Em seu lugar romance Capítulo 37

Said

A dor física passou, mas eu estou inquieto. A ausência de Maysa no quarto agora me causa outro tipo de dor.

Allah! Insanamente eu a amo.

Aperta o meu coração com o medo de perdê-la. Quando ela começou a andar na sala sem o lenço, expondo sua figura, perdi a cabeça. Explodiu dentro de mim o desejo de escondê-la dos olhares curiosos.

Allah! Ela já morou aqui! Será que ela não sabe que aqui não era encarado com naturalidade os cabelos das mulheres descobertos? Ela não é neófita, ela conhece a nossa cultura.

Deito na cama, perturbado, tentando tirar Maysa dos pensamentos. Faço de tudo para conseguir dormir, mas todos os acontecimentos giram sem cessar em minha cabeça.

Quando fecho os olhos, a imagem de Maysa sendo admirada por todos aqueles homens, me surge sem controle. Como tudo estivesse gravado em minha mente. E nem toda minha força de vontade é o suficiente para impedir isso.

Se eu pudesse, eu a arrancaria de dentro de mim. Maysa é uma droga potente, e eu o drogado.

Maysa

Depois de uma noite mal dormida, levanto-me cedo. Escovo os dentes e coloco a roupa de enterro e um lenço cinza nos cabelos.

Em silêncio vou até a cozinha. O ar da manhã está frio ainda. Aspiro profundamente o aroma do café que vem de lá. Mas um ruído súbito quebra de repente o silêncio. Voltando-me para a direção do som, avisto Said vestido com um Kandoora branco. Parece ainda mais bárbaro vestido desse jeito.

Ele se aproxima. Para tão próximo que por um momento sinto o impulso de tocá-lo. Umedeço meus lábios, com raiva do meu coração traidor que dispara em meu peito. Procuro encará-lo com casualidade.

Os lindos olhos negros de Said correm minha figura.

— Bom dia. — Ele diz rouco.

— Bom dia.

— Você vai ao hospital?

—Sim.

—Falou com Zafira?

Allah! Será que ele levantou cedo para se certificar disso?

—Sim.

Um sorriso de satisfação ergue os cantos dos lábios dele, indicando que eu estou certa. O brilho de seus olhos me indica suas intenções, fazendo meu coração saltar no peito. Eu tento me esquivar dele, mas ele segura meu queixo, obrigando-me a erguer o rosto e a submeter-se ao castigo da boca cruel. Mas não houve jeito de eu escapar da pressão daqueles lábios. Meu corpo estremece, quando sinto o calor dele e perco as forças para continuar resistindo. A crueldade do beijo foi diminuindo, à medida que eu me submeto. Said agora me beijava com muito amor, por todo o meu rosto. Eu respiro pesadamente, sentindo o perfume almiscarado dele.

Seus lábios moveram-se ao longo de minha face para falar ao meu ouvido:

— Maysa. Minha gata brava, eu te amo, sabia? Muito!

Rendida pelo amor que eu sinto por ele o abraço e coloco minha cabeça em seu peito. Ouço com prazer o coração dele agitado como o meu. Ficamos assim um tempo. Eu o afasto com delicadeza e digo:

—Vou pedir para Salma arrumar a mesa com o café.

— Precisamos estar bem. Lembre-se que sua irmã estará aqui conosco. Não podemos estar brigados. Ela não se sentirá bem.

—Eu sei disso.

Said sorri para mim.

—Eu já te pedi perdão, sei que fui duro com você. Isso não irá se repetir. Então coloque um sorriso nesse rosto.

Forço um sorriso para ele.

Mais tarde, depois de tomar café com Said num clima mais tranquilo. Despeço-me dele com um beijo singelo nos lábios e chamo Zafira.

O carro entra na calma avenida margeada por palmeiras. O motorista para em frente ao hospital. Eu e Zafira saltamos. Minha irmã já me aguardava no quarto vestida com uma abaya preta.

Zafira abre a boca surpresa com a nossa semelhança. Adara perdeu o bronzeado e recuperou mais o peso.

Sim, ela está bem parecida comigo. A única diferença é as vestimentas e o jeito de encarar as coisas.

Uma verdadeira mulher árabe, perfeita para Said. Penso, me sentindo triste.

Saindo do hospital vamos até a casa dela. Segundo minha irmã, na pressa de fugir, ela tinha levado poucas roupas, então a maioria estão guardadas em seu guarda-roupa.

Enquanto eu arrumo as roupas que ela joga para mim em sua mala, ela conversa animadamente comigo. Ela está feliz por estarmos juntas e pela hospitalidade de Said.

Eu, ao contrário dela, começo a ficar triste e oprimida, e isso tem uma explicação. Quanto mais eu arrumo seus vestidos negros e abayas, percebo como sou diferente das mulheres desse país e isso me preocupa e muito.

É como se eu tivesse dormido o tempo todo em Riad e só ter acordado para a vida na Inglaterra. Foi onde eu abri meus horizontes. Um país tão livre, tão libertador. Afastando esses pensamentos que só me deixam Down. Vou até a sala e pego nossos documentos no lugarzinho secreto.

Zafira não conseguiu ficar parada, enquanto arrumávamos tudo, ela limpou a geladeira, tirando a comida estragada. Passou uma vassoura na casa e um pano na cozinha.

Tudo pronto, vamos todas para o carro.

O motorista adentra o carro e dá partida rapidamente. Respiro fundo.

Lembro-me que preciso mudar meu guarda-roupa. Said precisa se acostumar a me ver mais jovial. Chega daquelas roupas de enterro!

— Adara, preciso comprar umas roupas. —Digo de repente.

Ela sorri para mim.

—Aqui não tem roupas para você. Inclusive estou admirada em te ver com essa, totalmente fora do seu estilo. E esse lenço em seu cabelo também me espanta.

Eu sorrio.

—Por isso que eu quero uma loja que venda roupas mais alegres, você conhece alguma?

Zafira se manifesta:

— Allah! Quer matar Said do coração?

Adara olha para ela e depois me olha com estranheza:

—Como está sua relação com Said?

Eu suspiro:

— Estamos juntos, a trancos e barrancos. Ele está tentando me impor os costumes.

Adara ri.

—Será uma tarefa árdua.

Eu mudo de assunto:

—E então? Conhece esse tipo de loja?

Ela pensa por um tempo, então ela sorri como se lembrasse de um lugar, eu me animo.

—Sim, tem uma rua que se vende roupas para os turistas.

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