Improvável romance Capítulo 41

|KAYRA|

-Com toda certeza, vossa majestade. Eu garanto absolutamente que o rei não poderia estar em melhores mãos dos que as minhas. Sei que posso realizar um ótimo trabalho se chegarmos a um consenso ao final dessa reunião.

Eu afirmo com total confiança em minhas habilidades, tendo plena consciência de que existe sim muitos médicos bons espalhados por aí fora, mas também existe eu, a mais competente em minha especialidade, ou certamente não teria sido escolhida como uma opção a ser considerada pela assessoria pessoal do rei para ser a médica responsável pelo seu tratamento.

Mesmo assim, não deixo de sentir uma leve sensação de apreensão quando os olhos incrivelmente azuis da rainha me fitam com certa intensidade, diretamente em meus olhos, como se quisesse enxergar o fundo da minha alma, e em apenas alguns segundos de observação descobrir todas as minhas reais intenções e segredos mais ocultos.

As crianças que parecem estar enlouquecidas dentro de mim como se estivem em um incrível parque de diversões, não param quietas por um segundo sequer, fazendo com que eu fique com um pouco de falta de ar e comece a trocar respirações curtas para tentar controlar as dores e o desconforto que os movimentos frenéticos dos dois limõezinhos estão me proporcionando internamente.

Por favor, meus limõezinhos... ajudem a mamãe um pouquinho. Parem de dar cambalhotas e me chutar tanto assim. Senão daqui a pouco eu vou ter que sair de cadeira de rodas por não conseguir andar de tamanha dor. Eu suplico mentalmente para os dois em meu ventre num breve fechar e abrir de olhos, contudo, o casal de sapecas pouco parecem se importar com minhas palavras ou súplica, e continuam girando e chutando da mesma maneira minha barriga.

-Porém, antes que a senhora tome uma decisão e aceite que eu seja a médica responsável pelo caso do rei Dominik, peço que primeiro eu tenha uma reunião em particular com o paciente e depois com a sua família, sem a presença que considero desnecessária dos demais presentes nessa mesa, como os integrantes do conselho do hospital e os assessores da realeza também, obviamente.

-Doutora Pextton...

O diretor do hospital protesta um tanto contrariado em tom de voz baixo ao meu lado, mas eu não me importo. Essa é a minha condição para aceitar o trabalho, ter uma conversa bastante franca e particular com o paciente e sua família para deixa-los totalmente a par dos riscos, e das garantias que tenho a oferecer, inclusos nos procedimentos necessários.

-Acredito que tenha pessoas demais aqui para que o primeiro passo seja dado e se chegue a uma decisão definitiva. Então peço por favor que a senhora considere a minha proposta.

-Tudo bem, não vejo problema nisso. Todos os presentes, exceto a doutora Pextton, deixem a sala de reuniões agora.

Ela diz e com um simples gesto elegantemente discreto de cabeça em direção a porta, seus assessores e demais pessoas que estão aqui, imediatamente se levantam de suas cadeiras e começam a deixar a sala um a um em tempo recorde, como meras ovelhinhas mudas e obedientes, sem protestar uma única palavra, até que por fim ficamos a rainha e eu a sós no local.

Com um olhar intransponível, afiado e incrivelmente azul, Dianna Callaham, a rainha de Bullut se ergue de seu assento e começa a caminhar em minha direção sem dizer uma palavra com os lábios, mas com um olhar imponente que diz tudo, e faz com que minhas pernas tremam levemente por debaixo da mesa.

-Fui informada de que estava grávida no relatório que recebi ao seu respeito, doutora Pextton. Mas acho que deve ter havido algum erro no meio das várias informações, pois não imaginava que a senhorita já se encontrava em um estágio tão avançado.

Dianna diz analisando-me atentamente dos pés a cabeça com um semblante extremamente indecifrável no rosto, que não me permite deduzir o que ela está pensando nesse momento.

-E isso é um problema para a senhora? Que eu esteja grávida? Com todo respeito, majestade, mas eu ainda continuo sendo a mesma médica de sempre. A gravidez não afeta em nada as minhas habilidades profissionais, isso eu posso garantir com toda certeza a senhora.

-Doutora Pextton, como não quero que a senhorita interprete mal ou precipitadamente alguma das minhas falas durante a nossa conversa, eu irei esclarecer o que quis dizer com o comentário que fiz agora pouco para que não haja outros desentendimentos entre nós, ok? Em nenhum momento coloquei em questionamento sua competência como profissional apenas pelo fato de estar grávida.

Ela se explica de modo firme, fazendo com que eu me sinta como uma adolescente prestes a ser reprendida pela mãe por alguma besteira que cometeu. Entretanto eu não digo nada, somente continuo ouvindo-a para ver aonde pretende chegar com isso.

-Minha preocupação, é que observando o estágio avançado da sua gravidez, que parece estar próximo do parto, a senhorita entre de licença médica e não possa dar prosseguimento até o final do tratamento do rei e, dessa forma, tenha que transferir o caso para outro médico mais uma vez, e assim haja perda de tempo, coisa que minha família não dispõe na atual situação em que se encontra.

No mesmo instante sinto meu rosto queimar de vergonha por talvez tê-la julgado tão rápido, não pensando no seu lado como familiar do paciente, mas apenas como a rainha, uma pessoa política e distante que está a minha frente.

Merda!

Que mancada acabo de dar! É o que penso comigo mesma e tento bolar uma saída rápida para me consertar diante do deslize feio que acabo de cometer. Todavia, nada parece chegar a minha mente que parece anestesiada pelo embaraço da situação em que me meti por ser uma pessoa meio impulsiva as vezes.

-Me perdoe, majestade. Por um momento eu... eu...

Gaguejo sem graça e sem palavras, me inclinando um pouco para frente quando sou atingida por um forte chute de um dos meus pequenos, mas ela me interrompe com uma mão estendida no alto.

-Sem problemas, doutora Pextton. Eu compreendo perfeitamente a sua situação. Não é fácil se impor como mulher seja meio de trabalho ou na política. Ainda vivemos em um mundo cheio de mentes retrógadas e machistas. Mas este não é o nosso caso agora, não é mesmo? Somos duas mulheres diferentes, mas que sabem os lugares a que pertencem.

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