Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 52

— E aquela moça de cabelo cacheado? Tem que salvar todo mundo! — Gritou a senhora mais uma vez, exaltada.

— Já a levei pro hospital antes. — Respondeu Gabriel às pressas, sem notar a armadilha nas palavras da vizinha fofoqueira, deixando a frase no ar antes de desaparecer de vista.

Atrás dele, umas três ou cinco pessoas que assistiam à cena como quem acompanha novela se entreolharam, trocando olhares de cumplicidade, logo assumindo expressões de “sabia que era isso!”

Se não estavam enganados, a mulher que morava com ele devia ser a esposa legítima, certo? Então aquela outra... Só podia ser a amante.

E o mais suspeito: ele claramente sabia do vazamento de gás. Se não soubesse, por que teria levado a outra primeiro ao hospital?

No fim das contas, deixou a esposa pra trás, sozinha, se arrastando pra fora do apartamento... até desmaiar bem na porta.

Lamentável! Uma cena dessas não se esquece fácil.

O rapaz até que era bonito, mas quem diria que por trás daquela aparência estava um canalha frio, sem coração?

Gabriel dirigia o mais rápido que podia em direção ao hospital mais próximo. No caminho, tentou ligar para Beatriz três ou quatro vezes, mas ninguém atendeu.

— Droga... Será que as enfermeiras não podem atender o celular dela? — Murmurou, irritado, batendo no volante.

Mas então, de repente, a memória o atingiu como um soco, na noite anterior, ele mesmo havia quebrado o celular de Beatriz ao meio.

Ficou em silêncio, engolindo a culpa.

Aperava os dentes com força, tomado por um medo sufocante e uma ansiedade que só crescia.

Vitória ainda estava consciente, ainda conseguia chamá-lo pelo nome. Mas Beatriz... Beatriz havia desmaiado na hora e foi levada de ambulância.

Se não fosse por alguma alma caridosa... Beatriz talvez nem estivesse mais viva.

Gabriel nem queria pensar nessa possibilidade. E se culpava, se culpava por não ter percebido antes que aquele cheiro estranho era gás.

Ele quase não pisava na cozinha. Quando muito, esquentava alguma coisa no micro-ondas.

Se ao menos tivesse um mínimo de noção sobre essas coisas...

Ao chegar no hospital, o mesmo pronto-socorro de antes, foi recebido por médico que, ao notar seu estado de desespero, tentou acalmá-lo:

— Sua namorada foi encaminhada para uma enfermaria comum...

— Doutor! A paciente que acabou de chegar de ambulância, onde ela está?! — Perguntou Gabriel, a voz carregada de urgência.

As falas dos dois se sobrepuseram, e Gabriel parou por um instante, confuso. O médico também hesitou.

Ambulância... Ele não estava falando da mulher de cabelo cacheado?

— Ela não é minha namorada. É minha esposa. Ela está na enfermaria, certo? Qual o número do quarto? — Perguntou Gabriel, tentando controlar o tom, mas sem esconder o nervosismo.

— Mas afinal... De quem você tá falando? — O médico franziu a testa, tentando entender a situação.

Gabriel sentiu os ombros desabarem. A tensão que dominava seu corpo cedeu um pouco, dando lugar a um alívio silencioso.

— Você é parente? — Perguntou o médico.

— Sou. Sou o marido dela. — Afirmou Gabriel, firme, como se quisesse reforçar aquilo até para si mesmo.

O médico então franziu a sobrancelha, assumindo um tom mais sério:

— Você tem ideia de que, se tivessem chegado só alguns minutos depois, ela teria entrado em parada cardíaca e morte cerebral? Intoxicação por gás não é brincadeira. Dez minutos para desmaiar. Quinze para entrar em choque.

As palavras foram como socos. Gabriel ficou imóvel, engolindo o impacto.

Por pouco...

Por muito pouco, Beatriz teria morrido.

E tudo porque ele não percebeu o perigo a tempo. Porque não a levou com ele.

Beatriz foi transferida para um quarto de observação. Nenhuma visita era permitida por enquanto.

Gabriel ficou ali, parado do lado de fora, encarando-a pela pequena janela de vidro na porta.

A jovem estava pálida, com uma máscara de oxigênio cobrindo o rosto, deitada na cama. Tão frágil, tão imóvel, como se estivesse presa entre a vida e a morte.