Albert Larsen não conseguia recordar de algum dia estar tão ansioso ao voltar para casa. Ainda que seus sobrinhos não gostassem dele não podia conter o ânimo de os ver e levaria presentes, doces tradicionais dinamarqueses. Saiu o mais cedo possível do escritório o que surpreendeu toda sua equipe. Faltava dois dias para terminar de resolver os problemas ocorridos em sua ausência, provavelmente no dia seguinte sequer pudesse retornar para casa, um surto de alguma coisa pesou no peito dele. Sua surpresa ao chegar, ela estava vazia. Não havia sinal de Nicolas, Eliza ou Sophie.
— Axel, onde estão todos? — Perguntou ao mordomo.
— Meu Lorde! — Disse o homem surpreendido. — Veja bem, o... o... senhor chegou cedo. Olhe a hora três da tarde. — Albert apenas ergueu uma das sobrancelhas de forma condescendente.
— Senhorita Sophie recusou-se de... como posso explicar?
— Diga de uma vez. — Ordenou impaciente.
— Ora, deixamos que dormissem à vontade como o senhor nos instruiu, já passava do meio-dia quando acordaram e bem, senhorita Sophie recusou o baquete oferecido por vossa graça e saiu com as crianças.
— Ela o que? — Elevou a voz. — Como você pode permitir uma coisa dessas Axel?
— Meu senhor ela...
— O que por Deus ela pode fazer num lugar que não conhece?
— Foi para um restaurante...
Albert segurou o homem pelo colarinho numa explosão que não era comum para alguém como ele que se limitava a erguer a sobrancelha e falar firme em seu habitual tom gélido o que era suficiente para domar qualquer um com mínimo de consciência.
— E como Sophie teria dinheiro para um restaurante? Deixei bem arranjado para que não conseguisse trocar nem mesmo um real por euro dinamarquês.
— O senhor me faça o favor de se acalmar! — Axel berrou deixando Albert e ele mesmo chocado. O lorde o soltou e se recompôs a sua normalidade após pigarrear.
— Quem os acompanhou? — Perguntou seco.
— Janine os levou para seu restaurante.
ALGUMAS HORAS ATRÁS...
— Não posso aceitar. — Recusou Sophie.
— Ora, mas faço questão de lhe emprestar dinheiro, são economias minhas e nada tem a ver com o patrão e tenho certeza de que a senhorita poderá me repor após conseguir converter suas economias para a nossa moeda.
— Veja bem senhorita Sophie — Começou Axel com um tom distante e frio talvez fosse cultural a frieza dos homens desse país — entendo que esteja... aborrecida com o lorde, mas, não seja orgulhosa não por si, mas pelas crianças.
Ela olhou para seus sobrinhos que brincavam na gigantesca sala de estar, sim! estava sendo orgulhosa, não queria de forma alguma ser sustentada por aquele homem. Sabia que era infantilidade e em algum momento daquele dia teria de aceitar o fato que indireta ou diretamente precisaria passar por cima disso e ser racional.
— Eu mesma os levarei para um restaurante e minha querida — Janine segurou as mãos de Sophie diferente do marido ela era gentil e atenciosa — Não sinta vergonha em aceitar ajuda eu também precisei de muita ajuda quando cheguei nesse país e se tem algo que a vida me ensinou é que precisamos de pessoas.
Por mais que detestasse toda essa ideia precisava fazer o que era melhor para seus sobrinhos, eles não podiam passar fome e não é como se não fosse ressarcir a mulher. Sabia que essa era uma ideia idiota, no fundo apenas estava fazendo birra, precisava mesmo sair daquela casa nem que fosse por algumas horas.
— Você está certa Janine e será bom para as crianças apreciar novas paisagens.
— Isso! — A mulher esboçou um sorriso angelical entusiasmado — Vamos para o carro em vinte minutos
Sophie estava no jardim da propriedade junto as crianças.
— Poxa tia Sosô, esse lugar é mesmo incrível! — Exclamou Nicolas maravilhado. — Posso correr um pouco?
— Não meu amor, essa não é a nossa casa e além desse lugar ser grande e desconhecido corre o risco de você se perder.
— Nicolas! esqueceu de que estamos na casa daquele cara? — Falou Eliza impaciente. O menino abaixou a cabeça parecendo murcho.
— Tem razão, quando vamos voltar para nossa casa tia Sosô? — Ele perguntou. Sophie agachou, segurou ambas as mãozinhas do menininho que olhava para ela com olhos inseguros e ansiosos.
— Logo, logo, meu amor eu prometo que estaremos no nosso lar. — Ela o beijou no rosto e Eliza a abraçou por trás Nicolas sorrindo se jogou aos braços da tia e caíram os três rindo no chão.
— Che vista maravigliosa! — Exclamou Janine, pronto eles se levantaram já não mais rindo.
— Você fala italiano? — Perguntou Sophie.
— Sou natural de San Marino, senhorita.
— Che Bello! — Exclamou Sophie.
— Vamos comer agora tia? — Perguntou Eliza.
Antes que Sophie pudesse responder, Janine antecipou-se.
— Mas é claro bambini, venham o carro já está nos esperando.
No carro, se é que dava para chamar assim, a mesma limusine média preta de outrora, porém dessa vez não era Axel no volante e sim um tal de Desmond uniformizado de roupa social preta. Nicolas estava mais eufórico com o automóvel e a paisagem do que ela podia imaginar que aconteceria no fundo causava certo desconforto em Sophie. Janine sorriu para ela.
— Diga-me Janine, onde aprendeu tão bem meu idioma, já que é italiana? — Parando para pensar, o mordomo e até mesmo Albert falavam português brasileiro o que não era tão comum.
— Ah! logo que o patrão soube da partida de seu irmão para o Brasil todos os funcionários de todas as propriedades foram instruídos a aprender o idioma, é certo de que ele pagou professores para todos nós. — Sophie sentiu-se surpresa, com qual intuito ele fez isso?
— Acredito que tenha achado estranho, ora, lorde Larsen não é homem mau...

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Farsa de amor com o marquês