Filha da Lua romance Capítulo 4

As aulas começaram. Sol chegou atrasada e não olhou na minha cara. Tentei puxar assunto, mas foi em vão... Agora que estamos na última aula, vou esperar acabar e perguntar para ela o que aconteceu.

O sinal bate e estou esperando todos saírem na sala. Percebo que Sol também está esperando; pois guarda o seu material calmamente enquanto todos saem apressados.

- Ele nem precisava contar não é Estela? Vendo hoje de manhã ficou claro  que ele falou a verdade, eu desconfiava de todos, mas logo você?

- Do que você está falando? Como assim, ficou claro? - Não estou entendendo o que ela está querendo dizer com isso.

- Vai se fazer de santa agora?! Não cola mais! Meu irmão pegou você ontem e hoje me mostrou que era realmente verdade, você estava traindo meu irmão!

Isso me choca de uma maneira que não sei explicar. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas e caindo pela minha face...o que o Pedro disse para ela afinal?

- Como assim Sol? Eu traí o seu irmão?! Foi ele que me traiu! Ele mentiu para você...eu...nunca trairia ele e nossa amizade por ninguém...Era meu pai e seus amigos, meus amigos. Ele apareceu ontem, depois de anos. Veio me visitar e quis me trazer na escola...O cara que você viu é o Gastón, ele é como um filho para meu pai, e apenas veio me entregar o meu celular que eu esqueci no carro...

- Diga o que quiser... Meu irmão está mal por sua culpa! Agora eu tenho que ir, espero nunca mais precisar falar com você! Não sou amiga de pessoas falsas...

Dito isso ela sai pela porta me deixando aos prantos no meio de uma sala vazia. Tento me controlar, mas não adianta... O choro só aumenta.

Assim que me acalmo um pouco mais, saio e encontro o Gastón encostado no carro. Percebo que vários alunos que ainda não foram embora me encaram... quero sumir desse mundo!

- Seu pai não pode vir, mas falou que vai nos encontrar daqui a uma hora.

Apenas concordo e entro no carro, penso que minha vida desmoronou do dia para à noite. No entanto, pelo menos a Sol eu tinha certeza que ficaria ao meu lado, mas ela se mostrou não ser a amiga que eu imaginava.

- Pra onde? - Pergunta me encarando.

- Pra Marte... pode ser ?! - Digo me encostando no banco. Eu realmente quero sumir.

- Sei um lugar perfeito! - Diz saindo para a rodoviária.

A viagem não é longa, mas me faz relaxar por, pelo menos, um minuto. Não quero mais voltar. Quero ir para um lugar onde ninguém me conheça! Quero ir embora de Torstal... Sol e eu fizemos tantos planos juntas e agora foi tudo embora.

- Chegamos... - Diz Gastón interrompendo meus pensamentos.

Olho em volta e percebo que estamos em frente à um penhasco.Saio do carro e posso ver o horizonte. O pôr do sol daqui deve ser muito bonito. Olho em volta e percebo que há vários carros parados observando a vista, outros tiram fotos...

- Seu pai que me mostrou esse lugar assim que me conheceu - Diz Gastón se encostando no carro - Ele dizia que como não podia te ver, vinha até aqui e imaginava como você estava... acho que assim matava a saudade.

Meu pai estava tão perto de mim e nunca soube. Eu sempre quis tê-lo presente em várias ocasiões...

- E sua família? --- Pergunto sem fita - lo.

- Eu não tenho família... morreram há muito tempo.

- Sinto muito... eu não...

- Tá tranquilo, já faz anos...

Ficamos lá mais de uma hora e então decidimos voltar para encontrar meu pai. Na verdade, eu não queria voltar para casa. Por mim, eu iria para outro lugar... eu... iria morar com ... MEU PAI!

- Isso!! --- Grito assim que a ideia passa pela minha cabeça.

Gastón assustou com o meu grito e isso me faz sorrir...

- Desculpa... é que tive uma ideia muito boa!

- Que tipo de ideia maluca passou na sua cabeça ?!

- Você vai ver! --- Digo toda empolgada.

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- Mas papai... por quê ?! - Lágrimas já escorriam pelo meu rosto.

- Estela... minha filha... eu não posso. Quem sabe o ano que vem, hmm? Mas agora não.

- Por quê?! Eu vivi até agora com minha mãe, e você não sabe o inferno que foi. - digo me explodindo - Sabe o que é toda semana tem um novo padrasto? Cada um mais chato que o outro! Teve alguns que até tentaram fazer coisas comigo, e ela... - Digo apontando para minha mãe que acaba de chegar - Ela... ela... apenas olhava e não fazia nada!

Não acredito nisso! Quando contei que iria embora com o meu pai, ele virou uma outra pessoa, dizendo que não. Desde então estou tentando fazer a cabeça dele, mas parece que eu nem sequer consigo chegar perto do seu coração.

- Papai eu juro... que eu não vou dar trabalho algum. Afinal, eu já tenho dezessete anos. Eu só vou estudar e posso até trabalhar se você quiser! Só me tira dessa cidade...

- Estela... - ele se aproxima e me abraça - O que posso fazer? Aí meu Deus....

- Me leva junto... por favor! - nessa hora soluços saem da minha boca de forma descontrolada.

Todos ficaram em silêncio na sala. Gastón e Paulo apenas observam a situação. Minha mãe me encara assustada por eu ter desabafando tudo. Sei que ela está magoada comigo, mas eu não posso ficar aqui. Antes eu tinha alguém pra me socorrer das loucuras dela, mas agora eu não tenho ninguém. Estou completamente sozinha.

- Vamos fazer o seguinte... vá dormir e eu conversarei com sua mãe pra vermos o que fazer com você. - diz meu pai me abraçando e dando um beijo em minha cabeça. - Agora pare de chorar que isso me machuca muito! Ver você nessa situação me dá vontade de chorar junto.

- Ok... mas promete que vai pensar no assunto?

- Prometo! Agora vai pro seu quarto.

Subo correndo as escadas. Sei que ele vai deixar, não posso pensar negativo.

Como está ficando tarde, decido deixar minha mala pronta. Não importa o que eles decidam, eu irei embora dessa cidade e isso ninguém vai impedir!

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