Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 10

No hospital, o médico examinou o pé ferido de Beatriz e não conseguiu evitar um tom de repreensão:

— Você não está cuidando do seu corpo... Todas essas bolhas estouradas... Se isso infeccionar, não vai ser brincadeira.

Beatriz apenas baixou a cabeça, sem dizer nada.

Ficou olhando para o próprio pé, vermelho, inchado, machucado de cima a baixo.

Não era que ela não cuidava de si.

É que...

Alguém simplesmente não lhe dava escolha.

O médico examinou novamente e percebeu que a parte inferior das costas da garotinha, perto do cóccix, estava muito roxa, marcada por hematomas profundos. No braço, havia arranhões e machucados. Os olhos estavam inchados, vermelhos de tanto chorar, e durante todo o atendimento, ela não disse uma única palavra.

Ninguém a acompanhava.

Naquele momento, o médico praticamente teve certeza do que estava acontecendo. Respirou fundo e falou com suavidade, mas firmeza:

— Vamos fazer um raio-X da sua coluna e te internar para observação. Você não deveria voltar para casa agora. — Disse ele, em tom brando.

— Obrigada, doutor. — A voz de Beatriz saiu rouca, cansada.

A internação foi resolvida pela enfermeira.

Beatriz não conseguia se deitar de costas, teve que ficar de bruços na cama, com almofadas sob as pernas para evitar o contato com o pé ferido.

Depois que a enfermeira aplicou os remédios e passou as pomadas, a sensação gelada trouxe alívio à pele castigada, dando um pouco de paz ao corpo.

Ela olhou o relógio: 19h30.

Desligou o celular e fechou os olhos.

Estava exausta, de corpo e alma.

Não queria pensar onde aquele casal estava.

Não queria imaginar a felicidade deles.

Só tinha um pensamento na cabeça:

“Aqui, eles não vão me encontrar. Finalmente... Eu vou poder dormir em paz.”

Enquanto isso...

Às 20h, Gabriel levou Vitória para jantar.

Às 21h, passearam juntos por lojas de grife, e Gabriel comprou presentes caríssimos para ela, bolsas, joias, perfumes.

Às 22h, ele alugou a roda-gigante à beira do rio, só para eles dois.

Quando a cabine chegou ao ponto mais alto, fogos de artifício explodiram no céu noturno, iluminando tudo com cores deslumbrantes.

Abraçados, eles se beijaram sob a chuva de luzes.

Naquela noite, todos os turistas na orla do rio testemunharam a cena.

E todos comentavam, encantados:

— Quem será esse milionário apaixonado, fazendo uma declaração tão linda?

— Que sonho... Quem me dera um amor desses...

Mal sabiam eles que, enquanto isso, havia uma mulher... Sozinha, num leito de hospital.

Com o corpo... E o coração... Em pedaços.

— Gabi... — A voz de Vitória soou suave e preocupada do banco do passageiro. — Vamos levar comida pra Bia? Você me trouxe pra sair, mas deixou ela sozinha em casa... A Bia deve estar magoada. Tenho medo que ela acabe ficando sem comer. Você sabe... Sempre que ela ficava chateada, se trancava e parava de comer. Era sempre eu que insistia, implorava pra ela comer alguma coisa...

A ideia de levar comida, claro, era só um pretexto.

O que ela queria mesmo... Era voltar pra casa com Gabriel e terminar o que havia começado no quarto.

— Ela mesma já cozinhou, não foi? — Gabriel respondeu na hora, o semblante fechando, o rosto sombrio. — Uma pessoa viva não morre de fome assim tão fácil.

Quando o nome de Beatriz surgiu na conversa, a voz dele ficou ríspida, cortante.

— Uma mulher venenosa dessas... Por que você ainda se preocupa? Ontem queimou você, hoje quase te atacou com uma faca! Se eu não tivesse chegado a tempo... Quem sabe o que teria acontecido com você? — Ele disse, o tom gelado e irritado.

Vitória ficou em silêncio por alguns segundos. Seus dedos apertavam devagar o cinto de segurança, enquanto pensava.

Por fim, falou, a voz baixa, embargada de emoção:

— Nós duas crescemos juntas no orfanato. Não importa o que ela faça comigo... Ela ainda é minha irmã. Minha família.

As palavras atingiram Gabriel direto no peito.

Como a Vi podia ser tão boa, tão generosa... E ainda assim ser machucada por Beatriz?

Mesmo depois de tudo, ainda a via como família...

— Uma mulher dessas não merece nada! — Ele explodiu, batendo no volante. — De agora em diante, sou eu quem vai ser sua família!

Ao ouvir aquilo, Vitória virou o rosto imediatamente, encarando-o.

Seus olhos brilharam de alegria, o coração disparando forte no peito.

Mas, em questão de segundos, baixou o olhar, simulando tristeza:

— Não podemos, Gabi... A Bia é sua esposa. Eu não posso tirar o que é dela...

— Foi ela quem roubou tudo de você primeiro! — Gabriel respondeu alto, a voz fervendo de raiva. — A minha esposa deveria ser você!

Vitória abaixou a cabeça, a expressão aparentemente cheia de dor e mágoa.

Olhava para a sacola de comida nas mãos... E, mais uma vez, a cena de Beatriz jogando água nele no banheiro surgiu na cabeça.

Se não fosse por insistência da Vi, ele jamais teria trazido comida praquela mulher.

Que morresse de fome!

Abriu a porta de casa.

O apartamento estava escuro, silencioso.

— Beatriz! — Gritou, já irritado. — Tá morta? Não acende nem uma luz nessa casa?

Silêncio. Nenhuma resposta.

A irritação dele aumentou.

Acendeu as luzes com força, largou a comida na cozinha.

O chão estava limpo, tudo arrumado, ela estava em casa, com certeza.

De cara fechada, foi direto para a porta do quarto de hóspedes.

As batidas ecoaram fortes, furiosas, quase arrombando.

— Abre essa porra! Tá me ouvindo, Beatriz?! — Rosnou, impaciente.

Nada. Silêncio absoluto.

O sangue ferveu.

Pegou a chave reserva com brutalidade e girou na fechadura.

— Você tá aí dentro... — Começou a berrar, empurrando a porta.

Mas as palavras morreram na garganta.

O quarto estava vazio.

Completamente vazio.

Gabriel ficou paralisado por um segundo.

Depois, o rosto endureceu, os olhos escurecendo.

— Ótimo. Muito bom. — Murmurou entre os dentes, que rangiam de ódio. — Agora você teve coragem de fugir...

O ódio subiu como lava.

Ele apertou os punhos com tanta força que as veias saltaram.

A raiva atingiu o limite.

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