Ensina-me romance Capítulo 5

Paulina olhava aturdida para cada canto da sala do advogado dos Salvatore, Carlos Ramos. Não pela elegância do local e sim por estar prestes a assinar um contrato para trabalhar para a pessoa que mais abominava no mundo. Tudo bem, não chegava a tanto, mas havia somente uma linha tênue para que isso ocorresse. Imaginava que debaixo do mesmo teto essa linha seria passada em questão de minutos, assim que o Salvatore insistisse em tirar sarro de sua vida “sem sal”.

Tinha péssimas lembranças da época em que moravam na mansão e das vezes que visitara seu pai. Praticamente se sentira pisando em ovos, temendo encontrá-lo pelos corredores, ver o sorriso cínico e ouvir um comentário desagradável.

Paulina não era uma pessoa que arranjava briga, nunca sequer levantara a voz para alguém, por isso em todas as vezes que Simon fizera um comentário idiota sobre a vida que ela levava ou sobre seu namorado, Nathaniel Muller, somente respirava bem fundo, abaixava a cabeça — mais por vergonha do que raiva — e se limitava a ouvir em silêncio. Mas uma coisa era aguentar a implicância do Salvatore de vez em quando e outra era tolerar todo dia.

— A senhorita só tem de ler e assinar nesses locais em ambas as vias — informou Carlos apontando as linhas pontilhadas.

Paulina pegou a folha e deslizou os olhos pelas palavras, às vezes tendo de voltar ao princípio, sua angustia era tamanha que não processava nada do que estava escrito.

Tamanha hesitação para somente ler e assinar algumas linhas fez Mirela preocupar-se:

— Lina, se sente bem? Está tremendo.

— Sim... É que... — engoliu em seco. — Dona Mirela, tem certeza de que Simon me aceitará como governanta?

— Claro que vai, meu amor — ela garantiu confiante. — Ele concordou na hora quando disse que conhecia a pessoa perfeita para o cargo. Essa pessoa é você.

— Concordou?!

— Sim. Jamais contrataria alguém sem antes perguntar se ele aceitaria.

Do outro lado da mesa, Carlos evitava que um sorriso de entendimento adornasse seus lábios.

No momento em que a Salvatore lhe pedira por telefone para redigir aquele contrato, havia imaginado que havia uma intenção oculta por trás daquilo. Primeiro por conhecer a antipatia entre Simon e Paulina. Era impossível não notar visto que o Salvatore mais novo fazia questão de dizer na frente da jovem que não entendia a mania de santa dela, entre outros comentários que faziam a Perez corar e desviar os olhos para um ponto entre os próprios pés. Segundo, Mirela nunca dava um passo sem imaginar como lucraria com isso.

Observando a jovem assinar apressada todas as folhas, deixou o sorriso se libertar ao imaginar que era uma questão de tempo para saber se o plano da matriarca Salvatore era o que suspeitava.

~*~

Com o celular contra a orelha, Simon sentia que teria uma nova dor de cabeça. Telefonara para a mansão e fora informado que Mirela não se encontrava, então passara as últimas quatro horas ligando para o número de celular dela e nada.

— Senhor Simon, há uma ligação na linha três... — Cherry começou a dizer ao entrar na sala do presidente, sendo interrompida pelo ansioso chefe antes de completar o recado.

— Da minha mãe?

Cherry o encarou tensa, estava ciente do estado de nervos de Simon por não conseguir contato com Mirela.

— É do senhor Nathaniel Muller da empresa Muller — respondeu devagar, colocando um pé para trás para facilitar a fuga caso o chefe tivesse algum acesso de raiva. — Solicita falar diretamente com o senhor.

— Sobre o quê? — perguntou. A raiva relampejando em seu rosto aumentando o medo da funcionária.

— Ele não disse...

— Porque passou uma ligação sem saber o que querem falar comigo?

— Eu perguntei, mas...

— Esquece, pode sair que atendo a porcaria dessa ligação.

— Sim, senhor! — Cherry praticamente correu porta afora.

Simon voltou sua atenção para o telefone sobre a escrivaninha, observando o número três piscando. Depois da seção de sedução barata, de esquecer que sua mãe nunca tinha ideias inocentes e de não conseguir saber a droga do nome da nova espiã de Mirela, agora seria obrigado a ouvir a voz insuportável do sedutor de empregadas alheias.

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