|KAYRA|
Encegueirada de ódio, rancor, e com os frangalhos da minha dignidade enfiados no bolso, saio daquela mansão soltando fogo pelas ventas, e jurando a mim mesma que jamais cruzarei o olhar novamente com o sujeito covarde que havia me usado e metido o pé sem ao menos me avisar como gente civilizada faz, e também de seu comparsa estúpido e arrogante na mesma proporção, que agiu de um modo horrível comigo .
Nunca mais, eu juro, nunca mais eu piso meus pés nessa região dos infernos!
Eu prefiro morrer do que voltar num lugar que somente trouxe raiva e humilhação para minha vida. Bem, é claro que também me proporcionou muitas horas de diversão e prazer antes da merda toda explodir no dia seguinte. Contudo, esse pequeno e insignificante detalhe não faz a menor diferença nesse momento enquanto estou caminhando com os pés descalços, a trajetória do vexame, pelo asfalto quente, com o coração pulando feito um louco dentro do peito, o suor começando a correr pelo pescoço, testa e costas, devido o calor absurdamente quente do sol que brilha com todo vigor do horário de meio dia, como se não se importasse nenhum pouco com a situação de vergonha na qual me encontro agora.
Ele continua lá, pouco se lixando para mim, na força máxima de seu esplendor e me fazendo suar feito uma chaleira em ebulição no fogo alto.
Não sei por quanto tempo ando com a sola dos pés queimando, porque me recuso a calçar os saltos altíssimos outra vez, pois certamente iriam me impedir de caminhar com mais tranquilidade. Talvez tenha sido metros ou talvez quilômetros, eu não sei ao certo, até chegar ao estacionamento onde havia deixado minha moto estacionada na noite anterior, mas enfim, após um certo tempo eu consigo chegar.
Não foi tão difícil encontrar o lugar novamente, mesmo que seja em um bairro o qual eu nunca havia frequentado antes, contudo também não foi a coisa mais fácil de se fazer no mundo. Porém, os minutos ou horas que levei para chegar aqui foram de alguma forma bastante proveitosos, pois me deram um tempo para remoer e processar em minha cabeça todas as coisas que me aconteceram até o momento.
Eram muitas informações, muitas questões internas, muitas palavras negativas e sentimentos conflitantes que borbulhavam dentro de mim e que queriam explodir a qualquer segundo. E então por fim tudo explode como uma bomba, imprevisível e incontrolável, no instante em que paro diante da minha moto, sobre a sombra de uma velha árvore frondosa, e caio de joelhos no chão sem forças para continuar me contendo.
Sem ninguém a minha volta para testemunhar meu momento de vulnerabilidade, eu choro copiosamente. Deixo as lágrimas rolarem sem controle por meu rosto e pingarem no chão, com o coração em pedaços e sangrando. Eu estou tão ofendida e magoada nesse exato segundo que nem sei colocar em palavras o que estou sentido com precisão, se alguém me perguntar.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Improvável
Amei...