Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 8

Aquele jeitinho frágil e choroso de Vitória fez Gabriel recobrar o juízo na hora. Ele rapidamente se aproximou para consolá-la:

— Não é culpa sua... Não chora. — Disse ele, com a voz suave, tentando acalmá-la.

Vitória soluçava baixinho, e Gabriel a guiou até o sofá da sala, abraçando-a com extremo cuidado, sussurrando palavras doces e carinhosas.

Na cozinha, Beatriz ouvia tudo. Aquelas palavras gentis... Aquela suavidade... Ele nunca tinha usado com ela.

Mas agora... Ela já não desejava mais nada daquilo. Só queria ir embora, acabar logo com tudo.

Respirou fundo, se controlou e continuou mexendo a comida na frigideira.

O divórcio parecia muito mais difícil do que ela imaginava.

Achou que Gabriel assinaria sem pensar... Mas agora via que teria que encontrar outra saída.

Ele não a amava, isso estava claro, mas, mesmo assim, queria mantê-la presa.

E tudo aquilo, no fundo, era o preço que ela pagava pela ambição cega de dois anos atrás.

Na sala, Vitória ficou aninhada no peito de Gabriel por um bom tempo. Sentia o calor dos braços dele, a suavidade em cada palavra... Como se o tempo não tivesse passado, como se nada tivesse mudado.

Mas, se ele ainda gostava tanto dela... Por que não aceitava o divórcio?

Beatriz tinha pedido espontaneamente. Era o momento perfeito.

Vitória levantou os olhos, encarando o rosto dele. As palavras ficaram presas na garganta, não ousou perguntar.

Se perguntasse, romperia a imagem da mulher compreensiva e doce que ela tanto se esforçava para manter.

Acima dela, Gabriel acariciava suas costas, mas o olhar estava distante, perdido.

Beatriz... Havia pedido o divórcio. Com tanta frieza, tanta indiferença.

Um incômodo apertava o peito dele. Sentia algo escorregando por entre os dedos.

Por um momento, a insegurança o consumiu. Mas logo se obrigou a manter a calma, apertando os punhos com força.

"Ela me ama demais", pensou. "Ela nunca teria coragem de me deixar. Só tá querendo chamar minha atenção."

Meia hora depois, com quase tudo pronto, Beatriz estava terminando os últimos detalhes quando Vitória apareceu na cozinha.

— Bia, deixa que eu levo os pratos para mesa. — Disse, fingindo gentileza.

— Não precisa. — Respondeu Beatriz, fria, sem olhar.

O canto da boca de Vitória se curvou num sorriso cínico.

Pelo canto do olho, viu um pedaço da roupa de Gabriel na porta da cozinha. Perfeito.

Aproximou-se, fazendo questão de pegar o prato mais pesado: carne de porco ao molho, recém-saída da panela, quente demais.

Esticou o braço por cima de Beatriz, de propósito.

Beatriz tentou recuar para não ser atingida, mas, no exato momento, o prato escorregou das mãos de Vitória.

A carne e o molho ferventes caíram direto no pé de Beatriz.

A dor foi tão intensa que lágrimas encheram seus olhos na mesma hora. Ela ainda nem tinha conseguido gritar, quando...

— Aaaaaah! — Vitória foi quem soltou o berro primeiro. — Minha mão! Tá sangrando!

Gabriel entrou correndo na cozinha em questão de segundos.

E o que viu o deixou transtornado, Beatriz estava com a faca levantada, parecendo ter acabado de atacar a mão de Vitória de propósito.

— Beatriz! — Gabriel rugiu, furioso. — Tentativa de assassinato é crime! Você quer ir presa?

Ele gritou, descontrolado, e a empurrou com força.

Beatriz já estava com o pé queimando de dor, e o empurrão a fez perder o equilíbrio. Bateu o corpo no canto da parede e caiu sentada no chão, sentindo o impacto direto na base da coluna, o cóccix, que ainda não tinha se recuperado da última lesão.

A dor foi tão aguda que ela não conseguiu conter o choro. As lágrimas vieram pesadas, junto com soluços engasgados.

Gabriel, abraçado a Vitória, já a levava até a porta quando ouviu o choro abafado. Instintivamente, virou o rosto... E viu Beatriz caída no chão, com pedaços de comida espalhados pelo corpo e o pé inchado e avermelhado.

— Tá sangrando muito! — Vitória chorava alto, num pranto dramático que parecia cortar o ar.

O choro dela puxou Gabriel de volta para a realidade. Ele a levou rapidamente até o sofá e começou a procurar o estojo de primeiros socorros.

Quando finalmente olhou o ferimento... Era apenas um pequeno corte, menor que uma marca de unha.

Passou um algodão para limpar, e o sangue parou de sair na mesma hora.

— Eu... Eu tenho tanto medo de dor... Você sabe disso, né, Gabi? — Vitória fungou, fazendo beicinho, os olhos marejados.

Gabriel colocou um curativo no dedo dela, sentou-se ao lado e a abraçou forte.