Ensina-me romance Capítulo 6

No fim de tarde, enquanto arrumava o que levaria, Paulina se perguntava se havia tomado à decisão certa. Seu pai dissera que sim; Mirela e seu marido, Fabrício, pareciam tranquilos com a possibilidade do filho ter alguém “ajuizada” por perto; até sua irmã, Paola, suspirou ao imaginar a convivência com Simon.

— Você arrumando a cama dele, de repente ele aparece só de toalha e...

Balançou a cabeça diante das lembranças do que a mais nova dissera que conseguia fazer com que suas bochechas ficassem quentes. Nunca imaginara que Paola, cinco anos mais nova, pudesse ter pensamentos tão... Nem conseguia descrever.

— Pronta, Lina?

— Sim, dona Mirela — respondeu fechando a pequena valise.

Mirela olhou para a valise e franziu a testa.

— Só isso?

— Sim... — gaguejou constrangida. Decidira levar poucas roupas, era possível que pedisse demissão naquele dia.

Sem dizer nada, Mirela a levou até o carro onde Paulo aguardava para levá-las ao prédio em que o Salvatore morava, cerca de uma hora da mansão. Mesmo assim o caminho foi rápido, até demais em sua opinião.

— Pode se despedir do seu pai, Lina. É provável que só o veja nos fins de semana.

Paulina abraçou seu pai, que se surpreendeu com a atitude. Desde que a esposa falecera, talvez até antes, não demonstrava carinho por nenhuma das filhas e nem esperava tal atitude delas. Isso o preocupou, principalmente em perceber que Paulina se segurava para não chorar. Podia ler nos olhos dela que queria desistir, o que jamais permitiria. Apesar de não gostar da ideia de sua filha próxima do caçula dos Salvatore – devido à fama de conquistador de Simon -, confiava no discernimento e profissionalismo da filha, fruto da educação exemplar e rígida que transmitira.

— Sei que irá honrar o sobrenome Perez. — Aquilo era tudo que precisava dizer para que Paulina não cometesse qualquer desatino.

Paulina encarou Paulo em choque. Conseguia ler nas entrelinhas que se não passasse o ano todo como governanta de Simon seria para sempre sinônimo de fracassada para seu pai. A decisão que tomara não tinha volta, era isso que lia nos olhos dele.

— Não o desapontarei... — murmurou insegura, afastando-se de cabeça baixa, a franja espessa cobrindo sua fronte e evitando que seu pai visse seus olhos marejarem.

Como um robô encaminhou-se para o lado de Mirela e a seguiu rumo ao apartamento de Simon. Mentalmente repetia como um mantra: “Papai, Paola, Fabrício e Mirela acreditam que conseguirei, então conseguirei”.

~*~

Ele merecia o troféu idiota do ano. Porque diabo confiara uma responsabilidade enorme a sua mãe? Deveria ter pensado um milhão de vezes antes de abrir a boca e pedir a ajuda dela. Não, deveria ter pensado um trilhão de vezes ou mais. Se soubesse quem seria a contratada teria ficado com uma das ninfomaníacas que entrevistara.

— Mãe, diz que estou enganado.

— Sobre o que, querido? — quis saber Mirela segurando a vontade de rir da expressão do filho.

— O que acha?

Com o olhar enviesado para a jovem de cabeça baixa no centro da sala, se condenou por deixar Mirela contratar quem quisesse sem ver antes de quem se tratava.

— Deveria ter incluído que devia ser uma pessoa menos... Paulina — queixou-se como se a jovem fosse um padrão a ser evitado.

— Mas qual é o problema? Ela atende todas as suas requisições — retrucou Mirela, recordando em seguida tudo o que o filho pedira. — Discreta, organizada, confiável e garanto que não tentará te seduzir. Mais fácil o contrário... — insinuou, causando um forte rubor na face da Perez e um olhar enviesado do filho.

Simon concordava em parte com Mirela. A Perez tinha todas as qualidades que pontuara e certamente não tentaria seduzi-lo — tampouco ele a assediaria. Mas, levando em conta sua vida desregrada, não pôde deixar de anunciar o inevitável:

— Não dura uma semana.

— Querido, acredite, ela vai durar. — Mirela envolveu os ombros da Perez com um braço. — Paulina é tudo o que você precisa.

— No momento preciso de um whisky bem forte — resmungou fitando a criatura corada que encarava tudo menos ele. — Tem um escondido com você, Perez?

— Nã-não... — ela respondeu olhando para o chão.

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