Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 9

— Gabi, você tá bem? E a Bia? Como ela tá? — Do lado de fora do banheiro, Vitória olhava para ele com um ar preocupado, quase dramático, observando o homem todo molhado e desarrumado.

— Estou bem. Vou trocar de roupa. — Respondeu Gabriel, ainda fervendo de raiva.

Vitória fingiu que ia abrir a porta do banheiro, mas sua mão foi imediatamente agarrada por Gabriel.

Ele a puxou para trás, encarando a porta de vidro com fúria.

— Não entra. Aquela louca vai jogar água em você também. Eu juro, essa mulher devia estar internada num hospício!

— A Bia com certeza não fez por mal... não fica bravo com ela…

Vitória tentou acalmá-lo, assumindo o papel de mediadora, com aquela voz doce e compreensiva que ela sabia usar tão bem.

Mas isso só alimentou ainda mais a raiva de Gabriel. Ele soltou uma nova enxurrada de insultos, palavras cruéis e venenosas, carregadas de desprezo.

No banheiro.

As vozes dos dois atravessavam a porta, cada sílaba batendo como marteladas no peito de Beatriz.

Sentada no chão frio, abraçando as pernas, ela mordia o lábio com tanta força que sentia o gosto metálico do sangue. Os punhos cerrados, as unhas marcando a pele.

Ódio.

Puro e crescente.

Gabriel era repugnante.

Vitória, nojenta.

E juntos... Perfeitos.

Um casal feito sob medida no inferno.

Ela queria que os dois ficassem presos um ao outro para sempre, numa prisão feita de veneno e falsidade.

Ela não deveria ter se metido dois anos atrás.

Não deveria ter pago com a própria vida o preço do capricho juvenil de amar a pessoa errada.

Agora, estava provando o gosto amargo das consequências.

A água fria continuava a escorrer sobre o ferimento, tentando aliviar a dor.

Mas a dor física era nada perto do vazio e do desprezo que preenchiam seu peito.

As lágrimas já tinham secado. Restavam apenas soluços roucos e um olhar perdido, sem foco.

No quarto principal.

Gabriel trocava de roupa quando ouviu a porta se abrir suavemente.

Virou-se e viu Vitória entrando.

Instintivamente, apressou-se em abotoar a camisa.

Vitória caminhou devagar até ele, o olhar suave, cheio de doçura e uma pitada de sedução.

Sorria de canto, aquele sorriso que ele conhecia tão bem, e murmurou, com a voz baixa e insinuante:

— Por que esse constrangimento? — Brincou. — Eu já vi tudo, lembra?

Era verdade. Mas, mesmo assim, Gabriel desviou o olhar, desconfortável.

— Me espera lá fora. — Pediu, sem coragem de encará-la.

Vitória não respondeu.

Chegou ainda mais perto, parando bem diante dele.

Com delicadeza, pegou a gravata de suas mãos e começou a ajeitá-la.

— Eu aprendi isso só por você. — Sussurrou, a voz embargada por uma leve tristeza. — Sonhava com o dia em que poderia amarrar sua gravata todas as manhãs.

Gabriel abaixou o olhar para ela.

Os dois se encararam.

Nos olhos úmidos de Vitória havia mágoa, insegurança... E um leve ciúme.

— Nestes dois anos... — Ela perguntou suavemente, mordendo o lábio — Foi a Beatriz quem te ajudou a colocar a gravata?

— Nunca. — Gabriel respondeu na hora, sem nem pensar. — Eu nunca deixei ela me tocar.

Hesitou por um segundo e completou:

— Esse quarto... Sempre foi só meu. Eu nunca dividi a cama com a Beatriz.

O sorriso voltou aos lábios de Vitória. Seus olhos brilharam, satisfeitos, e ela se aproximou ainda mais.

Desde o momento em que entrou no quarto principal, havia observado cada detalhe.

Nenhum sinal de outra mulher. Nenhum traço. Nenhum vestígio.

Perfeito.

Ainda estava fechada.

— Gabi... — Vitória puxou o braço dele, a voz manhosa. — Estou morrendo de vontade de comer um churrasco... Me leva?

— Claro. — Gabriel desviou o olhar da porta e voltou sua atenção para ela. — Abriu um restaurante coreano novo aqui perto. Vou te levar lá para experimentar.

Os dois saíram, e a porta da entrada se fechou com um clique abafado.

Depois disso... Silêncio.

Algum tempo depois, a porta do banheiro finalmente se abriu.

Beatriz saiu, o corpo encharcado, o olhar vazio e frio.

Sem olhar para nada, foi direto para o quarto.

Pegou uma toalha, secou-se de qualquer jeito e trocou de roupa.

Mancando, saiu de casa e chamou um táxi em direção ao hospital.

Ao passar pela cozinha, a porta estava entreaberta.

Os cinco pratos que ela havia preparado estavam ali. Frios. Intactos.

Sobre a bancada, o vapor já havia sumidos, só restava o abandono.

Beatriz soltou um sorriso irônico, amargo.

Virou-se e saiu sem olhar para trás.

Fizeram ela cozinhar, preparar tudo com dor e esforço, só pra no fim nem encostarem na comida.

Desde o começo, tudo aquilo não passava de uma forma cruel de torturá-la.

Sentada no táxi, tirou do bolso o celular de tela rachada e ligou para o serviço de limpeza do condomínio.

— Alô? Eu gostaria de solicitar a limpeza da cozinha do meu apartamento.

Quando a funcionária chegou e viu os pratos intocados sobre a mesa, ligou de volta para confirmar:

— Senhora, a comida está toda aqui, intacta. A senhora gostaria que eu descartasse tudo também?

— Sim. — Respondeu Beatriz, a voz baixa, indiferente. — Se achar desperdício, pode dar para algum cachorro de rua.

Encerrou a ligação e apoiou a cabeça no vidro da janela do táxi.

Alimentar cachorros de rua ainda seria melhor... Do que ter preparado aquilo tudo para o Gabriel.

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