Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 484

Não era só o gengibre. Tudo que tivesse um cheiro muito forte, como o aipo, por exemplo, também não agradava. Ao que tudo indicava, ela crescera mantendo os mesmos desgostos alimentares.

Na hora de pedir os pratos, Renato teve o cuidado de evitar tudo o que pudesse conter ingredientes com odor acentuado, especialmente aqueles que normalmente vinham acompanhados de gengibre. Durante o almoço, foi ele mesmo quem se encarregou de servir tudo, dos acompanhamentos ao prato principal.

Do outro lado da mesa, Vitória observava em silêncio aquele homem tão cuidadoso e atencioso. A forma como ele a tratava, com tanta delicadeza e respeito, contrastava completamente com seu semblante sério e austero.

Era um verdadeiro contraste, e ela estava encantada.

Enquanto degustava os ingredientes nobres que pareciam derreter na boca, Vitória tinha a sensação de estar vivendo o ápice da sua vida gastronômica.

Já tinha comido bem quando estava com Gabriel, claro. Mas, se fosse comparar aparência, postura e, principalmente carisma, ela não tinha dúvidas: escolheria Renato mil vezes.

Ficou tentada a perguntar qual era exatamente a profissão dele. Mas, depois de pensar muito, decidiu não tocar no assunto.

Afinal, tudo ainda estava no início, e o papel que tinha assumido era o de alguém que ainda não confiava plenamente nele. Tinha que manter a coerência.

O que ela não sabia era que Renato também tinha vontade de puxar uma conversa mais pessoal.

Mas, depois de tanto tempo afastados, e com o resultado do exame ainda pendente, tocar em assuntos íntimos soaria precipitado, até mesmo invasivo. Por isso, se conteve.

Cada um perdido em seus próprios pensamentos, almoçaram em silêncio, sem dizer muito.

A refeição foi encerrada com uma sopa encorpada, feita com caldo de ossos e um aroma delicioso que se espalhava pelo ar. Na superfície flutuavam delicadamente pedacinhos de cebolinha verde.

Renato encarou as folhas boiando no caldo por alguns segundos, até que algo lhe veio à mente. Levantou o olhar justamente no momento em que a garota à sua frente levava uma colher cheia à boca.

Ele parou.

— Você come cebolinha? — Perguntou, surpreso.

Na hora, Vitória congelou por um instante. Uma onda de pânico tomou conta dela, e sua mente começou a vasculhar freneticamente as memórias: Beatriz comia ou não comia cebolinha?

Os dedos de Renato se curvaram levemente sobre a mesa. Ele não disse mais nada, mas seus olhos, intensos e transparentes, diziam tudo. Carinho, culpa, compaixão... Tudo ali, estampado no rosto.

Vitória fingiu que não viu. Continuou tomando a sopa calmamente, os olhos baixos, expressão serena. Mas, por trás da aparente tranquilidade, ela observava Renato com atenção. Cada expressão. Cada gesto. Cada silêncio.

No fundo, ela sorria por dentro.

“Desde o orfanato, eu e Beatriz crescemos praticamente grudadas. Conheço a outra como a palma da minha mão: o jeito de falar, a forma de andar, os gostos, as manias, os pequenos trejeitos... É por isso que tenho tanta certeza de que não vou ser desmascarada.”

Aquela refeição deveria ser o reencontro de dois irmãos, separados há vinte anos. Mas como ainda não haviam se reconhecido de fato, restou a Renato um sentimento de vazio, um gosto amargo de oportunidade perdida.

Mais tarde, Vitória partiu de táxi do mesmo ponto onde haviam se encontrado.

Renato ficou ali, parado, ao lado do McLaren prateado.

O carro permaneceu no mesmo lugar por um longo tempo, imóvel, como ele.

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