidando da Doris. Nossa, estavam exagerando. Ela só havia caído, não era como se tivesse perdido uma perna. Enquanto isso, eu sentia como se fosse perder a minha perna a qualquer momento.
Foquei-me na respiração para aliviar a dor. Distraída, esbarrei num homem que vinha na direção oposta. O impacto leve me fez perder o equilíbrio.
— Ops, desculpe.
Ele percebeu que eu estava desequilibrada e segurou no meu braço para me ajudar.
— Cuidado! Hmm... acho que já te vi antes. Ah! Você é a Serena, a esposa do Bill, certo?
Ótimo, mais um familiar que irá me odiar. E eu achando que a noite não podia ficar ainda melhor.
— Ah... sim, sou eu.
Curiosa para saber quem ele é, olhei para o rosto. O tempo não deixou marcas muito evidentes, mas ele aparentava ser mais velho e maduro que o Bill.
Ele era um pouco musculoso, tinha um estilo despojado com um mullet e a barba ainda por fazer. Era bonito, mas de uma forma mais rústica, diferente do Bill.
Ele estendeu a mão.
— A propósito, eu sou o Calvin.
— Calvin? Você é o tio do Bill, é?
— Ah, por favor, sou só alguns anos mais velho que ele. Ele é mais como um irmão mais novo para mim do que sobrinho.
Calvin tinha uma grande participação na empresa do Bill, era o segundo maior acionista, mas não se envolvia muito no dia a dia. Não era à toa que mal aparecia nas fotos da família, já que passava a maior parte do tempo cuidando dos próprios negócios no exterior.
Bill não mencionou que o tio ocupado dele estaria no jantar. Mas, pensando melhor, Bill mal me contava qualquer coisa.
— Uhm... Tá tudo bem aí? — Calvin acena com a mão na minha cara, me tirando do transe.
Voltei a mim rapidamente e desviei o olhar. Não querendo que o tio do Bill me visse tão abatida.
— Serena, você está bem? — Ele perguntou, com a voz cheia de preocupação.
— Sim, estou. Você deveria ir ver sua família agora.
Virei-me para ele, tentando sorrir, mesmo depois de ter chorado pouco tempo antes, o que talvez parecesse estranho. Não queria envolver o Calvin naquele drama, então decidi me afastar.
Parei à beira da estrada para chamar um táxi. Estava ficando frio, e eu tremia enquanto esperava.
— Serena, espere!
Será que o Bill veio atrás de mim? Talvez ele realmente se importasse comigo, ainda que só um pouco.
Virei-me na direção da voz. Mas não era o Bill, era o Calvin correndo até mim.
Ele percebeu que eu estava tremendo e tirou o paletó, o colocando sobre os meus ombros.
— Não precisa fugir de mim. Não vou te morder.
Dei um sorriso fraco e fiquei em silêncio por um momento, me perguntando por que ele não parecia me odiar como o resto da família.
— Posso te levar para casa, se quiser — ele ofereceu.
Com um olhar suplicante, eu respondi, — Por favor.
Calvin me levou para casa, e eu apreciei o fato de ele entender que eu não estava com vontade de conversar. Se fosse o Bill naquela situação, ele provavelmente arranjaria uma briga por causa do meu silêncio.
— Sabe o que seria bom? Música. — Calvin sugeriu, notando o meu humor.
— Claro — disse eu com a voz meio fraca. Calvin colocou uma música clássica suave, e seguimos o resto do caminho em silêncio. Fiquei apenas olhando pela janela, com o paletó dele sobre meus ombros, tocada pela consideração dele.
Assim que chegamos, uma das empregadas da casa apareceu na porta para nos receber.
— Senhor Calvin, que bom o ver, — disse ela, sorrindo.
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