Improvável romance Capítulo 27

|KAYRA|

A primeira coisa que faço ao chegar em casa é ir retirando a roupa pelo caminho e jogando no chão, ao seguir diretamente para o banheiro na intenção de tomar uma boa ducha para retirar todo e qualquer vestígio que ainda possa restar daquele ser humano, por mais que ele não tenha agido como um, do meu corpo e de todo o meu sistema.

Sai de mim, olhos azuis! Eu o repreendo mentalmente com um menear de cabeça como se o expulsasse para longe, mesmo que ele não esteja presente fisicamente aqui agora.

Não quero que nada reste dele mim. Nenhuma grama, nem um mínimo toque, nem suas marcas ou sequer o cheiro horrível de seu sabonete que me fez gozar na última vez em que estivemos juntos e acordados...não que eu fique me lembrando desse fato em específico, é claro. E bom, talvez não seja tão horrível assim o cheiro daquele sabonete em especial, talvez seja só um pouquinho... ah, mas que merda é essa que eu estou pensando?

Alô, Kayra Pextton?! Vê se toma vergonha nessa cara e para de ficar lembrando de safadeza, mulher! Olha o que aconteceu contigo da última vez em que pensou com a parte errada do corpo que não fosse o cérebro, e veja no que deu, sua tonta tarada! Desperta para a vida real e volte a se concentrar somente em seu trabalho no hospital, que não será nada fácil a sua volta amanhã, ou também tente distrair seus pensamento com coisas sem importância como por exemplo, em que tipo de furada suas duas amigas malucas, Andy e Marie, devem ter caído na noite de sábado após seu sumiço repentino, e que talvez esteja te trazendo uma leve sensação de arrependimento nesse instante. É o que digo a mim mesma.

Verdade seja dita, eu realmente estou furiosa com o que aconteceu, muito para ser sincera, mas como sei que tenho que lidar com isso e seguir em frente de cabeça erguida, resolvo enterrar essa história mal resolvida no passado e não ficar remoendo tudo de novo, pois sei que isso só irá machucar apenas a mim mesma, a única atingida e prejudicada no final dessa história.

Eu não me arrependo de ter matado meu desejo na madrugada de sábado como meu corpo pedia e eu desejava, somente me arrependo ter bancado a lerda e dormido na cama de um desconhecido qualquer, sem prestar a atenção as quatro regras essenciais que sempre levei comigo para a vida...

Primeira: não se arrependa de nada do que fizer, se eu vou fazer algo, que seja feito direito; segunda: nunca passe vontade, se quero alguma coisa eu vou lá e pego; terceira: viva intensamente; quarta e a mais importante: nunca durma na cama de um estranho depois de uma noite quente de sexo. É como diz aquele velho ditado: "comida no papinho e pé no caminho", pois nunca se sabe quem é o indivíduo com quem dividimos a cama hoje em dia. Então a regra é clara: comeu e gozou? Cai fora logo!

Mas eu fui bem estúpida e caí no golpe.

O golpe calculado do banho quentinho, gozar no chuveiro, uma cama macia, e um corpo gostoso para me abraçar por trás, para que meus membros, já cansados depois de tamanha atividade física, ficassem molinhos, molinhos, como gelo derretido no fogo. Foi questão de meros segundos para que eu despencasse no colchão sem oferecer a menor resistência, e sucumbisse ao mundo dos sonhos. Eu apaguei por completo. E vou falar uma coisa, eu dormi pesado, feito uma bloco de cimento. Pelos céus, eu realmente estava bastante exausta depois da maratona de sexo quente que tive com o loiro.

Mas a verdade é que eu deveria ter tomado um banho gelado, colocado meu vestido de volta no corpo e partido dali sem olhar para trás. Porém fui fraca aos desejos da carne e paguei o pato por esse motivo horas depois. Contudo, não adianta mais chorar pelo leite derramado. O que passou, passou. Agora eu estou de volta a minha zona de conforto, ao meu ambiente habitual ao qual eu tenho o total controle de tudo, e nada pode estragar isso. Eu estou sob o comando das rédeas novamente. Tudo ficou para trás apenas como um acontecimento ruim, o qual não voltará a se repetir nunca mais.

Graças aos céus eu não serei obrigada a ver novamente a face sem vergonha e descarada do loiro na minha frente outra vez, e nem terei que lidar com a sensação de ira e revolta que sinto borbulhar no meu estômago só de pensar algo a respeito dele. Eu estou bem agora. Sem crise, sem choro, sem lamentações e longe de tudo o que o envolve, como deve ser. É o que concluo por fim, e desligo o registro do chuveiro quando percebo que alcancei meu objetivo inicial: me livrar do cheiro do senhor olhos azuis que estava impregnado em cada célula da minha pele como um vírus resistente.

Agora eu estou bem mais leve, mais limpa e certamente mais livre. Não há mais nada dele que reste em mim, para que consiga manchar minha honra ou ferir meu orgulho. Sou a mesma boa e velha Kayra de antes dele passar na minha vida.

Não há nada como um belo banho para resolver os problemas, expelir as más energias e restaurar o humor de qualquer pessoa. É o que penso comigo mesma ao me secar na toalha de algodão, e em seguida me enrolar no roupão fofinho que adoro usar quando quero me mimar um pouco em certas situações, e sigo em direção a cozinha para preparar um café forte para tomar.

Mesmo que minha vontade seja de abrir uma nova garrafa de vinho e entorná-la na boca até esvaziá-la por completo, eu resisto firmemente a essa tentação e coloco para preparar o líquido escuro na cafeteira elétrica, pois sei que preciso urgentemente de uma grande dose de cafeína no meu sistema nervoso para ficar mais esperta. Coisa que não fui ultimamente.

Amanhã será um grande dia, cheio de desafios e provações, e por essa razão eu preciso estar bem atenta, disposta, sem uma gota de álcool no sangue e nem um sintoma de dor de cabeça causado por ressaca pós bebedeira. Então, quando o café fica pronto eu encho uma enorme caneca até a borda, espero o líquido esfriar por alguns segundos, e mando para dentro uma grande golada que promete me reenergizar para o futuro que terei que encarar nas próximas horas.

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